Meu ídolo, amigo e chefe (em ordem decrescente), Miguel do Rosário, publicou um texto na sua página pessoal – e depois aqui no Cafezinho – que andou circulando por alguns grupos do Zap no qual faço parte. No mesmo Zap, na noite anterior, eu e ele debatemos um bocadinho sobre o Ciro, o PT e o Brasil, o que pode ter inspirado o post dele.
Conheço o Miguel o suficiente para saber a paixão dele por debates. Se chamou para a discussão é porque realmente quer se confrontar com outras visões a ponto de aumentar seu conhecimento sobre o assunto. Posso adiantar que não concordo com o ponto de vista dele, apesar de respeitar é claro, e aqui vai parte dos meus argumentos:
Em 2016 tivemos um Golpe de Estado que costumamos chamar, também, de ruptura institucional.
Assim, como pressuposto básico da nossa conjuntura considero que nossa democracia violada já não é mais a mesma e não voltará ao estado anterior. Ou o Golpe se aprofunda ainda mais e encaramos uma ditadura de fato, ou a população volta a ter voz e, aprendendo com os erros do passado, constrói outra formatação republicana.
Vários acontecimentos me fazem pensar dessa maneira. Vale ressaltar, por exemplo, que nenhuma República de verdade aceitaria a implementação do programa de governo derrotado nas urnas. Aliás, nem uma democracia meia boca permitiria que os partidos de oposição ( repito, derrotados pelo voto) virassem situação da noite para o dia
O que não falta são exemplos de que a Nova República não só acabou como, talvez, nem tenha chegado a ser uma República de fato. Temos um Tribunal Eleitoral movido por meia dúzia de burocratas e que foi capaz de julgar as contas da campanha vencedora da última eleição como plano B caso o impeachment não ocorresse; possuímos uma mídia concentrada e perversa que age como um partido político; vimos, nesse tempo, juízes de primeira instância aderirem à política partidária abertamente, a ponto de apitar quem o presidente pode ou não indicar como ministro.
Lembro, ainda, que nosso Procurador Geral da República foi à Davos dizer que uma operação do Estado brasileiro é “pró mercado” e, por fim, que nosso Exército pressionou abertamente nosso Supremo num movimento que não víamos desde a ditadura.
Nesse sentido, podemos imaginar como será a disputa eleitoral deste ano (se acontecer).
Não deixo de calcular, assim, quantas matérias mentirosas a Veja e Globo poderão fazer deliberadamente enquanto blogueiros – como eu ou o Miguel – terão que responder por “fake news”, talvez, como Carone “respondeu” na eleição de 2014. Acho que podemos pensar, também, quantas doações legais do nosso campo serão colocadas em cheque (penso na dificuldade que terá uma empresa do Ceará, que teve algum contrato nas gestões da família Gomes, doar legalmente dinheiro pra campanha do Ciro) enquanto a direita poderá financiar com caixa 2, 3 ou 4 seus candidatos (e na hora me vem à cabeça o tal fundo Renova Brasil).
Nessa conjuntura golpista, as eleições de 2018 se torna apenas mais um campo de disputa institucionalmente controlado por quem deu o Golpe e o aprofundou. Sendo assim, é inócuo – e estrategicamente errado – querer apostar em um candidato que irá disputar um jogo de cartas marcadas, afinal, se não temos República e muito menos democracia, o voto popular tem o mesmo valor que uma bala chita.
A não ser que esse candidato seja maior que as próprias eleições e, com isso, carregue consigo o peso do sonho revolucionário (como foi Getúlio em 1930). E o único nome que temos para isso, atualmente, é o Lula.
Assim, o não apontamento para o nome do Ciro (ou do Boulos ou da Manuela) não é questão de sectarismo, mas sim pensamento de quem considera equivocada a estratégia de focar nas eleições deste ano.
Dentro da maior exemplo da luta de classes que vivemos nas últimas décadas (a burguesia prendeu, humilhou e quer inviabilizar o maior operário da história desse país) a nossa saída não pode passar por deixar o símbolo dos trabalhadores de lado para apostar numa eleição oriunda de instituições falidas e reacionárias.
Portanto, abraçar a ideia que essa República golpista pode simplesmente tirar nossa maior liderança do jogo democrático, apontando outro nome como se nada estivesse acontecendo, é amargar uma derrota sem precedentes.
Não consigo enxergar uma maneira viável de, por exemplo, irmos às ruas pressionar o TSE para que o aceite a candidatura do Lula se tivermos indicado algum sucessor, como se aceitássemos uma outra alternativa que não fosse o presidente. Ou mesmo que teremos argumento para, ao mesmo tempo, denunciar um pleito sem o ex-presidente, tentando ganhá-lo com outro nome.
Ou encaramos que eleição sem Lula é fraude e vamos até às últimas consequências, ou aceitamos nossa derrota de cabeça baixa, vendo as instituições manipularem o que for preciso para nos derrotar.
O desenrolar do futuro, aquela astronave que não conseguimos pilotar, nos permitirá alguma reação efetiva ao Golpe e, quando isso ocorrer, estaremos lado a lado com quem se comprometa a defender o país contra o entreguismo e o fascismo crescente, tenha ele ou ela o nome de Ciro, Luciana, Guilherme, Manuela, Aldo, Renan e, se bobear, até Marina.
Até essa hora chegar não existe outra tarefa a não ser uma pauta ousada e não institucional sem medo algum do uso da palavra revolução e seus derivados.
E todos esses caminhos passam por um único nome: Lula.