(Boff tentando visitar Lula. Foto: Eduardo Matysiaki)
Por Pedro Breier
Todo ser vivo tem medo da morte. O desconhecido pode ser apavorante, afinal.
Sendo a morte a suprema incógnita, é também o supremo pavor.
Ninguém sabe com certeza o que acontece depois dela, se é que acontece alguma coisa – e a possibilidade de não acontecer nada é, talvez, a mais assustadora de todas.
A velhice, sinal indelével da passagem do tempo, também provoca medo, justamente por lembrar-nos de que o fim está cada vez mais próximo.
Contudo, se prestarmos atenção, podemos perceber que por toda parte há velhinhos demonstrando que a decadência física é apenas um detalhe insignificante: a capacidade do ser humano de produzir maravilhas não respeita limites físicos.
Leonardo Boff, 79 anos, expoente da Teologia da Libertação e defensor incansável dos pobres e excluídos, e Adolfo Pérez Esquivel, 86 anos, ativista dos direitos humanos e ganhador do Nobel da Paz, ao batalharem para serem autorizados a visitar Lula na prisão, demonstraram espetacularmente que a sempre bela luta por justiça não tem idade.
Boff escreveu que queria visitar Lula para reforçar a tranquilidade da alma que o amigo de 30 anos sempre manteve.
Esquivel queria, além de visitá-lo, inspecionar as condições do cárcere de Lula.
Amizade, humanidade, aguerrimento, senso de justiça, compaixão, amor. A velhice aparentemente só fez expandir estes belos predicados de Boff e Esquivel.
Lula, aliás, com seus 72 invulgares anos de vida, é outro exemplo, ainda mais impressionante, das façanhas que só a sabedoria que acompanha a velhice pode permitir: preso político por fazer um governo com viés popular, entregou-se à justiça porque “inocente não foge”, nas suas próprias palavras.
Bravo.
O genial José Saramago, outro que passou a velhice lutando implacavelmente contra as injustiças e a miséria humana, escreveu “que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós”.
A auto-observação é, de fato, o único caminho possível para expandirmos nossa consciência.
Outro velho genial, o diretor Alejandro Jodorowsky, 89 anos, demonstrou de forma estupenda, no seu filme autobiográfico Poesia Sem Fim, que a velhice é a melhor idade para desapegarmos das coisas menos importantes e sairmos da ilha:
A velhice não é uma humilhação. Te desprende de tudo. Do sexo, da fortuna, da fama. Você se desprende de si mesmo. Converte-se em uma borboleta, resplandecente! Um ser de… pura luz.
Não temamos a velhice, portanto.
Agradeçamos, isso sim, pelos lindos exemplos destes seres de pura luz.
Viva a velhice.
Viva a vida.