Plano Lula: sem eleições em 2018, defesa de Lula é fundamental

Foto: Ricardo Stuckert

[Esse é o segundo texto de uma série que expliquei aqui]

A República Nova chegou ao seu esgotamento, defendeu Vladimir Safatle em entrevista recente em Paris. Mais profundamente, três anos antes, o filósofo já havia defendido essa ideia, que ganhou eco com outros textos e análises. Eu mesmo escrevi sobre isso em um passado nem tão remoto.

[Um adendo: Safatle discute a democracia brasileira há muito tempo. No intuito de oferecer aos leitores e leitoras do Cafezinho uma perspectiva maior sobre o tema, replico aqui outro texto dele. Nele, Vladimir argumenta que o lulismo colapsou, algo que vai totalmente contra o que escrevi anteriormente. Fica aqui, então, o contraponto para quem quiser ler.]

Ainda sobre o Safatle e sua entrevista ao RFI, além do argumento sobre o fim da República em si, há, também, uma análise interessante sobre as eleições 2018:

“Existem várias maneiras de não haver eleição. O Brasil teve eleição até 1930, sem eleição. A gente criou essa figura: eleição sem eleição. (…) Uma eleição no interior da qual você tira os candidatos que vão contra o interesse de quem ‘deve’ ganhar”

Partindo desse pressuposto, que compartilho, fica difícil apostar numa estratégia focada nas eleições de 2018. Não que tenhamos que menosprezar o pleito, afinal, nossa cultura fará com que os debates sobre política aumentem naturalmente em 2018 e discutir política é sempre crucial para toda sociedade.

Contudo, acreditar que uma frente ampla de esquerda eleitoral é a grande saída para o país pode ser um grande erro, principalmente se essa estratégia tiver como efeito colateral o isolamento do presidente Lula (e enfraquecer o lulismo traz consequências que já discuti aqui).

Além disso, apostar no jogo eleitoral amplamente controlado pelos inimigos do povo brasileiro é correr um risco absurdo. É incalculável, por exemplo, a catástrofe que é um candidato da agenda austera ser legitimado nas urnas.

Portanto, a discussão sobre ilegitimidade completa do processo eleitoral brasileiro tem que começar desde hoje. Pra ontem, pra ser mais sincero. E isso passa, necessariamente, por uma denúncia exaustiva da perseguição insana que tirou o maior favorito de ganhar a eleição das urnas.

Em outras palavras, o TSE não pode pensar que vai cancelar a candidatura tão descaradamente sem pensar que não haverá consequências para tamanha violência. Como também não podem ter o mesmo entendimento as instituições comprometidas com o Golpe, como setores do judiciário, do legislativo e da mídia.

Por isso, levar a candidatura do Lula até o limite e deixar o ônus da não participação do presidente para a casta institucional que tomou de assalto o país é o mínimo que podemos fazer para provar a farsa eleitoral que aprofundará o Golpe de 2016.

Por exemplo, podemos imaginar quantas candidaturas serão liberadas pelos mesmos juízes que irão impedir a candidatura de Lula (Fux já tem a sua própria contradição e acho muito difícil que ele pare por aí).

Ou seja, a desistência da candidatura de Lula é um baita alívio para seus algozes que não precisarão manchar ainda mais sua reputação no processo histórico brasileiro se não precisar decidir sobre o futuro do ex-presidente.

Ademais, esses contrassensos do judiciário são cruciais para o processo de prova da inocência de Lula, seja internacionalmente, seja no futuro. Cada ação antidemocrática e violenta que a aristocracia brasileira comete contra o povo pode se tornar, com nossa devida habilidade de disputar a narrativa, exemplos de opressão injustificáveis aos olhos do tempo.

 

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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