IMAGEM: giuseppebizzarri
Segundo o robusto relatório do Observatório do CESeC, nos dois primeiros meses da ação da Intervenção dobraram o numero de chacinas de 6 para 12.
Depois da Intervenção aumentaram os tiroteios, balas perdidas, mortes e casos de chacinas
Por Pedro Cheuiche
sexta-feira 27 de abril| Edição do dia
O estudo que reuniu dados dos 60 primeiros dias da Intervenção Federal no Rio de Janeiro apurou que período em que foram realizadas 70 operações com o emprego de 40 mil militares, 25 pessoas morreram e 140 armas foram apreendidas, sendo 42 fuzis.
O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Candido Mendes soltou seu primeiro relatório do Observatório da Intervenção e contou com a Plataforma Fogo Cruzado, Onde Tem Tiroteio (OTT) – RJ e DepeZap, que monitoram sistematicamente os casos de violência e tiroteio no Rio e junto a outras organizações sociais, o nome do relatório se chama “À Deriva – Sem Programa, Sem Resultados, Sem Rumo”. Leia o relatório completo aqui.
Foram comparados os dois meses anteriores à intervenção com os dois meses posteriores. De acordo com o estudo, o número de chacinas dobrou no período: foram 12, com 52 vítimas nos dois meses posteriores ao início das ações federais, contra seis chacinas, com 27 mortos antes da intervenção.
O numero de tiroteios também aumentou, dois meses antes da intervenção foram 1.299 tiroteios, contra 1.502 após o início da ação do governo. O número de mortos também aumentou de 262 para 284. Segundo a pesquisa “de 16 de fevereiro a 16 de abril, os tiroteios, balas perdidas, pessoas feridas e mortas e casos de chacinas (três ou mais mortes num único evento) aumentaram.”
A pesquisa chama atenção para o forte cunho político que permitiu Temer “abandonar, sem maiores danos, a sua principal agenda, a Reforma da Previdência, já que a Constituição proíbe a votação de propostas de emenda constitucional durante períodos de intervenção”.
A intervenção não veio solucionar o problema da violência e, talvez, até tenha criado outros novos, que não tínhamos — afirmou ao Jornal O Globo a coordenadora do CESeC, Sílvia Ramos. A pesquisa frisou que “o general deixou claro que a decisão havia sido tomada sem a formulação de estratégias e objetivos” e que passados 2 meses esses objetivos ainda estão nebulosos.
Quem pagará a conta da intervenção?
Segundo consta no relatório, baseado numa pesquisa do Inesc sobre documentos oficiais revelou-se que o chamado Gabinete da Intervenção terá uma estrutura robusta: “Ao todo, serão 67 cargos, dos quais dois DAS 6 (remuneração de R$ 16 mil) e 15 DAS 5 (valor de R$ 13 mil). Essa estrutura, digna de um pequeno ministério, se estenderá até junho de 2019.”
O Governo Federal se comprometeu a pagar 1,2 Bilhões para a Intervenção, a pesquisa se coloca a seguinte questão: “numa época de vacas magras, em que serviços sociais básicos têm sido afetados, de onde virá esse 1,2 bilhão de reais?” (…) Cerca de R$ 200 milhões são originários de programas da Câmara dos Deputados. A origem do R$1 bilhão restante é explicada em documento da
Consultoria do Orçamento da Câmara: “decorre de utilização de superávit financeiro apurado no Balanço Patrimonial da União no exercício financeiro de 2017”. Um superávit até agora não mencionado no debate sobre o Orçamento da União.” O enorme gasto com segurança pública já coloca o Rio de Janeiro como o segundo estado em termos de investimento per capita em segurança pública, superado apenas por Roraima.
Índices de Violência
O questionamento ali levantado também se preocupou com que indicadores de violência o período pré intervenção contava. Destacando que “O Brasil já experimentou situações mais tensas de desordem urbana do que o carnaval de 2018, como a onda de saques em Vitória (2017), as séries de mortes a partir de motins em presídios em estados do Nordeste (2016, 2017 e 2018) e os ataques do PCC em São Paulo (2006). No Rio de Janeiro, o estado atravessou fases mais difíceis no fim dos anos 1990 e em 2002, com taxas de homicídio muito maiores que os atuais e graves ataques por facções”. Destacou-se também que segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2017, o estado está em 11º lugar em relação aos homicídios – no Rio, a taxa é de 37,6 por 100 mil habitantes, contra 60 por 100 mil em Sergipe.
O relatório também aponta a falta de informções sobre os custos das operações desde o início da intervenção e concui que interesses políticos motivaram a decretação da intervenção.