Por que destroem a Unasul?. Por Maria do Rosário

Foto Lula Marques/Liderança do PT na Câmara.

Artigo da deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul, Maria do Rosário.

Na última semana, os governos do Brasil, da Argentina, Peru, Colômbia, Chile e Paraguai, todos da nova onda de inspiração conservadora na América do Sul, resolveram bombardear a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

No caso brasileiro, o objetivo é praticar mais livremente a diplomacia submissa que governantes que chegaram pelo golpe parlamentar ao poder, praticam desde o momento em que pisaram no Itamaraty.

Preservado o reconhecimento justo à competência e dedicação aos interesses do Brasil, de quadros de carreira da instituição, o chanceler atual age exatamente no sentido contrário à diplomacia com autonomia – como Chico Buarque referiu-se certa vez, esbraveja com a Bolívia, enquanto fala fino a linguagem que agrada a Washington.

O que Temer e o chanceler agressivo com nossos vizinhos de continente operam é a destruição de um instrumento de integração regional histórico, com grande contribuição já prestada ao continente e muito por fazer.

O primeiro aspecto a ser relembrado, é que a Unasul, construída após longo processo de diálogo regional, diferente de outros blocos que iniciaram sua agenda por interesses econômicos, foi firmada a partir da orientação política de fortalecer o sentido de uma cidadania regional no continente.

Entre seus objetivos primordiais, encontra-se desenvolver uma cooperação voltada a construir relações solidárias para o desenvolvimento comum de seus integrantes, superando assimetrias econômicas e sociais, e fortalecendo soluções democráticas, sustentáveis e soberanas a serem tomadas como parte da adesão das nações ao pacto regional.

A formação da Unasul partiu do reconhecimento de que o conjunto dos estados nacionais mantém relações econômicas e político-culturais prioritárias em movimentos extracontinentais ao longo da história.

Estudos indicam que barreiras geográficas naturais, demandam iniciativas planejadas de superação, estabelecendo conexões terrestres mesmo em regiões como a Cordilheira dos Andes e a Amazônia. Temas como a preservação ambiental, populações fronteiriças, validação da educação, uso racional das riquezas naturais e planejamento do enfrentamento a crimes internacionais, são questões que melhor se desenvolvem com uma integração permanente.

A Unasul também é essencial na relação com a economia regional e o Mercosul, sendo bastante claro seu papel, pois todos os países que a compõe, mesmo não participantes do mercado comum, foram considerados por ele como associados e colaboradores.

O significado dessa integração é fundamental para o Brasil, mesmo sendo o parceiro econômico mais forte da região. Sem vínculos e liderança regionalmente reconhecida, nosso país ficará mais vulnerável a especulações financeiras e protecionismos que o norte global realiza sobre sua economia – arvorando-se, porém, de uma autoridade (que não deveria ter) que impede que façamos entre nós mesmos, protegendo cada nação e a região.

O equilíbrio regional e o planejamento conjunto estão entre as principais ferramentas para superação da miséria extrema no nosso continente. Historicamente marcado pela exploração de suas riquezas, simbolizadas por Eduardo Galeano como veias abertas a irrigar com o sangue de nossos povos originários os padrões de riqueza e consumo dos países ricos, novamente nos vemos submetidos a líderes ilegítimos que entregam à força vital de nossa terra e nossa gente.

O fruto mais amargo do enfraquecimento da democracia que nos é muito cara, construída por gente que lutou contra ditaduras e enfrentou ontem o Plano Condor, e não mudou de lado hoje, é o aviltamento das liberdades democráticas e da soberania nacional no Brasil e na região.

Para os governos de Macri e outros, acabar com a Unasul é o cumprimento de mais um item na agenda de retrocessos. Se no plano nacional eles abrem o caminho para privatização das riquezas e do patrimônio público, desregulamentando relações de trabalho para assegurar a ampliação de taxas de lucros aos conglomerados financeiros internacionais que lucram com o ajuste fiscal na Argentina e no Brasil, comprometer a integração latino-americana é parte de seu projeto.

Já entregaram seus próprios povos à exploração, e agora entregam os povos e as nações mais pobres da região novamente à superexploração norte-americana, ao destruírem os pactos construídos na Unasul.

São uns vendilhões. Vão pra história como lacaios.

(Em memória de Marco Aurélio Garcia)

*Maria do Rosário é deputada federal pelo PT do Rio Grande do Sul

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