Jeferson Miola
Lula já declarou categoricamente, inúmeras vezes, que é mais que candidato na eleição de outubro próximo – é candidatíssimo, conforme recado transmitido por ele através de Leonardo Boff.
Lula anunciou sua candidatura presidencial ao mundo em artigo publicado nesta quinta-feira, 17/5, no jornal francês Le Monde.
A cada visitante que recebe na prisão injusta e arbitrária que cumpre em Curitiba – de advogados, religiosos, amigos, intelectuais, familiares, políticos, dirigentes do PT – Lula reitera a condição de candidato presidencial.
Lula designou a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, como sua porta-voz e articuladora política da campanha eleitoral.
O Diretório e a Executiva Nacional do PT têm sucessivamente reafirmado, em todas recentes resoluções, a centralidade da candidatura Lula na luta pela restauração da democracia no Brasil e para a conformação de uma ampla unidade democrática, nacional e popular para dar início à reconstrução econômica e social do país.
Lula é candidato porque não há nada que o impeça ser, ainda que a ditadura Globo-Lava Jato possa inventar nova farsa para cassar os direitos políticos dele votar e ser votado.
A despeito disso tudo, entretanto, o governador do Ceará, o petista Camilo Santana, defende o abandono da candidatura Lula e a adesão imediata a Ciro Gomes – para prevenir o que ele considera o risco de “isolamento suicida” do PT.
O governador cearense não é voz isolada no PT, embora francamente marginal. Infelizmente alguns dirigentes, parlamentares e líderes partidários vez por outra verbalizaram posição semelhante. Em comum, todos propõe a discussão a partir de uma visão imediatista e pragmática – visão, portanto, passível de equívocos de avaliação.
O imediatismo é incompatível com estes tempos vertiginosos, de imponderabilidade e imprevisibilidade dos acontecimentos.
Não existe, na conjuntura atual, variáveis de análise que permitam predizer o que poderá acontecer no dia seguinte; quanto menos até outubro. Aliás, a única “variável constante” no cenário atual é justamente aquela que mostra a incapacidade intransponível da classe dominante vencer Lula na eleição.
O imediatismo, neste sentido, concorre com os principais requisitos desta conjuntura: a paciência estratégica e a perspectiva histórica.
O pragmatismo, por seu turno, produz nos seus adeptos a ilusão instantânea de se estar desatando um problema – o imbróglio jurídico da candidatura Lula – quando na realidade se estará encaminhando o PT, a esquerda e o progressismo para uma fragorosa derrota.
A defesa do Lula não é apenas um dever de lealdade político-ideológica e de solidariedade de classe com o líder mais popular do Brasil perseguido pelo fascismo jurídico-midiático, mas a única opção inteligente e estratégica para a esquerda hoje.
Essa é a mensagem que transmitem ao Brasil importantes líderes europeus que, ao mesmo tempo em que denunciam a perseguição ao Lula, defendem o direito dele ser candidato na eleição de outubro.
Lula é inocente, e sua prisão política é cada vez mais entendida pelo povo brasileiro como resultado do arbítrio e da perseguição para impedi-lo de voltar a governar o Brasil para promover as políticas de emancipação dos pobres.
Desprezar esta realidade é pura burrice; é uma estupidez política – ou suicídio dos pragmáticos.
Quem defende o abandono do Lula para apoiar Ciro não entende que jogar Lula na arena dos leões famintos e fascistas serve unicamente à direita, mas jamais trará benefícios à esquerda.
O centro da agenda da esquerda, dos progressistas e dos democratas é a luta pela libertação do Lula e pelo direito dele ser candidato à Presidência do Brasil.
Para a esquerda, fora da consigna Lula livre existe o pântano que confunde, desorganiza e derrota o povo ante o avanço neoliberal no Brasil na sua vertente fascista inaugurada pelo golpe de 2016.