2o Secretário da Embaixada da Venezuela, Marcos García; Rui Costa Pimenta e Nara Jararaca, ativista londrina
Foto: Ana Rojas
Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, está em Londres, primeira cidade de um tour pela a Europa, cuja missão é divulgar o golpe de estado, a prisão de Lula e a intervenção militar.
Na sexta-feira, no Bolivar Hall, da Embaixada da Venezuela, Rui explicou a situação brasileira.
O 2o Secretário da Embaixada Venezuelana, Marcos García, abriu a palestra.
Além de delinear o contexto geral, García descreveu o histórico da situação em que se encontra seu próprio país.
Fez um breve relato das recentes eleições e elencou os golpes e atentados que a Venezuela sofreu desde os anos 90.
Rui se utilizou deste contexto para situar o golpe brasileiro no quadro latino-americano mais amplo:
“Podemos fazer uma discussão sobre os ‘erros do PT’”, disse, “mas é uma perda de tempo, porque a causa real do golpe é externa”.
De acordo com Rui, este seria o ponto de partida para entender toda a crise política brasileira.
Não vou me estender a explicar tudo o que Rui disse, mesmo porque há muitos relatos sobre suas opiniões nos blogs de esquerda, inclusive suas próprias transmissões semanais.
Mas talvez o mais interessante da palestra fosse a comparação, muito atual, da situação venezuelana e a brasileira.
O governo bolivariano, apesar de todos os seus problemas e crise econômica grave, bem ou mal, tem resistido a qualquer tentativa de destituição, inclusive tentativas armadas, enquanto que o governo petista desabou diante de uma ofensiva institucional.
Debate-se muito a ‘real’ mudança provocada pelo Chavismo, que imediatamente modificou a Constituição Venezuelana; o ‘aparelhamento’ institucional, da máquina, do judiciário; fala-se muito também sobre as ‘bases populares’ da Revolução Bolivariana, que até agora continuam a apoiar o governo e que foram imprescindíveis nestas últimas eleições. Especialmente quando se compara tudo isso à chamada ‘maquiagem’ petista.
No entanto, o que mais me tocou na fala do Sr. García, foi o apoio dos militares ao chavismo. Não é novidade. Todos sabemos que o chavismo tem uma base de apoio nas forças armadas. Mesmo porque Chavez era militar.
O interessante foi a comparação.
Especialmente num momento onde vemos o Fantoche da República pedir mais uma intervenção militar para lidar com mais uma crise causada por ele, porque ele não sabe, pode, ou quer solucionar.
García, nos recordou que Chavez tentou a via golpista em 1992 e foi malsucedido.
Uma vez fechada esta possibilidade, Chavez decidiu disputar as eleições democraticamente sem, entretanto, perder o apoio militar que sempre esteve nas bases e foi – e continua sendo – em parte responsável, relatou García, pela manutenção do governo até os dias de hoje.
No Brasil, bastante diferente do que acontece na Venezuela, a esquerda não tem o apoio das forças armadas.
Na verdade, nós sabemos que a nossa história com estas forças, depois da ditadura militar, foi muito mal resolvida e que suas consequências, como estamos vendo, reverberam ainda hoje.
Não estou de nenhuma maneira advogando o aparelhamento das forças armadas pela esquerda, ou fazendo nenhum julgamento positivo ou negativo em relação ao papel das mesmas na história venezuelana. Inclusive, minha posição pessoal é anti-militarista e pacifista.
Entretanto, acho importante salientar este ponto, que muitas vezes é esquecido, quando comparando a resiliência das esquerdas governistas. E o fato é que as forças armadas têm um papel importante dentro de tudo isso.
Podemos não concordar com Rui, que acha que o governo já está nas mãos dos militares. Mas o fato é que estamos vendo, cada vez mais nitidamente, que o golpismo brasileiro se apoia, pelo menos em parte, nas forças armadas. E que, ultimamente, os militares se deram a ameaçar a democracia, se as coisas não parecem ser de seu gosto, tal como se deu no caso do julgamento do habeas corpus de Lula.
Diz Rui que a situação no Brasil está mais explosiva do que se pensa e vê na greve dos caminhoneiros um potencial para acabar com os golpistas.
Ele continua: se é verdade que a greve pode causar “um golpe dentro do golpe”, e que os grevistas são em grande parte apoiadores da direita, também é verdade que “não importa a ideologia da manifestação e sim seu ‘dinamismo’” e que a disputa das narrativas e o protagonismo estão em aberto.
Diz Rui, que se a greve (que deveria ser chamada pela CUT) se generalizar e a população aderir, há uma verdadeira possibilidade de derrotarmos o golpismo. Ele acredita que, apesar de Lula não ter conseguido por pessoas em números suficientes na rua com a sua prisão, “a temperatura do país subiu muito” com este fato.
E os militares não derrotariam o povo?
Rui parece crer que, se a população reagir, os militares não seriam capazes de se levantar contra o povo. Será? Vamos condedê-lo este ponto, mesmo com todas as incertezas.
O que é ainda mais díficl de acreditar é que este seria realmente o tal momento elusivo, tão esperado pela esquerda, de finalmente ver a população brasileira ser ‘protagonista de sua própria história’.