O jogo de alianças eleitorais permanece imprevisível.
O PSB, ciente de que o seu apoio pode ser o fiel da balança, continua determinado a praticar a estratégia do máximo tensionamento, sinalizando para um lado e para outro.
Não se pode negar que é uma estratégia inteligente, porque eleva o preço do partido, e ele não perde nada com isso.
Ciro Gomes esteve em Recife ontem para conversar com Paulo Câmara, governador do estado, para tentar quebrar-lhe a resistência do PSB local em apoiá-lo.
Gleisi Hoffmann esteve com mesmo Câmara hoje, tentando convencê-lo a se aliar ao PT, e conseguiu fazê–lo declarar apoio a Lula. Trecho de matéria publicada há pouco no Estadão:
RECIFE – O governador de Pernambuco e vice-presidente nacional do PSB, Paulo Câmara, declarou nesta quinta-feira, 12, que apoiará a candidatura do ex-presidente Lula, condenado e preso pela Operação Lava Jato, mesmo que o PT tenha candidatura própria ao governo do Estado. O apoio ao petista foi declarado após um café da manhã de Câmara com a presidente nacional do PT, Gleisi Roffmann, no Palácio do Campo das Princesas.
A posição de Câmara era esperada. O governador precisa do eleitor lulista para se reeleger. Como Lula corre o risco de ter seu registro cassado, ele poderá dizer ao eleitor que “apoiou Lula até o fim”.
O PSB age como uma noiva cobiçada, que recebe os pretendentes e os trata de maneira imparcial, com objetivo de aumentar a oferta do dote.
Interessa, portanto, à legenda, plantar notinhas na imprensa que acentuem o grau de incerteza. O PSB precisa do mistério.
Reproduzo trecho de nota publicada no Painel da Folha de hoje:
Michel Temer e PT tentam demover o centrão de apoiar Ciro Gomes
Alvo comum Ciro Gomes (PDT) conseguiu o improvável: colocou Michel Temer e o PT militando por uma mesma causa. O flerte de partidos do centrão com o pedetista levou o presidente a se engajar pessoalmente na tentativa de demover siglas como o PP e o DEM de embarcarem na candidatura do presidenciável que o chama de “quadrilheiro”. O PT fez o mesmo. Procurou dirigentes do Progressistas, do PSB e do PR para falar contra uma aliança com Ciro. Resultado: o movimento na direção dele refluiu.
Por mim Temer falou sobre o assunto com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cacique do DEM. Ele ainda mandou seus ministros avisarem aos aliados que, para o Planalto, “qualquer um, menos Ciro”.
Autopreservação Os petistas estiveram com o presidente do PP, Ciro Nogueira, com o PSB e com Valdemar Costa Neto, mandachuva do PR. Sem Lula, temem que Ciro colha votos no eleitorado do PT, prejudicando o plano B da sigla.
Saída pela direita Nesta quarta (11), Valdemar recebeu uma procissão de políticos em Brasília. Esteve com Cid Gomes, irmão e articulador de Ciro, com dirigentes do Podemos, partido de Álvaro Dias, e com Jaques Wagner, do PT.
Saída pela direita 2 O cacique do PR deixou os interlocutores com a impressão de que tende mesmo a fechar com Jair Bolsonaro (PSL). Ele chegou a dizer a integrantes de seu partido que a ascensão de conservadores é uma tendência mundial e que com Bolsonaro tem mais chances de ampliar a bancada no Rio e em SP.
Voltei O ataque especulativo a Ciro Gomes gerou dividendos para Geraldo Alckmin, o presidenciável do PSDB. A cúpula do DEM voltou a piscar para ele, assim como a do PP.
Pela culatra A ala do DEM que é pró-Alckmin disseminou a tese de que não se deve minimizar a capacidade de Lula de transferir votos para um petista, o que minaria as chances de Ciro crescer no Nordeste.
Verdade ou não, a nota acima está circulando muito, e não me parece que seja politicamente positivo, para o PT, aparecer ao lado de Michel Temer, tentando minar a candidatura Ciro Gomes.
De qualquer forma, tudo isso parece pura intriga. São informações sem fonte, sem confirmação, sem vídeos ou aspas a corroborá-las. O campo democrático, tanto do lado de Ciro Gomes, como do lado petista, deve tomar muito cuidado para não cair nas armadilhas montadas pela direita midiática para dividir os progressistas.
Todos os partidos que não tem candidato, e que discutem o apoio a um outro partido, estão fazendo o mesmo jogo: tensionando o máximo, até o limite das convenções partidárias, para elevar o seu preço político. Ou seja, toda a movimentação do “centrão” em torno de Ciro Gomes pode ser para elevar o preço de apoio a Alckmin, assim como o jogo duro do PSB pode ser para tentar arrancar, do PDT, maior espaço num eventual governo Ciro Gomes.
Pelo jeito, os brasileiros terão de conviver com esse jogo de intrigas até a primeira semana de agosto, quando se encerra o prazo para as convenções.
O maior beneficiado dessas intrigas, do ponto-de-vista simbólico, tem sido Ciro Gomes. Aparecer, na coluna política de maior circulação nacional, como inimigo principal de Michel Temer, é um elogio importante.
Um dos editores do Intercept no Brasil, Andrew Fishman, entendeu exatamente assim:
As supostas movimentações petistas contra Ciro, por sua vez, ajudam a empurrar o eleitorado não-petista, em especial na classe média, no sul e sudeste, onde a legenda acumula uma rejeição muito alta, em sua direção.
O tensionamento deve aumentar nos próximos dias, assim como as intrigas, em função da proximidade das convenções partidárias que definirão os apoios e alianças entre os partidos.
Ao campo democrático, o que interessa, sobretudo, é que os interesses golpistas, representados por Bolsonaro, Marina e Alckmin, não saiam chancelados pelas urnas.
Com isso, espera-se que os inevitáveis atritos dentro da esquerda não fujam ao controle, de maneira a não atrapalhar a necessária aliança, no primeiro ou segundo turno, contra o golpismo e o fascismo que continuam a avançar.
A diversidade do campo democrático é sua maior força. Ciro tem feito incursões interessantes no centro político, conquistando setores perdidos pelo PT, ao passo que o PT resiste, de maneira impressionante, às investidas midiático-jurídicas contra a legenda. Juntos, somam forças para derrotar o inimigo comum: Bolsonaro.