Janio de Freitas: Acenos de Lula a Ciro podem significar aliança ainda no 1º turno

Janio de Freitas, um dos mais respeitados colunistas políticos do pais, sobretudo pela coerência firme com que analisa a conjuntura, e também por nunca ter se deixado contaminar pelo reacionarismo de baixo calão que se tornou hegemônico nas grandes redações, escreveu hoje sobre a possibilidade de aliança entre PT e Ciro Gomes.

Freitas analisou os últimos sinais de Lula em direção a Ciro: seu pedido à militância do partido para que não o hostilize e aos dirigentes do PT para que busquem um pacto de não-agressão com o candidato do PDT; Lula também pediu aos petistas que tratem Ciro Gomes como alguém do “mesmo campo político”.

O jornalista enxergou, na sinalização de Lula, a possibilidade de aliança ainda no primeiro turno.

Trecho da coluna:

Com isso, o desejado enlace com Ciro no segundo turno, e desde logo rejeitado com qualquer outro dos candidatos, tem um caráter de alternativa que se estende necessariamente ao primeiro turno. A depender só das circunstâncias e suas exigências.

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Na Folha

Ciro visto da prisão

Quem duvidava que, de dentro da prisão, Lula estivesse no processo eleitoral, cuide-se

Recebida como se fora uma contribuição a mais para a mesmice política, a orientação mandada por Lula ao PT e a seus demais seguidores, ao final da semana passada, introduz uma perspectiva nova e inesperada na disputa pela Presidência. A recomendação de que Ciro Gomes não seja hostilizado, e até busquem com ele um pacto de não agressão com vistas ao segundo turno, significa muito mais do que diz. ​

Antes de tudo, a orientação muda as predisposições do comando petista com Ciro Gomes, até aqui repelido no tom terminativo bem caracterizado pela própria presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann.

É verdade que Lula apenas ciscava, com uma ou outra bicadinha, na candidatura de Ciro. E parte dos petistas, apesar da rejeição exposta, não escondeu preferi-lo a Marina Silva, como demonstrado pelo Datafolha. Com um recado, isso tudo foi-se.

A referência de Lula ao segundo turno com Ciro contém duas situações. A do apoio de Ciro ao candidato do PT, seja quem for e contra quem for, mas também a de apoio do PT a Ciro, com iguais condições. Esta última hipótese, porém, vai mais longe: nela está implícita a admissão de que o candidato do PT não chegue ao segundo turno.

Como não dá para presumir Lula fora do turno final —se não ganhasse no primeiro— segue-se que os petistas citados como seu eventual substituto, até aqui, não geram esperanças em casa.

O futuro de Lula continua incerto. Se os seus processos puderem chegar a um corpo de juízes sem causa política ou ideológica, a questão das provas por fim ganhará a relevância que a Justiça lhe dá, em um ou em outro sentido. Por ora, Lula pode ou não pode concorrer.

Com isso, o desejado enlace com Ciro no segundo turno, e desde logo rejeitado com qualquer outro dos candidatos, tem um caráter de alternativa que se estende necessariamente ao primeiro turno. A depender só das circunstâncias e suas exigências.

Remota ou não, segundo cada interpretação, a possibilidade está inscrita na orientação de Lula que aproxima PT e Ciro Gomes. E que transtorna tanto a configuração da escala de pré-candidatos como as cabeças de vários deles, cientes de que, se Lula não concorrer, de nada lhes adianta: a aliança PT-Ciro faz serviço semelhante.

Quem duvidava que, de dentro da prisão, Lula estivesse no processo eleitoral, cuide-se.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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