A reportagem, assinada por Ary Filgueira, não possui consistência jornalística e muito menos investigativa. Trata-se de especulações, sem comprovações ou vínculos com a realidade
25 de junho de 2018 15h31
Da Página do MST
Em matéria intitulada: “A corrupção por trás das invasões do MST”, publicada pela revista IstoÉ, declaramos que:
1 – A reportagem, assinada por Ary Filgueira, não possui consistência jornalística e muito menos investigativa. Trata-se de especulações, sem comprovações ou vínculos com a realidade, próprio de matérias que objetivam a criminalização da luta do MST;
2- É notório que o MST sempre combateu a Medida Provisória 759, convertida na lei 13.465 de 2017. Diversas foram as manifestações públicas denunciando a lei, que é uma tentativa de acabar com a Reforma Agrária no país, regularizar a grilagem de terra e privatizar os assentamentos já existentes. O MST é contra a regularização fundiária proposta pela lei 13465, defendendo a manutenção da Concessão do Direito Real de Uso (CDRU), com a proibição da venda de lotes do Programa Nacional de Reforma Agrária;
3 – O MST do Distrito Federal e Entorno sempre realizou enfrentamentos à grilagem de terra na região. Diversas foram as ocupações que denunciavam a ação de grileiros, os quais beneficiavam a especulação imobiliária e o agronegócio. Recentemente, alguns de nossos acampamentos passaram por enfrentamento direto à ofensiva de pistoleiros contratados por grileiros. São estes grileiros e especuladores que, de fato, buscam se beneficiar com a
regularização fundiária;
4 – Esta regularização, inclusive de terra griladas, vem sendo executada, ainda que lentamente, pela Superintendência de Patrimônio da União (SPU), comandada por Fabiana Torquato. Indicada ao cargo pelo Deputado Federal Izalci Lucas (PSDB-DF), a superintendente, assim como Acilino Ribeiro, ocupam cargos públicos e não possuem nenhum vínculo com o Movimento Sem Terra. Jamais interferiram em ações do Movimento, cumprindo papel de mediação em suas funções.
5 – A Fazenda Sálvia, citada na matéria, possui, ao todo, em torno de 19.500ha. Desmembrada em várias outras partes, a área é alvo constante da ação de grileiros. Localizada às margens da Estação Ecológica Águas Emendadas, que é considerada pela UNESCO uma área nuclear da Reserva da Biosfera do Cerrado, a Fazenda Sálvia possui diversos acampamentos em seu interior, alguns deles pertencentes ao MST. Especificamente o Movimento Sem Terra defende que aquela área seja destinada para a implementação de assentamentos da Reforma Agrária, e que estes produzam alimentos saudáveis para a população do Distrito Federal. A invasão de
grileiros, de forma oposta, busca lucrar com a especulação imobiliária.
6 – O assentamento Barreirinha não possui nenhum vínculo com o MST. Ali estão famílias que não moraram em acampamentos e não tiveram acesso ao assentamento por luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
7- José Carlos Rodrigues Teixeira foi expulso do MST há mais de 10 anos, por suspeita de corrupção. O MST também não realizou nenhuma ocupação na área destinada ao Polo de Cinema de Brasília e não temos nenhuma ocupação organizada na cidade de Alexânia (GO). Ou seja, a referida revista não se deu ao trabalho de checar as informações. Quem assina a reportagem, notadamente, desconhece o conjunto dos movimentos sociais brasileiros, suas pautas e suas lutas.
8 – Também não existe lógica a tentativa de vincular o MST ao relator da MP 759, Senador Romero Jucá (MDB-RR) e ao Deputado Federal Izalci Lucas. Nem sequer reunimos, ou estabelecemos processos de articulação política com referidos parlamentares. Combatemos veementemente posição política de ambos, que votaram a favor do Impeachment da Presidente Dilma Rousseff, da PEC do Teto dos Gastos, da Reforma Trabalhista e pelo
arquivamento da denúncia de corrupção passiva de Michel Temer.
9 – Fato é que o Movimento Sem Terra enfrenta no Distrito Federal e Entorno forte ataque de grileiros de terra que buscam favorecer a especulação imobiliária e o agronegócio. O capital estrangeiro demonstra grande interesse nestas terras, com a instalação de empresas com Bayer, Bunge e Syngenta na região. Esta aliança entre capital internacional e grileiros locais busca combater a proposta do MST de tornar a região ao redor de Brasília polos da Reforma Agrária produtores de alimentos saudáveis. Os assentamentos no Distrito Federal são uma possibilidade concreta da população poder consumir alimentos de melhor qualidade a um preço acessível
10- Portanto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra repudia a matéria publicada pela IstoÉ. Denunciamos a sua tentativa de colocar a opinião pública contra a Reforma Agrária, contribuindo com o avanço da grilagem de terra. Este tipo de matéria infundada tenta nos intimidar. Mas não recuaremos um milímetro na denúncia e enfrentamento do latifúndio imobiliário, lucrativo, explorador e assassino na região. Continuaremos com nossa missão de organizar o povo Sem Terra e ocupar todas as terras que não cumprem com sua Função Social.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Brasília, 25 de junho de 2018