Liguem o pisca alerta. Segundo turno? Pode não dar tempo

*Denise Assis

Há cerca de 15 dias, FHC, o maestro do golpe, que sob a fachada de um impeachment (sem crime, e por isto golpe), tirou do poder Dilma Rousseff, a presidenta eleita, vem sinalizando que orquestra um desdobramento do seu feito, para 2019.

Com a desenvoltura de sempre, e o espaço generoso que a mídia lhe confere, ele se move de um lado a outro, tentando, mais uma vez, tirar do povo o gosto da escolha de um(a) novo(a) presidente.

De preferência, dando aos seus atos o aspecto de “legalidade”, pois não quer mergulhar na lama os punhos de renda de sua fatiota de “príncipe”.

No momento, o seu plano é convencer aos da direita, (aquele rapaz fora, porque é fascista, e não mais de direita), de abrirem mão de suas candidaturas, em torno de um nome mais forte do que o do picolé de chuchu, a fim de arrombar a festa das eleições de outubro já no primeiro turno. Como se costuma dizer, liquidar a fatura.

Sem capacidade de unificar o próprio partido, ou alavancar votos para o insosso candidato que não é da sua simpatia, e muito menos do eleitorado, FHC busca manobrar com os partidos de direita uma “unificação”.

Para quem duvida de seus atributos golpistas, o site 247 tratou de nos refrescar a memória,  trazendo de volta, nesta semana, um artigo da autoria do ex-presidente, publicado nos jornalões de fevereiro de 2015, onde ele conclamava ao golpe:

“Nada se consertará sem uma profunda revisão do sistema político e mais especificamente do sistema partidário e eleitoral. Com uma base fragmentada e alimentando os que o sustentam com partes do orçamento, o Governo atual não tem condições para liderar tal mudança. E ninguém em sã consciência acredita no sistema prevalecente. Daí minha insistência: ou há uma regeneração “por dentro”, Governo e partidos reagem e alteram o que se sabe que deve ser alterado nas leis eleitorais e partidárias, ou a mudança virá “de fora”. No passado, seriam golpes militares. Não é o caso, não é desejável nem se veem sinais.”

E não só conclamava, como distribuía as tarefas, escalando os segmentos que agiriam para que tudo saísse a seu gosto:

Resta, portanto, a Justiça. Que ela leve adiante a purga; que não se ponham obstáculos insuperáveis ao juiz, aos procuradores, delegados ou à mídia. Que tenham a ousadia de chegar até aos mais altos hierarcas, desde que efetivamente culpados. Que o STF não deslustre sua tradição recente. E, principalmente, que os políticos, dos governistas aos oposicionistas, não lavem as mãos. Não deixemos a Justiça só. Somos todos, responsáveis perante o Brasil, ainda que desigualmente. Que cada setor político cumpra sua parte e, em conjunto, mudemos as regras do jogo partidário eleitoral. Sob pena de sermos engolfados por uma crise, que se mostrará maior do que nós.

Os escalados em 2015, a saber: mídia, Justiça e Congresso cumpriram os seus papéis com muita dedicação. E tanta, que conseguiram, não só derrubar o governo, como garantir como  síndico por ele escalado, alguém com a índole “altruísta”, a ponto de, à base de uma boa porção de óleo de peroba, sem se importar com o alto índice de rejeição, arregaçar as mangas e, num ímpeto, entregar as encomendas dos “amiguinhos” de FHC.

Por “amiguinhos”, entendam: a elite empresarial – que sonhava com a reforma trabalhista; os americanos – de olhos compridos no pré-sal, na Embraer, no Aquífero Guarani, na base de Alcântara e outras delícias nacionais que eles queriam, porque queriam.

Como desdobramento, trataram de satisfazê-lo e colocar na cadeia o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, disparado nas pesquisas, tirando a legitimidade da eleição, que FHC quer continuar regendo. Sim, sem legitimidade, pois se 42%, (quase metade do eleitorado, portanto), diz que vai anular ou votar em branco, se recusando a participar de uma eleição sem o seu candidato preferido, a eleição será mera mise en scène.

Para agravar o quadro, a esquerda segue com vários candidatos, apostando em se unir apenas no segundo turno. Pode não dar tempo.

A julgar pela volúpia de FHC pelo poder, pelos compromissos assumidos com os seus “amiguinhos”, e pela “obediência” e deslumbre que consegue em torno de suas ideias, é tempo da esquerda ligar o pisca alerta e observar mais de perto a “inquietação”, deste senhor. Não se pode duvidar do seu poder de ação. Seja lá o que for que ele está apontando com a sua batuta, é para lá que devemos guiar os nossos olhares. Não duvidemos de sua capacidade de produzir golpes suaves: “No passado, seriam golpes militares. Não é o caso, não é desejável”, mas é certo que o seu arquivo de partituras pode nos levar a, de novo, dançar uma polca em outubro. Alertai-vos!

* Jornalista

 

 

Denise Assis: Denise Assis é jornalista e autora dos livros: "Propaganda e cinema a Serviço do Golpe" e "Imaculada". É colunista do blog O Cafezinho desde 2015.
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