Jeferson Miola
A pesquisa Datafolha de 10/6 chove no molhado: mesmo 64 dias confinado em prisão política, Lula continua sendo o único candidato que poderá conferir legitimidade ao resultado do pleito de outubro próximo, porque é o único capaz de obter a efetiva maioria dos votos.
Se o regime de exceção persistir com a farsa jurídico-midiática para banir Lula da urna, a maioria dos votos – quase 40% – não iria para nenhuma outra candidatura, mas para a opção “em branco, nulo e nenhum”.
Se isso acontecer, a eleição de outubro, se mantida, ao invés de significar um momento de restauração do Estado de Direito, marcará a abertura de uma etapa ainda mais grave de ilegitimidade, instabilidade e violência institucional para a manutenção do projeto de dominação anti-povo, anti-nação e anti-democracia.
O fato de o establishment dar por decidido, pelo menos até agora, que Lula terá ilegalmente subtraído seu direito constitucional de ser candidato, não pode ser usado para descartar Lula do jogo eleitoral – como fazem, equivocadamente, determinados setores anti-golpe.
A conjuntura é de tal ordem imponderável para a classe dominante – com exceção do fato inexorável de que só Lula consegue pacificar e iniciar a reconstrução do país – que é impossível saber se o banimento do Lula seguirá sendo, até o fim, a opção do establishment, dado o risco desta fraude jurídica levar o país ao caos extremo e à dissolução completa.
Na hipótese de o establishment decidir-se por manter a eleição sem Lula, a opção cogitada por Ciro Gomes de fazer aliança eleitoral com as forças que promoveram o golpe e que não têm viabilidade eleitoral, é uma escolha que contraria interesses dele próprio, Ciro.
Nesta aposta, Ciro mais perde que ganha. Ele não só não ganhará votos de quem não tem votos – DEM, PP etc – como estará se afastando da militância e da base social do Lula, que tem maioria social e eleitoral e poder para influenciar a decisão de voto de 47% dos eleitores. E, além disso, na eventualidade de sua improvável eleição sem contar com apoio petista e da esquerda, ficará atado às forças reacionárias e do atraso, que precisam ser derrotadas.
A agenda central do campo nacionalista, democrático e popular é a luta pela restauração democrática e pelo fim do regime de exceção.
Somente com a interrupção do golpe e o enterro do regime fascista se poderá dar início à reconstrução econômica e social do Brasil depois da selvagem destruição causada pela oligarquia golpista.
O componente primordial desta luta democrática é a libertação do Lula, cuja prisão política foi engendrada unicamente para garantir a continuidade do golpe, porque a classe dominante não consegue vencê-lo na eleição. A defesa do direito do Lula votar e ser votado é, neste sentido, o elemento organizador da resistência e da luta contra a ditadura jurídico-midiática.
A defesa da libertação do Lula da prisão política é plenamente compatível com a manutenção das candidaturas progressistas e de esquerda – além da do próprio Lula, as do Boulos, do Ciro e da Manuela.
É da unidade dos setores progressistas e de esquerda na defesa da libertação do Lula que poderá nascer a aliança capaz de resgatar o Brasil do caos em que a classe dominante o meteu.
A vitória da bandeira Lula Livre é o primeiro passo para a derrota do golpe. E poderá ser a principal garantia de realização de uma eleição limpa em outubro – única chance, aliás, de Ciro se sagrar vencedor.