Publicado pelo portal Vermelho
A vitória do partido Morena (Movimento de Regeneração Nacional) e López Obrador é uma rebelião nas entranhas de uma estrutura democrática severamente destruída pelo corporativismo bi-partidário (PRI-PAN) e pro uma lista imensa de vícios e corruptelas que levaram à bancarrota institucional todo o aparato político. Uma rebelião assediada pela violência macabra desatada pro uma falsa guerra contra o “crime organizado” que na prática não te sido mais que a militarização “encoberta” de todo o território para colocar as riquezas nacionais a serviço das empresas transnacionais e seus cúmplices locais. Uma rebelião que enfrentou milhares de emboscadas em todos os repertórios odiosos da depauperação econômica e das guerras midático-psicológicas.
O México padece da virulência do neoliberalismo e os embates coloniais do império ianque. É um país sequestrado por gerentes – impostos pela via da fraude – para entregar recursos naturais, para oferecer mão de obra. No México até hoje ninguém garantiu ao povo a defesa do território e a defesa dos recursos naturais. Ninguém garantiu o exercício independente da justiça. Ninguém freou o crime organizado e sua metástase em toda as estruturas sociais e culturais do país.
Ninguém exerceu reitoria alguma em matéria de democracia comunicacional. Ninguém garantiu o direito à educação, o direito ao trabalho, o direito à saúde, o direito à alimentação… Ninguém assegurou dignidade às pessoas porque uma moral entreguista e rasteira, adoradora do império ianque, serve das formas mais ignominiosas à opressão. Neste contexto López Obrador vence as eleições.
Agora começa o mais difícil. López Obrador se propõe a pacificar o país; acabar com a corrupção e recompor a economia com dignificação trabalhista e salarial. Pretende incluir os mais postergados e a distribuir de forma equitativa os cargos federais. Isso implica derrotar as máfias que sequestraram o governo eo Estado para fazer justiça, por exemplo, aos estudantes de Ayotzinada, aos povos originários, e assegurar que estas ações perdurem para ampliar a participação social no governo mobilizado como organizador capaz de somar força que possa oferecer soluções à força popular que alcançou o triunfo.
Os desafios são muitos e são enormes num país que tem o tecido social profundamente desgastado, mas que, apesar dos pesares, se rebelou contra o establishment para fazer visível sua multiculturalidade e sua plurinacionalidade unidas às “classes médias” para somar a maior votação que nenhum presidente nunca tinha tido no México e que líder de esquerda algum havia conquistado.
O México enfrenta seu futuro imediato mobilizado como nunca, com as praças cheias, com as ruas tomadas, com uma mobilização magnífica que encuba ideias emancipatórias. Contra a fraude, contra o saqueio e contra a exploração históricas… é uma identidade nova, uma festa que começa de baixo, uma situação social inédita.
Bem, pode ser que o nascimento de um novo México, desta vez decidido pelo povo, com as armas de sua democracia em reparação, com uma moral renovada e muita claridade nos desafios, possa derrotar qualquer tentativa de regressão.
Por agora o México é um ponto de inflexão, um desafio à nossa capacidade de luta e unidade dentro e fora do país… Ponto de inflexão para que nos reconheçamos até a tomada do poder impulsionados com nossas próprias forças populares e os trabalhadores do campo e da cidade… para mudar o sistema e mudar a vida.
*Fernando Buen Abad é mexicano, diretor de cinema e especialista em Filosofia da Imagem, Filosofia da Comunicação, Crítica à Cultura, Estética e Semiótica