Por Bajonas Teixeira,
Cena 1: O motorista, insatisfeito porque um pino do palhaço malabarista encostou no seu carro, o espancou brutalmente e o deixou em coma. Primeiro, foi registrado como lesão corporal. Em seguida, como a vítima morreu, o registro mudou para lesão corporal seguida de morte. Ou seja, permaneceu o crime de lesão corporal.
Cena 2: Um grupo de pessoas é provocado, agredido verbalmente, xingado por um sujeito que se posta na frente do Instituto Lula em um dia (o da prisão de Lula) de extrema tensão nervosa nacional. Ele leva um empurrão cai e bate a cabeça. O caso é registrado como tentativa de homicídio. Ou melhor, de homicídio duplamente qualificado, um crime grave e hediondo, disse a juíza.
No primeiro episódio, porque somente desferiu golpes com a máxima brutalidade intencionalmente, assumindo o risco de matar, e tendo até retornado com seu carro ao local para espancar o palhaço, o agressor foi liberado. Foi à delegacia, foi ouvido e liberado.
No segundo caso, por que o agressor inicial terminou ferido por sua própria iniciativa, devido ao local e à hora que escolheu para fazer provocações, tendo conscientemente se dirigido para a porta do Instituto Lula para humilhar verbalmente os presentes, a justiça decidiu tratar-se de tentativa de homicídio contra ele. E logo foi pedida a prisão de dois, não de apenas um. Mas dos dois agredidos. Um deles, um ex-vereador do PT. Só por isso, já maculado pelo crime. E o filho, já que possivelmente há transmissão genética de sangue vermelho.
Maninho do PT eis o nome do ex-vereador. Se fosse Maninho do PSDB, Maninho do DEM, ou até mesmo Maninho do MDB, possivelmente estaria livre de suspeição. Mas Maninho do PT? Esse nome em si já é um mapa de atrocidades.
Recapitulando, nem faria sentido classificar o caso de tentativa de homicídio. Nem, muito menos, de homicídio duplamente qualificado. Nem é possível aceitar que se esqueça que o provocador foi o causador do tumulto, e só em consequência disso foi vitimado. E mais: foi em razão de ter tropeçado que se feriu, não se socos, chutes, ou outro ato violento executado contra ele.
O que está acontecendo? Será que todo petista hoje corre risco de ser classificado como homicida (em intenção) após ser insultado? Será que vamos assistir ao surgimento de um mundo maravilhoso para alguns, e tenebroso, para outros, em que matar um palhaço será apenas cometer uma lesão corporal enquanto defender-se de agressores antipetistas se tornará crime hediondo e, portanto, inafiançável?