Foi espetacular a final da Copa do Mundo da Rússia.
O 4 x 2 para a França em cima da Croácia foi o resultado de um jogo elétrico, franco e de muita qualidade.
Foi, de longe, a melhor atuação da Croácia no torneio. Começou o jogo ficando com a bola, impondo o seu ritmo e rondando perigosamente a área francesa.
Somente aos 16 a França conseguiu aproximar-se da meta do goleiro Subasic, com o primeiro drible bem-sucedido de Mbappé, mas a zaga cortou o passe dentro da área.
No minuto seguinte sairia o gol. Após dominar uma bola na intermediária de ataque, Griezmann, percebendo-se cercado de croatas, deu um tapinha para a frente e, malandramente, dobrou as pernas um instante antes de estas serem atingidas pelo marcador.
Griezmann colocou a bola na área com o capricho e técnica característicos de sua perna canhota. Assim como nas quartas e na semi, a bola acabou no fundo do gol. Desta vez, contudo, a pelota não encontrou a cabeça de nenhum companheiro, mas Mandzukic, o centroavante croata, desviou de leve e matou o goleiro Subatic.
O 1 x 0 tinha tudo para ser um balde de água fria no bom início de jogo da Croácia, mas meros 10 minutos depois Perisic deixou tudo igual com um golaço. Modric cobrou uma falta na segunda trave e, após 3 cabeçadas de jogadores croatas, o zagueiro Vida escorou, como se fosse um pivô, para Perisic. O habilidoso camisa 4 dominou com a direita já limpando o marcador e soltou um potente canhotaço, que fez uma curva para fora e morreu na rede de Lloris. O 1 x 1 fazia justiça ao excelente primeiro tempo do time quadriculado.
Logo em seguida, Perisic despencou do céu diretamente para o inferno.
Poucos minutos depois, aos 36, ele cortou com a mão um escanteio cobrado por Griezmann. O árbitro não marcou nada mas, diante da estridente reclamação francesa, foi rever o lance na televisão e, após alguns bons segundos de hesitação, marcou corretamente a penalidade. Griezmann bateu com categoria, rente à grama, e colocou a França de novo na frente.
A Croácia jogou muito mais que a França no primeiro tempo e voltou do intervalo disposta a colocar justiça no placar. Logo aos 2 minutos, Lloris teve que trabalhar, fazendo uma defesa difícil após chute forte do incansável Perisic.
A França não conseguia ficar com a bola mas mostrou, aos 6, que seu contra-ataque continuava afiadíssimo. Após bela enfiada de Pogba para Mbappé – jogada que se repetiu ao longo da Copa, com alto índice de aproveitamento – o camisa 10 ganhou – óbvio – na corrida de Vida e bateu para a defesa de Subasic.
Aos 9 tivemos a jogada política da partida: 4 pessoas vestidas de policiais invadiram o gramado. O grupo punk feminista Pussy Riot assumiu a responsabilidade pela invasão. A banda teve 3 de suas integrantes presas em 2012 por realizar um protesto contra Putin dentro de uma igreja.
Aos 13, a França marcou o seu terceiro gol, com Pogba.
O lance começou com um estupendo lançamento do próprio Pogba – mais um para Mbappé. O camisa 6 deu o passe longo com a bola no ar, colocando-a na medida para o camisa 10. Mbappé dominou, deu uma balançada e levou pro fundo, fazendo dois defensores acompanharem o seu movimento. O passe para dentro da área foi, inteligentemente, para trás. Griezmann posicionou-se corretamente e, com 3 toques na bola (dominada, ajeitada e escorada), encontrou Pogba, que começara a jogada.
Ele chutou de primeira, a bola bateu na zaga e voltou para o próprio Pogba, que emendou novo chute de primeira, desta vez com a perna “ruim” e com o lado do pé. O chute foi certeiro, no canto direito de Subasic, que não pôde fazer nada.
A jogada do terceiro gol é uma boa ilustração do porquê o título ficou com a França e não com a Croácia.
O time de Modric teve muito mais chances e dominou boa parte da partida. Entretanto, suas jogadas se resumiram, basicamente, a algumas boas trocas de passes no meio de campo e cruzamentos da intermediária para a área – como foi, aliás, em toda a Copa. Nada muito bem trabalhado, mais pulmão do que inspiração.
A França, apesar de não apresentar um jogo vistoso e não envolver o adversário, acaba produzindo verdadeiras obras de arte futebolísticas com sua estratégia – também usada quase em todos os jogos do torneio – de atrair o adversário para explorar a velocidade estonteante de Mbappé nos contra-ataques.
E isso só é possível graças à qualidade absurda do trio de craques francês: Pogba, Griezmann e Mbappé. O terceiro gol da final, que praticamente selou o título da França, foi construído totalmente pelo trio e parece uma homenagem dos deuses do futebol ao talento e à técnica apurada. Bonito de ver.
A Croácia sentiu o baque e na sequência, aos 19, tomou o quarto gol. Após bela jogada do lateral esquerdo Hernández, Mbappé recebeu o passe na entrada da área e precisou de diminutos tempo e espaço para chutar forte e seco, no canto direito do gol croata. O disputado jogo virou, em pouco tempo, uma goleada francesa. 4 x 1.
Lloris ainda cometeu um erro monstro, aos 23, entregando o segundo gol para a Croácia ao passar bisonhamente a bola, permitindo que Mandzukic a rebatesse para dentro do gol.
Não havia, contudo, mais nada a ser feito. A Croácia ainda tentou pressionar mas o placar da final da Copa de 2018, uma das melhores finais de todos os tempos, acabou mesmo em 4 x 2 para a França.
A Croácia não apresentou um futebol de encher os olhos – longe disso – mas fez a melhor campanha de sua história mostrando uma fibra absurda, ao passar por 3 prorrogações no mata-mata, e tendo uma bela atuação no jogo final.
A França, por sua vez, não fez uma boa partida na final mas foi premiada pela grande Copa do time: apresentou uma alta consistência e segurança defensivas; acertou na estratégia de jogar mais no contra-ataque quando o jogo permitisse; e contou com a habilidade, a inteligência e a grande fase de seus três melhores jogadores.
Pogba e Griezmann controlaram o ritmo de grande parte das partidas da França, comandando as ações no meio de campo com seus passes refinados. Ambos muito raramente perdem a bola.
Mbappé, eleito o melhor jogador jovem da Copa e, para este que vos escreve, também o melhor jogador geral – o prêmio foi dado a Modric – foi o tormento das defesas, com sua velocidade, habilidade, força, técnica e inteligência invulgares.
A França junta-se a Uruguai e Argentina no rol de bi-campeões do mundo com toda a justiça.