A esquerda contra Bolsonaro no 2º turno

Continuo analisando os últimos números do Datafolha. Preparei agora uma tabela com o desempenho dos principais candidatos de esquerda, Lula, Ciro Gomes e Haddad, contra Jair Bolsonaro, no segundo turno.

A boa notícia é que os dois primeiros ganham de Bolsonaro.

Lula ganha de Bolsonaro de 49 X 32.

Ciro, de 36 X 34.

Haddad, por sua vez, perde de Bolsonaro, de 27 X 36.

É claro que Haddad vai crescer muito quando receber apoio explícito de Lula. Mas, até o momento, esse apoio  não aconteceu. E nem se sabe se vai acontecer. Pouco conhecido no Brasil, o petista tem desempenho fraco nas pesquisas.

A votação de Lula tem algumas vulnerabilidades graves.

Por exemplo, é concentrada excessivamente na população que ganha menos de 2 salários mínimos e no Norte e Nordeste, que são ambas áreas sociais onde a abstenção eleitoral costuma ser muito alta, por sofrerem mais com o acesso aos centros de votação. Em 2018, as pesquisas mostram a população desesperançada e desanimada, de maneira que se pode esperar um alto índice de abstenção e nulos.

A principal vulnerabilidade de Lula, além disso, é o fato de estar condenado em segunda instância e preso, além das toneladas de acusações (falsas, eu sei, mas que pesam na rejeição e na campanha) que existem contra ele. Para a direita, ficou fácil bater no Lula. Não é preciso discutir proposta de campanha, basta dizer que Lula é ladrão, que foi condenado pela justiça brasileira, que está na cadeia, e ponto final. Para Lula, por outro lado, é muito difícil se defender sendo candidato, porque isso implicaria em desacreditar o sistema de justiça, o mesmo sistema de justiça que tem o poder de cassar a sua candidatura.

Para a direita basta convencer o pobre a não votar. Quanto maior a abstenção, maior o peso do voto da classe média que vota na direita.

A votação de Bolsonaro, por vir de um eleitor de classe média, jovem, extremamente fanatizado, concentrado no Sul, Sudeste e nas cidades mais ricas, promete sofrer bem menos com a abstenção.

Bolsonaro está muito à frente de Lula entre eleitores com renda superior a 5 salários. Isso é perigoso ainda por outro motivo: é uma população com uma capacidade muito maior para fazer campanha espontânea, inclusive doando dinheiro.

Num ano em que o dinheiro será curto para todos, os candidatos que obtiverem apoio de pessoas com recursos financeiros terão uma enorme vantagem.

Entre eleitores com renda familiar entre 5 e 10 salários, Bolsonaro ganha de Lula de 43 X 35.

Entre eleitores com renda acima de 10 salários, Bolsonaro ganha de 51 X 27.

O desempenho de Ciro contra Bolsonaro, junto a esta mesma classe média, já é bem melhor que o de Lula, apesar de também ficar atrás entre os mais ricos.

Entre eleitores com renda familiar de 5 a 10 salários, a placar Bolsonaro X Ciro é também de 43 a 35.

Entre eleitores com renda acima de 10 salários, o placar fica em 51 X 29.

A maior vantagem de Ciro junto à classe média, no entanto, é sua baixa rejeição, sobretudo em comparação com Lula e Bolsonaro.

A rejeição alta de Lula é particularmente perigosa, porque tem um poder mobilizador da classe média, que põe a mão no bolso, vai às ruas, faz campanha para que o petista não ganhe de “jeito nenhum”.

Enquanto Lula tem rejeição de 50% e 61% entre eleitores com renda média de 50 a 10 salários e mais de 10 salários, respectivamente, Ciro tem rejeição inferior a 27% nessas mesmas faixas. Essa rejeição baixa lhe dá um potencial grande de crescimento nessas classes.

Bolsonaro, por sua vez, tem rejeição de quase 40% na classe média de 5 a 10 salários e 34% entre quem ganha mais de 10 salários.

Outro ponto vulnerável de Lula é seu desempenho no Sul e Sudeste. Segundo o Datafolha de junho, Bolsonaro já empatou tecnicamente com Lula no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, regiões onde Lula, para piorar, tem altos índices de rejeição (42% a 44%), o que dificultará muito mudar esse quadro.

Ciro por sua vez está avançando bastante rápido no Sul e Sudeste, onde já tem 34%, quase empatando com Bolsonaro no Sudeste e reduzindo sua desvantagem no Sul. Com uma vantagem importante para Ciro: sua baixa rejeição no Sul, 19% (contra 29% de Bolsonaro e 42% de Lula), e no Sudeste, 23% (contra 31% de Bolsonaro e 44% de Lula).

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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