Achei a íntegra da última pesquisa XP/Ipespe, com entrevistas feitas até o dia 20 de junho. A XP vem fazendo levantamentos semanais das intenções de voto e outros fatores ligados à opinião pública.
Sugiro aos internautas que não leiam as pesquisas com emoção. Elas apenas retratam momentos passageiros, tendências. A gente precisa vê-las apenas como um elemento, em meio a vários outros, para nos ajudar a fazer análises e especulações. Não vale se empolgar ou ficar triste com apenas uma pesquisa ou outra.
Vamos começar pelas boas notícias para o campo progressista.
Essa é a mesma pesquisa pela qual quase fui crucificado por publicá-la, porque havia cenários de segundo turno que mostravam Bolsonaro à frente de Lula. Bem, o jogo virou. Provavelmente o próprio instituto verificou que precisava fazer ajustes internos. Lula agora está bem à frente de Bolsonaro no segundo turno, em linha com outras pesquisas: 41% X 33%.
Essa vantagem de 8 pontos, todavia, não me parece muito animadora, porque o petista tem algumas dificuldades a serem enfrentadas: seu eleitorado é mais pobre e morador de áreas distantes das zonas de votação, e portanto muito mais sujeito a abstenção; a rejeição de Lula está muito alta no Sudeste e no Sul e nas classes médias, o que vai empurrar indecisos para Bolsonaro; o ex-presidente está preso, o que cria uma série de embaraços à campanha.
No primeiro turno, a XP fez quatro cenários: (1) sem nenhum candidato do PT, (2) com Haddad, (3) com Lula, e (4) com Haddad identificado como “candidato do Lula”.
Não houve mudança relevante no percentual de nenhum candidato. No cenário com Lula, o petista lidera com 28%, contra 19% de Bolsonaro. Marina Silva e Geraldo Alckmin pontuam 10% e 7%. Ciro Gomes tem desempenho medíocre, de 5%, em linha com o percentual que o pedetista pontua em outros institutos quando há presença de Lula, que absorve ainda a maior parte dos votos da esquerda.
No cenário sem Lula, tudo muda, naturalmente. Todos os candidatos crescem um pouco, mas alguns crescem mais que outros. O principal herdeiro dos votos lulistas, no cenário 2, com Haddad, é Ciro Gomes, que dobra sua pontuação, para 10%, embora ainda 4 pontos atrás de Marina Silva, que tem 14%. Haddad tem 3% neste cenário.
No cenário 4, em que Haddad é apresentado como “candidato de Lula”, o petista herda 41% dos votos do ex-presidente e salta para 12% das intenções de voto, empatado com Marina Silva (11%) e 4 pontos à frente de Ciro Gomes, com 8%.
Estes 12% de Haddad, todavia, não me parecem tão promissores assim. Mesmo apresentado tão explicitamente ao eleitor como o homem de Lula (e não haverá essa sugestão na urna), o petista se mantém empatado com Marina, correndo o risco de não ir ao segundo turno.
Se Ciro Gomes fosse apresentado como “o candidato de Lula”, e recebesse os mesmos 41% dos votos de Lula que foram para Haddad (equivalentes a 11 pontos), ele poderia chegar a 19% e empatar com Bolsonaro, que tem exatamente 19 pontos percentuais.
Haddad perde para Geraldo Alckmin no segundo turno. Não foi feito cenário de segundo turno entre Haddad e Bolsonaro.
Ciro Gomes empata com os dois candidatos mais fortes da direita: Geraldo 32% a 30% Ciro; e Bolsonaro 33% X 32% Ciro.
31% do eleitorado acredita que Bolsonaro será o vencedor das eleições presidenciais.
É um dado preocupante porque projeta fortes dores de cabeça para o novo governo. Seja ele qual for, terá de lidar com milhões de bolsominions ressentidos com a derrota e sem disposição democrática para aceitá-la tranquilamente.
Neste sentido, seria muito importante que a vitória sobre Bolsonaro no segundo turno fosse demolidora!
A pesquisa XP traz ainda alguns gráficos interessantes para se analisar o perfil ideológico dos eleitorados dos principais candidatos.
O eleitor de Bolsonaro, como era de se esperar, é profundamente conservador, e anseia por soluções autoritárias. Uma maioria de 63% apoia uma intervenção militar, o que é uma crença perigosa, considerando-se que Bolsonaro já disse, numa ocasião, que sua primeira atitude como governante seria dar um golpe militar no país.
O eleitor de Ciro Gomes é o mais avesso a uma intervenção militar: quase 70% são contra.
Outros gráficos interessantes mostram que, dentre os candidatos com mais pontuação, o de Ciro Gomes é, de longe, o mais progressista e liberal em temas polêmicos como “legalização da maconha”, “aborto”, “casamento gay”, “pena de morte”.
Exemplo: 40% do eleitorado de Ciro Gomes é a favor da legalização da maconha. Nesse quesito, o eleitorado de Lula é tão conservador quanto a média nacional, onde apenas 18% são favoráveis à legalização da maconha.
Este é um tema que mostra o profundo conservadorismo brasileiro: nos EUA de hoje, por exemplo, 61% dos americanos são favoráveis à legalização da maconha, segundo pesquisa feita pelo conceituado instituto Pew em janeiro deste ano.
O eleitorado de Lula é particularmente sensível ao tema “privatização”: 83% são contra, e apenas 10% a favor. O eleitorado de Ciro é mais liberal nesse tema também, embora a maioria esmagadora seja contra: 63% contra, 25% a favor. Bolsonaro é o único candidato cujo eleitorado é majoritariamente a favor de privatizações.
Os gráficos completos estão ao final do post, ou neste link.