Estamos na véspera do início da Copa do Mundo, a temperatura do noticiário político encontra-se entre morna e fria.
Parece o momento ideal para analisarmos uma declaração do sr. Michel Temer, nosso querido e estimado presidente da República, no auge da crise gerada pela greve dos caminhoneiros:
Os frangos estão morrendo. Eu nem sabia que eles podiam canibalizar-se. Eles estão se canibalizando.
Temer usou a canibalização galinácea como exemplo do impacto da greve, logo após anunciar um plano de segurança para liberação das estradas.
Com todo o respeito pelo drama dos frangos, não creio ter sido a preocupação com os animais o fator que motivou Temer a dar tão despropositada declaração.
No meio de uma crise de abastecimento sem precedentes, a qual gerou um cenário quase pós-apocalíptico nas cidades, o presidente da República falar em canibalização dos frangos é um atestado de sua completa inaptidão para o cargo.
Temer é a prova viva do estrago que a ambição pelo poder pode causar na vida de um cidadão.
Caso não tivesse topado participar ativamente do golpe que sua companheira de chapa sofreu, Temer “entraria para a história” (haja aspas) como um político habilidoso, que comandou o PMDB por longos anos e chegou ao respeitável cargo de vice-presidente do país por duas vezes.
A picada da mosca azul foi, entretanto, irresistível para Michel Miguel.
Agora, Temer entrará, de fato, para a história, mas como um dos piores presidentes de todos os tempos, o traidor que conspirou para chegar ao poder, o recordista de impopularidade, o responsável pelos mais pesados ataques contra os trabalhadores das últimas décadas.
Tudo isso sem falar nas pérolas, como esta dos frangos canibais ou a carta mais patética da história da política mundial, aquela imitação barata de House of Cards na qual Temer reclamava, por exemplo, de não ter sido convidado por Dilma para um jantar.
A discrição é, não raro, uma bênção.