Cafezinho na Copa: Croácia, a improvável finalista

O belo gol de falta do ala direito inglês Trippier, aos 4 minutos de jogo, pareceu prenunciar um belo jogo entre Inglaterra e Croácia, ontem, pela semifinal da Copa do Mundo.

Só pareceu.

Após abrir o placar, a Inglaterra recuou e passou a explorar uma e tão somente uma jogada, o lançamento direto para a correria de Sterling. Não funcionou.

Enquanto isso, a Croácia exibia o mesmo futebol burocrático e sonolento visto nos seus jogos anteriores – talvez com exceção do jogo contra a Argentina.

Até a genialidade de Modric – um dos melhores meio-campistas do mundo, destaque, camisa 10 e capitão do time – parece submergir no oceano de mediocridade (no sentido de “qualidade média, comum, mediana”) dos croatas.

O jogo foi se arrastando, com parcas chances de gols ou jogadas bem tramadas de lado a lado, até que, aos 22 do segundo tempo, Perisic – de boa atuação – antecipou-se a zaga após cruzamento da direita e deu uma espécie de golpe de judô na bola, com o pé esquerdo, empatando a partida.

Aos 25, o mesmo Perisic quase virou o jogo após pedalar para cima de Walker, dribá-lo e bater de esquerda para o gol. A bola bateu caprichosamente na trave.

O jovem time inglês nitidamente abateu-se com o gol sofrido e continuou insistindo nos infrutíferos lançamentos longos, apesar da boa qualidade técnica do seu meio-campo e ataque.

A Croácia, por sua vez, cresceu e passou a ameaçar a meta do bom goleiro Pickford, criando muitas chances com cruzamentos para a área.

O centroavante Mandzukic, que joga muito, quase fez ao dominar no peito e emendar para o gol, no fim do tempo normal. Era o prenúncio do que aconteceria na prorrogação.

A Inglaterra quase fez o gol aos 8 minutos do primeiro tempo, após cobrança de escanteio, mas Vrsalijko – tente pronunciar – tirou em cima da linha.

O castigo veio aos 2 do segundo tempo.

A zaga inglesa afastou um cruzamento mas a bola sobrou na cabeça de Raktic, que cabeceou de volta para a área. Ela caiu nos pés do matador Mandzukic, que chutou de canhota e sacramentou a inédita passagem da Croácia para a final da Copa.

Após sofrer para eliminar a Dinamarca e a Rússia nos pênaltis, nas oitavas e nas quartas de final, a Croácia sofreu mais um tanto para ganhar de virada da Inglaterra na prorrogação. Em comum nos três jogos a pouca inspiração dos croatas para produzir jogadas ofensivas – não dá para dizer que o time não é regular – mas também o mérito de não desorganizar jamais o sistema defensivo e manter uma atitude mental resoluta, sempre acreditando na possibilidade de buscar o placar adverso.

Instaurou-se, nas redes sociais brasileiras, a discussão sobre para quem torcer nesta final entre França e Croácia.

Se o fato da Croácia jamais ter ganho a Copa é um motivo interessante para se torcer a favor, a apologia ao nazismo de alguns jogadores e de parte da torcida croata é um pesado motivo para se torcer contra.

Este colunista prefere focar apenas na questão futebolística e, por este critério, será infinitamente mais justa uma vitória da França, que apresentou o melhor futebol da Copa ao conjugar estratégia, técnica, consistência e criatividade de forma primorosa.

A Croácia é o azarão completo: tanto a camisa – muito bonita, por sinal – quanto o futebol apresentado indicam que só um desastre tira o título dos franceses.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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