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Nem Bolsonaro foi tão aplaudido, nem Ciro foi tão vaiado, na CNI

As pessoas estão exagerando um pouco o que houve na sabatina com candidatos na Confederação Nacional da Indústria (CNI). As palmas para Bolsonaro foram cerca de dez, mas não foram tão relevantes. As vaias a Ciro, por sua vez, em relação à sua crítica à reforma trabalhista, foram pequenas, rápidas e circunscritas a um pequeno […]

30 comentários
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As pessoas estão exagerando um pouco o que houve na sabatina com candidatos na Confederação Nacional da Indústria (CNI).

As palmas para Bolsonaro foram cerca de dez, mas não foram tão relevantes.

As vaias a Ciro, por sua vez, em relação à sua crítica à reforma trabalhista, foram pequenas, rápidas e circunscritas a um pequeno grupo. Elas vieram após o candidato dizer que irá chamar as “centrais sindicais” para a mesa de diálogo.

Assistam ao vídeo abaixo.

No caso de Ciro, além das vaias serem curtas, foram seguidas de palmas. E aqui cabe um comentário: a personalidade colérica de Ciro é positivamente engraçada. Ele parece não dar a mínima para o risco de perder votos com isso. Irritado com as vaias dos empresários, ele reage elevando a voz e dizendo que “pois é, é assim que vai ser”.

Vamos a Bolsonaro.

Tive o cuidado de assistir há pouco, com um bloco de notas aberto na metade da tela, à sabatina de Jair Bolsonaro no evento da CNI. Minhas anotações podem ser vistas aqui.

https://www.facebook.com/cnibrasil/videos/2195534333797254/

Ele não foi tão aplaudido assim, muito menos foi aplaudido “de pé”. Ou pelo menos não vi ou ouvi isso no vídeo disponibilizado pela CNI. Se alguém que participou do evento viu palmas mais efusivas, relate por aqui.

E nem sempre foi aplaudido por suas opiniões “fascistas”. É importante frisar essas informações porque corremos o risco de vulgarizar nossas denúncias contra o fascismo, e acusar os representantes dos industriais de opiniões que eles não tem.

A sociedade brasileira já está bastante polarizada. Não sei a quem interessa ampliar essa polarização, e pintar os adeptos do Bolsonaro, os adversários do campo popular e os fascistas, como mais numerosos do que realmente são.

A primeira palmas que ele recebe é quando, após dizes que irá botar “alguns generais nos ministérios, caso eu chegue lá”, afirma que presidentes anteriores “botaram terroristas e ninguém fala nada”.

Não foram palmas tão efusivas, nem homogêneas. Pareceu-me que o candidato tinha um grupo de eleitores na plateia.

A segunda salva de palmas, suaves e muito localizadas, vindas provavelmente do mesmo grupo, acontece quando Bolsonaro diz que “os trabalhadores terão que decidir: menos direitos e emprego, ou todos os direitos e desemprego”.

É música para os ouvidos de patrões. Mas acho que seja exagero chamá-los de fascistas. No mundo inteiro, a categoria dos patrões é antipática aos direitos trabalhistas. Bem, talvez os patrões suecos sejam mais esclarecidos, mas até lá deve ter um monte de patrão conservador.

A terceira salva de palmas, igualmente suavez e localizadas, veio quando Bolsonaro disse que “não queria ser patrão no Brasil com essa legislação”.

Frase bobinha, dita com intenção de bajular o público presente.

A quarta salva de palmas, dadas com a mesma intensidade das anteriores, vem quando Bolsonaro fala, numa de suas digressões confusas e incoerentes, tentando responder a uma pergunta sobre educação (e não respondeu), que era “contra as cotas”.

O motivo da quinta salva de palmas é engraçado. Bolsonaro não sabe nada de nada. Ele mesmo confessa sua ignorância. Ainda na resposta a pergunta sobre educação, o candidato disse que “a melhor resposta é dizer: não sei. Não faremos nada da nossa cabeça”. Pausa para rir. Por incrível que pareça, essa resposta idiota mereceu palmas, mas suaves e vindas do mesmo grupo localizado.

A sexta salva de palmas se deu quando Bolsonaro, respondendo pergunta sobre a construção de apoio parlamentar, disse que não iria “conversar com esses 3 ou 4 partidos”, referindo-se obviamente a legendas de esquerda.

“Não quero botar um busto do Che Guevara no palácio do Planalto”, diz o candidato, e aí vem as palmas, suaves.

A sétima salva de palmas, também suaves, se dá quando Bolsonaro diz a seguinte frase:

“Os senhores podem errar comigo. Com os outros, já erraram”.

Encerrada a etapa das perguntas, Bolsonaro agradece os ouvintes e recebe palmas suaves, educadas, desta vez não a alguma frase de efeito, mas palmas formais de despedida de um palestrante.

O apresentador, no entanto, diz que Bolsonaro ainda tinha 5 minutos para as considerações finais.

Bolsonaro diz que estava “indo embora”. Ele não tem mais o que falar. Então começa a enrolar. Diz que será eleito se esta “for a vontade de Deus”.

Aí fala, meio que do nada, em Reagan, Margareth Thatcher, dá uma pirueta e bajula novamente a plateia, dizendo que “os patrões são os senhores!”

Aplausos, muito fracos, quase constrangidos.

Suas considerações finais são um pequeno resumo de bizarrias de extrema-direita: os “direitos humanos”, o “meio ambiente” e as políticas indigenistas são seu alvo preferido.

Bolsonaro se lamenta pelo presidente Michel Temer não ter conseguido vender aos estrangeiros aquela grande área amazônica, conhecido como Enca. Deixou claro que ele vai conseguir.

Num dado momento, Bolsonaro pergunta ao público: “passar fome nesse Brasil, como?” E aí menciona a possibilidade de se criar peixes em barragens.

Ainda teremos, nos minutos seguintes, três salvas de palmas, todas suaves e localizadas.

Bolsonaro ataca a demora do Ibama em liberar licenças ambientais para obras. Palmas.

Bolsonaro critica a mídia por olhar os empresários como “bandidos”. Palmas.

Despede-se definitivamente do público, que bate palmas educadamente, em agradecimento, e se levanta para a hora do almoço.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Menestrel

07/07/2018 - 09h55

Enquanto os coxinhas comentam a vontade neste site a esquerda é previamente censurada.

    Miguel do Rosário

    07/07/2018 - 09h57

    De onde você tirou essa ideia?

      Menestrel

      07/07/2018 - 10h04

      Eu vejo os coxinhas comentando qualquer coisa aqui.
      E eu sou previamente censurado, aproveito e peço que me fale o motivo.

        Miguel do Rosário

        07/07/2018 - 10h09

        vc não é previamente censurado. a moderação é para todos. e tem bem poucos coxinhas comentando por aqui.

          Menestrel

          07/07/2018 - 10h14

          Moderação é o “moderador” ler o que escreve antes de ser publicado, a ditadura fazia isso, depois se não incomodava liberava, para você isso não é censura prévia?Em maio vc falou que os “comentários” estavam liberados aqui, mas que o moderador lia, faltou dizer que lia antes de publicar.

          Miguel do Rosário

          07/07/2018 - 11h09

          Eu mudei há alguns dias. Estou esperando para liberar de novo.

          Alan Cepile

          07/07/2018 - 12h01

          Menestrel, não sei se te ajuda, mas comigo aconteceu o seguinte, ontem eu comentei 2x nesta mesma matéria (são os dois primeiros comentários lá embaixo) e eles apareciam como “aguardando moderação”, após um tempo eles desapareceram e pensei que não tivessem sido aceitos pela moderação, porém, reapareceram hoje, talvez esteja acontecendo o mesmo com vc.

Zeca Bandeira de Mello

07/07/2018 - 09h54

Vcs superdimensionam Bolsonaro. Esse eh um despreparado que nao serve para nada senao para memes. Evidentemente sera boneco de manobra de grupos interessados e aliados a politica entreguista de Paulo Guedes. Quanto menos preparo e forca Bolsonaro tiver, melhor. Suas frases toscas e suas ideias de efeito servem para ganhar o voto dos incautos e dos psicopatas. Quem vai governar é o capital estrangeiro que esta financiando sua campanha. Isso e tudo que o país nao precisa. O pais necessita de governos fortes e bem estruturados. Nada como FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro.

    Alan Cepile

    07/07/2018 - 12h07

    Antes eu tb achava que bolsonazi não teria nenhuuma chance, mas hoje o cenário merece atenção, principalmente por causa essa briguinha idiota entre lulistas e ciristas alimentada, acreditem, por blogs totalmente irresponsáveis que se dizem de esquerda (Brasil247/GGN/Duplo Expresso).

    Isso pode dividir a força da esquerda progressista e levar bolsonazi e marina pro 2º turno, o que seria uma pá de cal pro já moribundo Brasil.

Menestrel

07/07/2018 - 09h54

Ue, mas na CNI ser vaiado deveria ser um bom sinal para a esquerda. Não é assim Miguel? Ou vc prefere os aplausos da burguesia?

    Miguel do Rosário

    07/07/2018 - 09h56

    Sim, é bom sinal para a esquerda. Mas informações exageradas não são boas para ninguém.

      Menestrel

      07/07/2018 - 10h06

      Se ser vaiado é um bom sinal para a esquerda, a informação exagerada seria ruim para quem, para Bolsonaro? Tá meio contraditório o que vc diz, novamente.

        Miguel do Rosário

        07/07/2018 - 10h09

        a informação exagerada é ruim para quem quer saber a verdade.

    Alan Cepile

    07/07/2018 - 12h08

    Mas foram, de fato, aplausos da burguesia.

leo mendes filho

07/07/2018 - 06h27

Eita, Miguel…

pra tentar vender Ciro como “esquerda” vale até defender o fascistoidismo de Bolsonazi… Miguel, tá feio

    Miguel do Rosário

    07/07/2018 - 07h22

    Que defender, tá maluco?

      Alan Cepile

      07/07/2018 - 12h11

      É, “de esquerda” deve ser quem coloca Temer na vice presidência…. ;-)

Lili M Brenner

07/07/2018 - 01h05

Impressionante o quanto se valoriza o que não tem valor algum!

Igor Grabois

06/07/2018 - 19h50

Parabéns, Miguel. Precisamos de análises ponderadas pra não jogar tudo na vala comum. Por isso o seu trabalho tem se destacado.

André Romero Henrique da Costa

06/07/2018 - 14h11

Miguel, falando um pouco sobre o grande cenário, continuo acreditando no seguinte cenário, e gostaria de saber sua opinião a respeito:
– Lula continuará impedido de participar e o PT já escolheu Haddad no lugar. Costumo dizer que a turma do golpe não andou até aqui para entregar a rapadura aos 44 do 2o. tempo;
– Haddad, mesmo com o apoio de Lula, não cravará mais do que 12, 13%, mas poderá servir apenas para tirar ele e Ciro do 2o turno. Creio que muitos petistas quase em cima da hora cairão em si e verão que essa é uma ameaça real e acabarão por apoiar Ciro;
– A briga será acirrada entre Ciro e Marina. Ciro tem a seu favor o tempo de televisão, mas briga pelos votos na seara do PT. Marina é mais tolerada pelo eleitor moderado e o conservador, mas não tem quase nenhum tempo no horário eleitoral;
– Perto da disputa, acho que correrá voto útil também pro lado da Direita e Alckmin crescerá um pouco, no nível do que previ para Haddad, mas também insuficiente para leva-lo ao 2o turno;
– Quem brigará pelo 2o turno: Ciro (se não for atrapalhado pelo Haddad) ou Marina contra Bolsonaro. Esse último perde nos dois cenários.

Alan

06/07/2018 - 13h55

Miguel, vc viu essa pesquisa sobre perfis eletrônicos?

http://www.internetlab.org.br/wp-content/uploads/2018/07/Relat%C3%B3rio-Bots-ou-n%C3%A3o.pdf

Alan

06/07/2018 - 13h08

Não passa de um tosco.

O mais incrível é que eu conheço gente estudada e esclarecida que vota nele.

Ze

06/07/2018 - 12h54

Qnd vi o vídeo da vaia fiquei surpreso. Meia dúzia de gatos pingados. Ciro se saiu bem e teve a oportunidade de traçar uma linha no chão: venham comigo que darei ótimo suporte e, por consequência, lucros, mas aos escravocratas nada.

foo

06/07/2018 - 12h27

Bom artigo.

Trouxe uma informação realmente nova, ajudou a desmontar a versão baseada no disse-que-disse.

Eleutério

06/07/2018 - 12h18

Miguel, seu candidato é bem servil. Parabéns! Você quer levar a esquerda para o Ciro mas cometeu um erro dessa vez. Então, se a CNI é a casa grande do golpe ser vaiado lá dentro seria uma bom personal card para o seu chegado, não? Mas você quer amenizar o negócio ao invés de fazer barulho sobre. A verdade é que o Ciro abusou do nhém nhém nhém. Primeiro muda a voz e fica com uma entonação oleosa para agradar, e começa a buscar proteção entre os poderosos presentes (“Olha ali o Fernando Macedo, cearense que eu quero saudar”, quer dizer, alguém que é patrão e dirigente de federação de industria lá do Ceará). Aí engata um repente declamando seus títulos contra as supostas mentiras da imprensa. As mentiras que ele desmente são as de que não seria capacho da industria e revogaria a reforma trabalhista. O repente do Ciro é assim:

“Se eu fosse esse monstrengo
Que imprensa tem pintado,
Eu não teria sido governador
Vereador, prefeito e deputado

A índustria no meu estado
Cresce tanto que é contra-mão
O Brasil perdendo industria
E o Ceará com super industrialização

Aão Aão Aão Aão”

    Alan Cepile

    07/07/2018 - 12h15

    Se Ciro Gomes fizer a loucura de colocar o Temer como vice ele vai ser de esquerda??

    Humm….

Marcos Videira

06/07/2018 - 10h57

Bob Fernandes definiu Bolsonaro de forma precisa:
um fascista cuja ignorância estratosférica é exibida diariamente com grande orgulho.

E Neto

06/07/2018 - 10h45

Muito boa análise. Capa de jornalão e fake news anda formando opinião, inclusive no campo a esquerda. Vamos ultrapassar a barreira das capas, os recortes de YouTube e começar a questionar as afirmações terceiras. Penso, logo existo.


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