(Ciro, Lula e Camilo. Foto: Instituto Lula).
Ontem demos um título exagerado, sensacionalista, pelo qual peço desculpas aos internautas: “Governadores do PT, PSB e Dino fecham com Ciro Gomes”.
O título ficou no ar apenas alguns minutos (no Face, não dá para corrigir, infelizmente), embora o suficiente para provocar algum estrago. Rapidamente me dei conta que havia cometido um erro e mudamos para “Governadores discutem apoio a Ciro Gomes”, um título mais honesto em relação ao teor do artigo. O texto foi publicado originalmente no Brasil 247, sob o título: “Ciro é pauta de reunião entre governadores do PT”.
O erro foi motivado, admito, por empolgação (e não por “desespero”, como disse um amigo num comentário de Facebook): eu defendo uma aliança nacional das esquerdas. Não estou sozinho nessa. Alguns governadores importantes também estão pendendo para este lado. O artigo em questão termina assim:
O fato é que governadores do PT e de partidos de esquerda começam a admitir a hipótese de aliança em favor da candidatura presidencial de Ciro Gomes (PDT), casos do mineiro Fernando Pimentel, e principalmente do baiano Rui Costa (PT), além de governadores do campo da esquerda, como Flávio Dino (PCdoB-MA), que já manifestaram suas posições publicamente.
Se o artigo afirma que os governadores do PT e de partidos de esquerda “começam a admitir a hipótese de aliança em favor da candidatura presidencial de Ciro Gomes”, eu acho que não é “fake news” falar que eles estão “discutindo apoio a Ciro Gomes”.
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, rebateu em seguida, dizendo que a reunião dos governadores não era para discutir apoio a Ciro Gomes. Com todo o respeito à senadora, nobre lutadora por nossa democracia, mas acho que ela foi um pouquinho deselegante com os governadores, que podem discutir o que quiserem, livremente. Podem discutir Ciro Gomes e decidirem que não lhes interessa apoiá-lo. Assim como podem discutir e decidir pelo apoio, e encaminhar sua vontade à direção nacional. Creio que a direção nacional do PT ouvirá, com o máximo respeito, a opinião de seus governadores.
Hoje, no Estadão, o governador do Ceará, Camilo Santana, do PT, juntou-se ao coro dos governadores que pedem ao partido para pensar no país, pôr o radicalismo de lado e não se isolar – e defendeu uma aliança nacional com Ciro Gomes. Aí não há mais margem para interpretações enviesadas. Não é “fake news”. O governador do PT, do Ceará, defendeu, categoricamente, enfaticamente, que o partido apoie Ciro Gomes. Eu reproduzo a entrevista abaixo.
Flavio Dino, governador do Maranhão, e o maior lutador, dentre todos os governadores, contra o golpe, também já declarou seu apoio à ideia de uma aliança nacional dos partidos de centro-esquerda.
Rui Costa, governador da Bahia, tem enviado todos os sinais possíveis e imaginários em direção a uma aliança com o PDT.
Alguns petistas estão me xingando muito nas redes. Um tal de Diogo Costa diz que eu “atravessei o rubicão” e que me tornei “colaboracionista, mentiroso e golpista”.
Um outro, que eu considerava um amigo, passou a dizer que sou “vendido”. Uma internauta passou a dizer que viu um vídeo meu em que eu falava em “internação”, e que eu devo estar com problemas psiquiátricos. Todas as mensagens, inclusive privadas, acabam chegando a meu conhecimento, por amigos em comum.
Bem, eles terão de chamar os governadores Flavio Dino, Rui Costa e Camilo Santana, e possivelmente o próprio Pimentel, de colaboracionistas, mentirosos, golpistas, perturbados mentais.
Gleisi deu, ontem, entrevista a uma rádio, dizendo que Lula pode registrar sua candidatura, e que, eleito, poderá ser diplomado, mesmo preso.
Com muita humildade, eu discordo da senadora. A essa altura do campeonato, acreditar que o judiciário, que já deu todas as provas possíveis de que não está ao lado de Lula, irá permitir isso, é ingenuidade. É um risco alto demais. Além do mais, é evidente que, mesmo que fosse eleito, teria imensa dificuldade para governar em tais condições: preso ou sob constante risco de prisão, tendo contra si o partido judiciário completamente enlouquecido de ódio. Um ódio que se refletirá sobre prefeitos, governadores e parlamentares do PT, desestabilizando seus mandatos e governos. Isso não é paranoia: é óbvio que será exatamente isso que irá acontecer.
Tenho profundo respeito pelas posições da direção do Partido dos Trabalhadores (PT), e entendo como é difícil tomar decisões num ambiente emocionalmente transtornado pela prisão ilegal de uma grande liderança popular. Mesmo assim, é preciso pensar com objetividade e frieza, em prol dos grandes interesses nacionais.
O PT precisa tirar sua cabeça da linha de tiro, dar um passo atrás, e investir na consolidação de suas bases, preparando-se para ampliar o número de prefeituras em 2020.
Quanto a Lula, hoje me parece evidente que a sua liberdade seria muito mais fácil de ser conquistada, caso a situação não acumulasse o peso de uma candidatura que representa, por si mesma, uma enorme carga de enfrentamento contra o judiciário. Pensar na liberdade de Lula, a meu ver, é deixá-lo se concentrar na denúncia de fraude de seu processo.
O partido dos trabalhadores precisa trabalhar a campanha presidencial. Precisa ter um candidato que participe, fisicamente, dos debates país a fora, que se reúna com sua equipe para pensar soluções para os problemas nacionais, incluindo aí os problemas relativos ao autoritarismo judicial (alguns dos quais ele mesmo ajudou a criar), discutir alianças eleitorais e políticas, visando a governabilidade a partir de 2019.
Enfim, essa é minha opinião, e peço encarecidamente aos internautas que discordam, que participem do debate com respeito.
**
Sem Lula, Camilo pede apoio do PT a Ciro Gomes
Ao Estadão, governador rejeitou ‘radicalismos’ e ‘isolamento suicida’ do partido no debate sobre opção ao petista preso
Brasília. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), disse estar convicto de que o ex-presidente Lula, condenado e preso na Lava-Jato, não conseguirá disputar a Presidência em outubro. Caso confirmado este cenário, Camilo defendeu que o PT apoie a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), seu padrinho político, e indique o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) como vice. Segundo ele, o PT “não pode apostar no isolamento suicida”.
Questionado sobre a estratégia de setores do PT de insistir na candidatura do ex-presidente, Camilo respondeu ao Estadão em tom realista e pragmático.
“Não acredito que vão deixar o Lula ser candidato. Isso é um fato. Não adianta a gente se enganar. Acho que ele poderá contribuir muito nesse processo eleitoral, mas não como candidato”.
O governador enfatizou para o Estadão que aposta em Ciro como alternativa do campo progressista na corrida presidencial. “Ciro é hoje, sem dúvida nenhuma, o principal nome para unir as esquerdas e garantir as conquistas sociais alcançadas durante os 12 anos do PT no poder. Ciro sempre foi um aliado fiel”.
Camilo desaconselhou “radicalismos” e “isolamento suicida” na discussão do PT sobre os possíveis cenários sem Lula.
“Acho que o PT tem uma grande oportunidade de fazer esse debate. Não podemos nos isolar. O momento é de união, não de isolamento. O momento não é de radicalismos, isso não vai levar a nada. O momento é de reflexão, serenidade, desprendimento. Acho que quem pensa de verdade no partido, na sua história de luta, de conquista, não pode apostar no isolamento suicida”, disse ao Estadão.