Cafezinho na Copa: França chega à final com autoridade

França e Bélgica confirmaram as expectativas e proporcionaram um belo espetáculo de futebol no primeiro jogo das semifinais da Copa do Mundo.

As equipes possuem algumas notáveis semelhanças: zaga e meio de campo povoados por jogadores com avantajado porte físico; técnica apurada na troca de passes; camisas 10 extremamente habilidosos, objetivos e, portanto, perigosos.

Com inacreditáveis 14 segundos de jogo o 10 francês arrancou do meio de campo, em um espaço improvável, rente à lateral direita, levou a bola até a linha de fundo e cruzou. Aos 5 minutos o 10 belga respondeu e partiu incisivamente para cima de três marcadores, na ponta esquerda, cruzando rasteiro e forte.

A zaga cortou ambas as jogadas mas Mbappé e Hazard já tinham apresentado seus apavorantes – para os adversários – cartões de visitas.

Apesar da derrota da Bélgica, Hazard foi, assim como contra o Brasil, o melhor em campo, apresentando-se em todas as partes do campo para tabelar e infernizando a zaga quando, normalmente na ponta esquerda, colava a bola no pé direito e partia para cima dos marcadores.

Aqui, um inevitável parêntesis: a comparação dos dois com o 10 do Brasil, Neymar. Enquanto Hazard e Mbappé são extremamente objetivos e raramente são desarmados, Neymar muitas vezes não sai do lugar, tentando cavar faltas ou provocar os adversários ao segurar a bola por tempo demais, não raro fazendo firulas inúteis e atrasando o movimento ofensivo do time. Na derrota contra a Bélgica, ele até foi mais objetivo; perdeu, contudo, bolas em profusão. Neymar tem mais habilidade – aqui me refiro à inventividade e plasticidade típicas dos craques brasileiros – que Mbappé e Hazard; uma pena que não tenha a mesma atitude mental. Fecha parêntesis.

A diferença entre os times ficou, assim como as semelhanças, bem nítida na primeira etapa.

A Bélgica trabalhava mais a bola, girando-a de pé em pé até que alguma tabela ou jogada individual de Hazard – como aos 14 e aos 18 – conseguisse penetrar o sistema defensivo azul e ameaçar a meta de Lloris.

A França, que fica muito à vontade em campo cedendo a bola para o adversário – que o diga a Argentina – recuava. Ao recuperar a pelota, tentava enfiadas e lançamentos longos, de preferência para o seu imparável camisa 10, como em um belo contra-ataque em que Pogba driblou facilmente o marcador, deu o passe em profundidade para Mbappé mas este não alcançou a bola antes do goleiro Courtuois.

A Bélgica ficou mais perto de fazer o gol no primeiro tempo, mas a França também levou perigo à meta adversária. Ambos os goleiros tiveram que trabalhar, fazendo ao menos uma grande defesa cada.

O placar em branco não durou muito na volta do intervalo.

Logo aos 5 minutos do segundo tempo, um escanteio cobrado por Griezmann, com sua refinada técnica habitual, encontrou a cabeça do zagueiro Umtiti, que antecipou-se ao grandão Fellaini e definiu o resultado da partida.

A toada do primeiro tempo intensificou-se: Bélgica com a bola e França esperando a oportunidade do contra-ataque.

O time de vermelho, entretanto, encontrou muito menos espaço para criar chances, levando perigo apenas em um chute de longe, aos 35, que Lloris defendeu. Confortável e segura na partida, a França se defendeu muito bem e ainda quase ampliou a vantagem. Aos 50, Courtuois impediu o 2 x 0 ao fazer linda defesa após chute rasteiro de Tolisso.

Foi uma grande semifinal e a França chega à decisão com todos os méritos.

Foi o time mais consistente da Copa, com boa técnica em todas as posições; uma estratégia inteligente que alterna muito bem entre os momentos de recuar para sair no contra-ataque e os de tocar a bola com paciência; e um trio diferenciado que joga sempre em alto nível: Pogba, Griezmann e, é claro, Mbappé.

Este último mostrou novamente porque, com seus 19 anos, é a sensação da Copa. Seu lance de destaque foi um passe magistral para Giroud aos 11 do segundo tempo, no qual ele recebe dentro da área e domina com a sola do pé direito, rolando a bola e deixando-a na medida para ele mesmo dar um passe de costas, com a sola do pé esquerdo, para Giroud quase conseguir a conclusão.

No fim do jogo, fez uma provocação extremamente pontual e inteligente (ao contrário das de Neymar), retardando uma cobrança de lateral da Bélgica. Ele tomou o amarelo que podia, já que os cartões são zerados na semifinal, e irritou os belgas, que perderam alguns preciosos segundos com faltas desnecessárias, movidos pela raiva e pelo desejo de vingança.

O futebol de Mbappé é uma singela combinação de explosão, técnica, velocidade, inteligência, bom passe e habilidade. Tá bom, né?

Inglaterra ou Croácia precisarão de muito suor e – mais ainda – inspiração para derrubar a favorita França na final.

 

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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