Sobre House of Cards, EUA, Venezuela e Brasil

Charge: Latuff

Por Pedro Breier

A série House of Cards deixa evidente, de forma magistral, o quão psicótico é o comportamento dos Estados Unidos.

Frank Underwood mata com as próprias mãos se isso for necessário para que nada saia dos trilhos na jornada insana do casal Underwood rumo ao poder. Quando Frank já é presidente, presenciamos, boquiabertos, ele iniciando uma guerra de proporções globais para tão somente resolver seus problemas políticos.

Os presidentes norte americanos da vida real não precisam sequer matar ninguém com suas próprias mãos. O número de mortes e a violência provocadas, no mundo todo, pela política imperialista dos EUA é o suficiente para classificar os responsáveis como psicopatas.

As últimas palavras da 4ª temporada da série, quando a guerra “contra o terror” está prestes a ser deflagrada, são proferidas por Frank e dirigidas ao espectador: “É isso mesmo. Nós não nos submetemos ao terror. Nós criamos o terror”.

Certeiro.

Na vida real, em sua luta sangrenta pela hegemonia política, econômica e militar do mundo, os EUA patrocinaram incontáveis golpes de Estado, financiaram e apoiaram ditaduras e provocaram guerras e agitações pelo mundo todo, quase sempre usando a mesma balela da “defesa da liberdade e da democracia”.

 

O império dos EUA cria o terror em nome da liberdade.

Mesmo com esse modus operandi sinistro, absolutamente antidemocrático, torpemente assassino, o Tio Sam segue levantando, na cara dura, as nobres bandeiras da democracia e da liberdade para desestabilizar os países que não se submetem à sua agenda.

Era óbvio que não iriam reconhecer as eleições na Venezuela.

Assim como era óbvio que o governo e a velha mídia brasileiros, serviçais fieis do imperialismo, iriam abanar o rabinho e falar grosso com o país vizinho.

Um governo não eleito, oriundo de um golpe – que favoreceu enormemente, em uma incrível coincidência, os interesses políticos e econômicos dos EUA – e odiado pela população não tem a menor vergonha de se arvorar a não reconhecer a legitimidade das eleições venezuelanas.

A mídia familiar, peça central no golpe de 2016 e sustentáculo da ditadura militar, é outra que vira democrata somente quando lhe interessa. A eleição de Maduro seria ilegítima porque candidatos da oposição foram presos, vejam vocês. Aqui, o grande líder da oposição brasileira será alijado da eleição por meio de uma prisão sem provas que não seria possível sem a ação da grande mídia.

Os governos do EUA e do Brasil e os nossos grandes veículos de comunicação podem ser qualquer coisa, menos os baluartes da democracia que posam ser. A distância entre a prática e o discurso é tão, mas tão abissal que não há malabarismo que esconda as verdadeiras – e óbvias – motivações desse pessoal.

A regra é clara, para usarmos um bordão oriundo da casa dos golpes: se o governo é alinhado aos EUA e ao capital, é democrático; se não, é ditatorial.

Ao final, trata-se pura e simplesmente de ideologia.

O resto é pose.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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