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Uma análise do quadro de rejeição dos candidatos

Segundo o Datafolha, o PT tem 20% da preferência popular, tendo se recuperado bastante, após ter atingido menos de 10% pouco antes do impeachment. 62% da população brasileira, todavia, não tem preferência por nenhuma legenda. Esses dados de preferência partidária, no entanto, ficam mais inteligíveis quando a gente os analisa de maneira cruzada, confrontando-os com […]

7 comentários
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Segundo o Datafolha, o PT tem 20% da preferência popular, tendo se recuperado bastante, após ter atingido menos de 10% pouco antes do impeachment. 62% da população brasileira, todavia, não tem preferência por nenhuma legenda.

Esses dados de preferência partidária, no entanto, ficam mais inteligíveis quando a gente os analisa de maneira cruzada, confrontando-os com números de intenção de voto.

Por exemplo, o último Datafolha, referente a uma pesquisa realizada entre 11 e 13 de abril de 2018, mostra que  o PT é, de fato, um partido coeso. 71% dos entrevistados que marcaram o PT como partido preferido, disseram que o apoio do presidente Lula a um candidato os faria votar nele. Entretanto, 16% e 12% dos simpatizantes petistas responderam diferentemente: o primeiro grupo disse que “talvez” votaria no candidato apoiado por Lula e o segundo que “não votaria”.  Ou seja, 12 em cada 100 simpatizantes do PT não votariam num candidato apoiado pelo ex-presidente Lula.

A situação de Lula não é tão confortável: se 30% dos entrevistados disseram que votariam, com certeza, num candidato apoiado por Lula, outros 52% responderam que o apoio de Lula os fariam não votar naquele candidato.

 

Entre as pessoas que não tem preferência partidária (maioria da população, como vimos), um total de 64% respondeu que não votaria num candidato apoiado por Lula.

A rejeição a Lula se concentra, como é sabido, no Sudeste e nas classes mais altas. No Sudeste, 62% dos eleitores afirmaram que não votariam num candidato apoiado por Lula. Entre as classes que ganham mais de 5 salários, a rejeição a um candidato apoiado por Lula é de 66%.

Entre pessoas com ensino superior, 65% disseram que não apoiariam um candidato apoiado por Lula.

O fator racial também marca presença na rejeição ao candidato de Lula. Entre brancos, 62% afirmaram que não votariam num candidato apoiado por Lula, contra 20% que apoiariam, com certeza. Entre negros, 47% não votariam num candidato apoiado por Lula, contra 34% que votariam.

A tabela abaixo, cruzando dados de preferência partidária com intenções de voto no segundo turno. Traz alguns números que eu gostaria de destacar. Quando Lula está na disputa, o voto petista é notavelmente fiel à sua candidatura. Na disputa com Alckmin, 94% dos petistas votam com Lula, contra apenas 4% com Alckmin.

Com Bolsonaro, a situação é parecida: 91% dos petistas votam com Lula, contra 7% simpatizantes do PT que votam, por incrível que pareça, em Bolsonaro. Entre o público sem partido, Lula e Bolsonaro empatam, com um ponto de vantagem para Bolsonaro (37 X 36).

Entre o público sem partido, Lula perde de Marina por 37 X 33.

Na disputa entre Ciro Gomes e Alckmin, 42% dos petistas votem Ciro e 27%, Geraldo Alckmin. Entre o público sem partido, Ciro e Alckmin emparelham em 31% X 27% (com a vantagem para Alckmin). No geral, Ciro e Alckmin empatam no segundo turno com 32% cada um.

Resumindo, na disputa com Bolsonaro, os desempenhos de Lula, Haddad e Ciro entre o público sem partido é o seguinte: 36%,  21% e 29%, respectivamente. Entre petistas, os desempenhos de Lula, Haddad e Ciro são: 91%, 45% e 36%.

 

Há outros dados interessantes nos cenários sem Lula. Por exemplo, na disputa entre Alckmin e Haddad, o tucano recebe mais voto de petistas do que Haddad: 33 X 30. Entre o público sem partido, Alckmin ganha de goleada por 34% X 17%. No geral, Alckmin ganha de Haddad de 37% a 21%.

Ciro Gomes empata com Bolsonaro em 35%, no geral. Ciro recebe 45% dos votos petistas (ironicamente, mais do que Haddad irá receber, entre os petistas, se ele disputar com Bolsonaro) nessa disputa. Entre o público de outro partido, Ciro e Bolsonaro tem 29% e 37%, respectivamente.

Na disputa entre Haddad e Bolsonaro, o segundo leva a melhor, com 37% X 26%. Entre o público sem partido, Bolsonaro marca 44%, contra 30% de Haddad.

Segue outros números de segundo turno que eu queria trazer.  Há coisas interessantes. Repare, por exemplo, a disputa entre Ciro e Bolsonaro. Apesar de ficarem empatados em 35% no geral, Ciro abre  9 pontos de diferença entre o público feminino: 36% X 27%. Entre o público mais velho, com mais de 60 anos, Ciro abriu vantagem de 11 pontos. Ciro Gomes ganha, com 10 pontos de diferença entre quem tem apenas o ensino fundamental, mas também está um ponto à frente entre o público com ensino superior, onde marcou 37% X 36%. Na disputa com Bolsonaro, Lula terá 33% entre o público com ensino superior, contra 39% para o primeiro.

É entre as classes com renda familiar mais alta, que ganham mais de 10 mil salários/mês, que encontraremos também alguns dados emblemáticos. Na disputa Ciro X Bolsonaro, o pedetista perde de 34% X 46% do segundo. Nesta mesma faixa, e também contra Bolsonaro, Lula terá 32% X 44%. Isso mostra um certo alinhamento entre os eleitorados de Ciro e Lula.

 

Os números de rejeição me parecem muito importantes neste momento. Eles ajudam a entender que a identificação do PT como sigla preferida é muito ligada à figura de Lula. Por exemplo, Lula tem rejeição de 36% no geral, um número relativamente baixo, sobretudo para alguém tão freneticamente perseguido pela mídia e pelo partido judicial. Entre petistas, porém, a rejeição de Lula cai para 4%. Entre o público sem partido, a rejeição a Lula sobe bastante, para 45%, maior do que a de Collor.

Haddad, curiosamente, tem rejeição de 18% entre petistas  e 19%  entre o público em geral. Entre o público sem partido, a rejeição de Haddad sobe a 24%.

Ciro Gomes, por sua vez, tem rejeição geral de 23%, bastante baixa, mas isso reflete também o fato de que ainda não é tão conhecido. Entre petistas, a rejeição de Ciro é de 22%, curiosamente o dobro da rejeição que ele enfrenta junto ao PSOL, 11%. Entre eleitores sem partido, a rejeição a Ciro Gomes é de 23%.

Os eleitores do PSOL são bastante opiniáticos, para usar um verbete colhido agora no meu Caudas Aulete: eles rejeitam fortemente uns e pouco outros. Por exemplo, 17% dos simpatizantes do PSOL não votariam de jeito nenhum em Lula, número que cresce para 66% com Bolsonaro, 42% com Alckmin, 33% com Marina. A rejeição a Ciro Gomes e Haddad, por sua vez, é baixa: 11% e 12%, respectivamente.

 

A rejeição dividida por outras categorias traz alguns números que precisamos analisar. Observemos os gêneros. É curioso notar, por exemplo, que a rejeição de Bolsonaro entre jovens entre 16 e 24 anos é de 37%, maior que a de Lula, de 36%. Ciro Gomes tem apenas 11% de rejeição nessa categoria. Entre pessoas com ensino superior, a rejeição de Lula é de 54%, empatada com de Collor, com 55%. A rejeição de Bolsonaro, Alckmin e Ciro entre pessoas com ensino superior é de 45%, 39% e 26%, respectivamente. Entre pessoas com renda familiar acima de 10 salários, a rejeição de Lula é de 60%, acima da de Collor, com 58%. Bolsonaro tem rejeição de 36% nessa classe, contra 32% de Ciro e 29% de Marina.

 

 

 

 

 

 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Nilson Moura Messias

18/05/2018 - 22h31

Logo, logo Miguel Diná do Rosário, voltará para a vénus platinada levando seu candidato a tiracolo. A globosta não derrubou Lula, não vai ser Miguelzinho que vai conseguir.

    Miguel do Rosário

    19/05/2018 - 09h53

    Voltará para a Vênus Platinada? Derrubar Lula? Estou na defesa de Lula livre. Quem derrubou Lula foi o partido judicial. E ele infelizmente já está mais que derrubado, está preso!

RODRIGO

18/05/2018 - 18h53

Quais suas conclusões (” do momento “) Miguel do Rosário? Com assertividade. Att

perez

18/05/2018 - 18h36

São mais de 50% para a classe pobre e seguramente acima 20% que tiveram
melhorias nos últimos anos.
– Este povo não vota contra.
..
A esquerda ganha no primeiro turno se quiser.

Dio

18/05/2018 - 17h44

Interessante esse comparativo de rejeição de lula de 60%, entre os brasileiros com renda maior de 10 salarios mínimos, com os modestos 32% de ciro e 29% de marina.
Isso prova que lula é visto como uma ameaça para parte desse estrato social e ciro e marina, não.
E não é novidade nenhuma q lula é visto como o candidato dos pobres.
E ciro…
É candidato dos ricos?

    Paulo

    18/05/2018 - 18h54

    Tendo em vista que Ciro promete aumentar o imposto de renda dos extratos mais altos e reduzir dos mais baixos, promete trazer de volta o imposto sobre lucros e dividendos e critica o atual nível de imposto sobre herança (que ele acha baixo demais), vê-se claramente que ele NÃO é o candidato dos ricos.
    Toda a sua plataforma é em favor dos trabalhadores.
    Você já viu alguma das palestras do Ciro? Se tivesse visto teria certeza que ele é um candidato que se põe ao lado do povo.

    Benoit

    19/05/2018 - 03h43

    Não, esse números não provam necessariamente que o Ciro é candidato dos ricos, se consegui ler a última tabela corretamente. A rejeição do Haddad entre os eleitores com renda maior é ainda menor do que a do Ciro, o que significaria de acordo com a sua lógica que o Haddad deveria ser o candidato dos ricos. Como também a rejeição do Bolsonaro entre eleitores de renda baixa ou média é menor do que a do Lula nessa mesma categoria, isso poderia significar que o Bolsonaro é o candidato dos pobres.


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