Jeferson Miola
Para o júbilo
o planeta
está imaturo.
É preciso
arrancar alegria ao futuro.
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.
Vladimir Maiakóvski, no poema dedicado a
Sierguei Iessiênin – poeta russo e amigo.
A prisão política do Lula não é uma injustiça qualquer.
É uma injustiça equiparável às injustiças perpetradas contra os grandes personagens da história, submetidos ao martírio porque simbolizavam interesses antagônicos aos dos poderosos do seu tempo – Sócrates, Cristo, Gandhi, Fidel, Mandela, Getúlio…
Lula é inocente.
A Globo, Moro, Dallagnol e os poderosos que verdadeiramente estão por trás da Lava Jato e do golpe têm consciência de que Lula é e sempre foi inocente. Por isso forjaram a farsa jurídica operada à jato para viabilizar sua condenação e prisão fraudulenta em tempo recorde, de olho no calendário eleitoral.
Contra Lula não existe uma única prova de um único crime sequer. Existe apenas a obsessão fascista e doentia de condená-lo para castigá-lo com a privação do mais transcendente direito que todo ser humano adquire ao nascer: a liberdade.
Condenaram Lula ao castigo cruel do isolamento social e do silenciamento da sua voz não porque ele cometeu uma única ilegalidade, mas porque, como maior líder popular do Brasil, Lula significa o fim do golpe e do regime de exceção e a restauração da democracia no país.
A proibição despótica de Lula receber visitas de parlamentares, governadores, do líder religioso Leonardo Boff e do Nobel da Paz Perez Esquivel, sinaliza que o fascismo será impiedoso, implacável e, enquanto suportar, seguirá indiferente ao clamor internacional que reclama justiça para Lula.
Todo esse massacre, porém, é em vão. Quanto mais agridem Lula, mais fica esclarecido no imaginário popular que ele está sendo injustiçado, e mais estampada fica a motivação política da perseguição a ele.
Hoje, Lula seria eleito no primeiro turno. Mesmo banido da eleição, continua sendo a peça decisiva do tabuleiro – o jogo eleitoral passa por Lula, inclusive os movimentos da direita.
O projeto de poder de médio e longo prazo da ditadura Globo-Lava Jato está comprometido.
A despeito de toda armação fascista, não conseguem ter viabilidade eleitoral. Com Alckmin cada vez mais esvaziado, deverão concentrar a aposta em Joaquim Barbosa – e, se essa opção também fracassar, então … cancele-se a eleição.
Perdemos o presente – o curto prazo –, é preciso reconhecer. Afinal, o projeto emancipatório que retirou 40 milhões da miséria foi golpeado numa conspiração que abarcou a Globo, a PF, o MPF, o judiciário, o Congresso e o capital nacional e internacional em aliança com agências norte-americanas.
É um período de derrota da soberania nacional, dos direitos do povo, da democracia, da integração regional e do Estado de Direito. A agenda anti-povo e anti-nação, executada com fúria selvagem, exigirá um esforço extraordinário para a reconstrução do país.
A dignidade socrática com que Lula deixou-se levar pelos carcereiros naquele de 7 de abril, entretanto, escreveu na eternidade da história os gestos, os símbolos, as imagens, as representações e, sobretudo, o discurso político que conecta a esquerda e os valores humanistas com o futuro que já começou.
A elite dominante conseguiu muito com o golpe, é verdade; mas fracassou no objetivo estratégico e fundamental de exterminar Lula, o PT, o lulismo, o progressismo e a esquerda.
A luta não só continua, como ficou ainda mais unitária, mais forte, mais massiva e mais generosa. Da resistência ao golpe e da sobrevivência no regime de exceção/na ditadura brota uma dialética de afirmação da possibilidade de futuro em meio a esse contexto de derrota.
O horizonte onde se enxerga a vitória da esquerda, do povo e da democracia está distante, porém ao alcance não só dos olhos, como também das mãos. A direita, os fascistas nos roubaram o presente e o curto prazo, mas não conseguiram nos roubar o futuro.
Como disse Maiakóvski, o grande poeta russo, “para o júbilo o planeta está imaturo. É preciso arrancar alegria ao futuro”.