Publicado neste link.
O velho clichê de que a esquerda só se une na prisão parece se confirmar novamente. Juristas de várias partes do mundo, capitaneados por John Camaroff, professor da Universidade de Harvard, afirmam que Lula é um preso político. E essa conclusão parte de uma análise estritamente técnica, com base na sentença do juiz Sérgio Moro, que, para estes juristas, se mostra inconsistente por não corresponder à denúncia, não apresentar provas e aplicar o chamado lawfare, método pelo qual o raciocínio jurídico é usado de forma fraudulenta para fins determinados a priori.
No caso de Lula, o fim determinado da prisão seria impedir sua candidatura à presidência, já que ele é líder em todas as pesquisas de opinião. Foi diante dessa realidade que dois outros candidatos da esquerda partiram em solidariedade ao líder petista: Manuela D’Ávila, do PC do B, e Guilherme Boulos, do PSOL. E reparem no uso da palavra solidariedade. Nenhum dos dois abriu mão da própria candidatura. Eles apenas se uniram ao ex-presidente diante do que consideraram ser uma grande injustiça. Portanto, estavam solidários, não submissos. E este é o conceito determinante da união.
No dia da prisão de Lula, o ato em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo também contou com representantes de outras legendas de esquerda, como PSTU, PCO e PCB. Só faltaram o PDT e o PSB para completar a união. Não faltam mais. Ou, pelo menos, parece que não.
No PDT, o candidato Ciro Gomes já iniciou uma aproximação com o PT através de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e coordenador do programa do partido. No PSB, a desistência de Joaquim Barbosa só deixa um caminho para os militantes: alianças à esquerda. E isso foi definido na convenção nacional do partido, não é uma simples conjectura, apesar da federação de interesses abrigados na sigla.
Ainda não é possível afirmar que essas legendas conseguirão manter o barco unido. Provavelmente, haverá três ou quatro candidatos fortes no primeiro turno. Mas, se forem capazes de segurar o leme, terão capacidade para colocar um deles na disputa final. Portanto, vale relembrar os quatro princípios básicos da união, outro clichê muito útil nos dias atuais.
Primeiramente, união quer dizer assumir riscos. União é fazer a pipoca usando uma panela sem tampa e não deixar que nenhuma delas caia no chão.
Segundo, são esses riscos que fortalecem a união. Quanto maior o desafio, maior a grandeza da união. O desafio da esquerda é manter a panela cheia.
Terceiro, é verdade que a união faz a força, mas é ainda mais verdade que a humildade faz a união. Não é preciso ter uma panela de prata. Basta o bom e velho teflon para se manter unido.
E, por último, é preciso ter paciência.
Se você quer ir rápido, vá sozinho.
Se você quer ir longe, vá em grupo.
A união das esquerdas é um filme que está apenas começando. A pipoca na entrada do cinema tem várias marcas, mas existe uma que representa a todos: a solidariedade.
A campanha #LulaLivre é um símbolo forte dessa solidariedade.
Felipe Pena é jornalista, escritor, psicólogo e professor da UFF. Autor de 16 livros, foi diretor de análise de conteúdo da Rede Globo e comentarista da Estúdio I, na GloboNews.