Acordo entre Ciro e PT volta a ser discutido na imprensa baiana

Publicado na Tribuna da Bahia.

Por Osvaldo Lyra (Editor de Política)

O pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, vive um impasse sobre coligar ou não com o PT. Recentemente, o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), levantou a possibilidade de uma aliança entre os dois grupos. A declaração dele rapidamente repercutiu entre os petistas e foi veementemente refutada pela presidente nacional da legenda, senadora Gleisi Hoffmann (PT). Ciro, no entanto, ainda se mantém esperançoso com a possibilidade de entrar em acordo com a maior legenda de centro-esquerda do país. “Não tenho a menor ideia do que vai acontecer com o PT. Respeito o tempo do PT, respeito o momento traumático que eles estão vivenciando, mas há um país com 207 milhões de pessoas que precisa ser salvo de uma agenda impopular, ‘antipobre’ e antinacional gravíssima que não pode ser legitimada nesse instante. É disso que se trata. É uma agenda que está sendo tocada por um governo ilegítimo e golpista”, disse em entrevista exclusiva à Tribuna, durante um vôo entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro, de onde partiria para Fortaleza, numa pausa na agitada agenda de pré-campanha. O pedetista assegura que está conversando com praticamente todas as legendas, mas deixa claro que tem um limite: “Eu gostaria de somar todo o apoio que eu puder. Meu único limite que já está explícito é o MDB. Considero que o MDB precisa ser extinto pelo caminho da democracia”. Ainda no papo, Ciro faz uma avaliação dura contra o governo de Michel Temer, traça estratégias de campanha e revela o que vai fazer nos primeiros seis meses caso seja eleito presidente da República. Confira:

Tribuna da Bahia – Como o senhor avalia o processo eleitoral em curso? O cenário está totalmente indefinido, às vésperas da eleição?

Ciro Gomes – Sim, o cenário ainda está bastante indefinido. Acredito que, do ponto de vista histórico, isso será visto como o final de um ciclo. O fim de ciclo representa a negação de uma polarização que nos dividiu ao longo dos últimos 20 anos e a busca de uma liderança nova que não está definida ainda no quadro desse governo no país. Isso é parecido com o que aconteceu em 1989. Ali também havia um fim de ciclo. Os grandes partidos estavam desmoralizados. A população estava procurando uma liderança. Acabou aterrissando em uma fratura em que o primeiro e o quarto tiveram uma diferença de menos de seis pontos.

Tribuna – Qual será o perfil do novo presidente? O que o senhor acredita que a população vai cobrar ao longo da campanha e quais requisitos serão colocados em cheque?

Ciro – Acho que, ao contrário da mistificação que se fez, especialmente ao redor da eleição de São Paulo nas últimas eleições municipais, a população vai procurar a ficha limpa, experiência, ideias concretas para a solução de problemas complexos da vida popular – tais como emprego, saúde e a questão da violência.

Tribuna – A Lei da Ficha Limpa está consolidada no país. Lula será candidato mesmo preso? Ou o senhor acredita que isso é uma estratégia do PT para se manter firme e formar, sobretudo, bancadas nos estados?

Ciro – Não tenho a menor ideia do que vai acontecer com o PT. Respeito o tempo do PT, respeito o momento traumático que eles estão vivenciando, mas há um país com 207 milhões de pessoas que precisa ser salvo de uma agenda impopular, antipobre e antinacional gravíssima que não pode ser legitimada nesse instante. É disso que se trata. É uma agenda que está sendo tocada por um governo ilegítimo e golpista. É uma agenda que, mascarada por pressões de marketing, ser legitimada pelo voto. Nesse momento, o futuro do país passa por uma grave ameaça. Acredito que o PT, no momento oportuno, vai ver isso.

Tribuna – O senhor acredita que será possível construir uma aliança dos partidos de esquerda já no primeiro turno?

Ciro – Não acho provável. Seria muito bom, não só pela potencialização das nossas possibilidades eleitorais, mas porque daria mais consistência para o governo que se iniciaria a partir dessa vitória eleitoral.

Tribuna – Como vê a resistência de parte do PT em apoiá-lo?

Ciro – É natural. O PT é o principal partido do campo progressista brasileiro. Hegemonizou a política do país ao longo dos últimos 14 anos. É bom lembrar que nesse período inteiro teve o meu apoio em 100% dos dias, sem faltar nenhum. Lula esteve no centro dos processos eleitorais em todas as eleições desde a redemocratização, seja como candidato ou impondo com sua popularidade grande a candidatura de Dilma. Ele esteve presente em todas as eleições. Não é fácil para um partido que tem essa história compreender a dinâmica do que está acontecendo no país.

Tribuna – Essa prisão de Lula, de certa forma, deixa a situação do país muito mais delicada, sob o risco mesmo de pressões e movimentos políticos incontroláveis…

Ciro – Sim, mal administrado esse patrimônio político que o Lula tem pode ferir a legitimidade do processo. A questão da prudência, da cautela, de pensar na questão do país, da democracia, são tarefas importantes dos petistas nesse instante (especialmente do Lula, apesar de estar num momento de grande trauma). Acredito que na hora apropriada eles serão capazes de perceber essa responsabilidade.

Tribuna – Já foi cogitada, inclusive, a possibilidade do PT indicar um vice numa chapa com o senhor. Isso é um cenário que, de certa forma, já começou a ser conversado ou não há nenhum tipo de entendimento nesse momento?

Ciro – Não há nenhum tipo de entendimento e nem é possível. De um lado, o petista médio se sente meio que traindo o Lula se começar a pensar em outra coisa que não seja obedecer a diretriz de que ele é o candidato. Mas isso leva um tempo. É preciso que a gente respeite isso e tenha paciência. Portanto, eles não vão considerar tão cedo outra possibilidade que não seja Lula candidato.

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