A entrevista está publicada na revista Exame:
O pesquisador Renato Meirelles se consolidou como um dos principais analistas da sociedade brasileira na última década ao liderar o instituto de pesquisas Data Popular. Com ele, antecipou, e dissecou, a ascensão da nova classe média e como ela mudou os hábitos de consumo e os anseios políticos dos brasileiros. Agora, Meirelles está à frente de outro instituto de pesquisas, o Locomotiva, em que analisa a sociedade não mais por estratos sociais, mas por hábitos e pontos de interesse entre grupos.
Sob essa ótica, tem uma visão muito particular do processo eleitoral: os líderes da pesquisa em intenção de voto, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) e a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede), podem ficar fora do segundo turno quando os eleitores perceberem que os pré-candidatos são sustentados por ideias míticas de serem antiestablishment. “É uma simbologia que não se sustenta na realidade, nem no dia a dia da política real, que o processo eleitoral força”, diz Meirelles.
Marina Silva aparece em segundo lugar, com 11%. O que explica esse desempenho, mesmo Marina sendo a pré-candidata que menos aparece?
A Marina tem esse desempenho muito por conta do recall, por ter sido candidata duas vezes à Presidência da República e não ter ocupado nenhum cargo público desde então, o que a afasta de denúncias de corrupção e também a distancia do noticiário político, que virou policial nos últimos tempos. Ela acaba ficando distanciada da política tradicional por estar tanto tempo afastada e não é associada com esse campo. Mas a Marina Silva não tem ainda uma imagem de força, que é um pouco o que os brasileiros esperam pro próximo presidente. Não tem uma estrutura partidária forte e também não vai ter muito tempo de televisão. A tendência, aos poucos, é que o desempenho dela em intenção de votos diminua. Então, o que está em segundo lugar nas pesquisas também é um mito, um mito da Marina.