(Foto: Memorial Globo / Acervo pessoal Ali Kamel).
O cientista político João Filho, que assina a coluna mais lida do Intercept, publicou artigo ontem em que ironiza o discurso de isenção da Globo. Leia a íntegra do artigo aqui.
Abaixo, alguns trechos.
(…) Chico Pinheiro, um dos únicos jornalistas do time principal da Globo a tomar posições mais progressistas publicamente, teve áudios gravados no WhatsApp vazados. Neles, criticava a cobertura da Globo, Sérgio Moro e prestava solidariedade a Lula, a quem considera um injustiçado.
Logo após a viralização dos áudios, o chefe de jornalismo da Globo, Ali Kamel, aquele jornalista que defendeu em livro a tese insana de que o Brasil não é um país racista, emitiu um comunicado interno igualmente insano alertando seus subordinados sobre a etiqueta jornalística da casa. Alguns trechos soam como piada a qualquer um que esteja minimamente ligado no jornalismo global.
“O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos.”
(…)
A cobertura da prisão do Lula feita ao vivo pela GloboNews, por exemplo, foi toda calcada na narrativa de que a justiça estava sendo feita. Todos os jornalistas que trabalharam na cobertura falavam com certo deboche sobre os argumentos contrários à prisão, reduzindo a defesa de Lula como mera bravata política do PT e fingindo ignorar que outros partidos, juristas, jornalistas, intelectuais, enfim, parte significativa da sociedade civil do Brasil e do mundo comungava da mesma opinião.
Gerson Camarotti, um jornalista que gosta de repetir que as instituições estão funcionando normalmente, disse durante a cobertura que havia uma estratégia de vitimização do PT, que Lula teve amplo direito de defesa e que foi julgado pela primeira, segunda e última instância. Como se isso bastasse para definir a prisão como legítima, ignorando que grandes injustiças históricas do mundo seguiram os ritos judiciais, como o próprio golpe de 1964, que teve o aval do STF.
Apesar do disfarce de jornalismo isento, ali está claramente embutida a opinião do profissional, ainda que de forma implícita. É natural que seja assim. Jornalistas são seres humanos, animais políticos com opinião, e não robôs programados para repassar informação com neutralidade. Isso não existe. Uma lição básica do jornalismo é a de que é possível contar uma mentira informando apenas verdades. Por isso, quanto mais se souber o que realmente pensa o jornalista, melhor. O que falta ao jornalista não é a falsa imparcialidade cobrada por Kamel, mas transparência.
Segue o comunicado:
“Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento”
Mas parece que algumas preferências contaminam mais o jornalismo do que outras. Nem todo pecado de opinião foi motivo para ação castradora do chefe. Alexandre Garcia, por exemplo, é dos jornalistas mais prestigiados da empresa e suas opiniões políticas sempre foram expressas com vigor nas redes sociais. Nunca se soube de um comunicado interno quando Garcia afirmou de forma categórica que os “53 milhões de eleitores que votaram em Dilma” seriam “cúmplices” da corrupção na Petrobras. Será que ele, que foi porta-voz da ditadura militar, também poderia ser chamado de cúmplice dos assassinatos e torturas comandados pelo regime do qual fez parte? Também não se soube de comunicado interno quando Garcia lembrou com saudosismo do que para ele foram anos dourados:
“Um último registro: a morte do capitão do Tri no México, Carlos Alberto. Foi a melhor equipe que o Brasil já teve e marcou o início do entusiasmo que empurrou o Brasil para 3 anos de crescimento médio de 11,2% ao ano – crescimento chinês – com o entusiasmo de todos. Inclusive eu, estudante na época, como todo mundo, tinha no carro o plástico: ‘ame-o ou deixe-o’, que era um recado para os terroristas, entre os quais estava a Dona Dilma.”
Esse é o jornalista “correto e isento” que a Globo escala para comentar política em seus principais programas jornalísticos. Alguém que chama uma ex-presidenta de “terrorista” pelo simples fato de ter lutado contra a ditadura militar. Não se soube de qualquer constrangimento de Ali Kamel diante dessa barbaridade antidemocrática proferida por Garcia. O Grupo Globo se desculpou por ter apoiado o golpe pero no mucho, não é mesmo?
A jornalista Leilane Neubarth, que costuma opinar tranquilamente em suas redes sociais, tratou a prisão do ex-presidente como uma vitória do Brasil sobre Lula e o PT, assim como fez o MBL. Não se trata de uma opinião solta. Ela estava integrada à narrativa adotada pela Globo durante todo o processo que levou Lula para a prisão.
Acabou : 6X 5 CONTRA a liberdade de Lula . Dia longo, exaustiva . Vence o Brasil !!!! E o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no céu da Pátria nesse instante !!!!!
— Leilane Neubarth (@LeilaneNeubarth) 5 de abril de 2018
Não há relatos de que esse tweet tenha incomodado a chefia. Na verdade, nesse caso, nem é a opinião que está “contaminando o trabalho jornalístico”, mas a pontuação gramatical aplicada no modo freestyle.
(…)
Está bastante claro que o problema não foi Chico Pinheiro ter expressado uma opinião política. O problema foi ele ter expressado uma opinião política não alinhada à da empresa. O comunicado de Kamel não é um recado para todos seus funcionários a fim de zelar pela credibilidade jornalística da empresa, mas uma maneira velada de tomar conta dos “seus comunistas”.
Rogerio Faria
19/04/2018 - 07h54
Lula deveria ter feito as reformas que o País precisava, entre ela a da radiodifusão e não fez.
Agora está pagando os seus pecados.
Uanderson
17/04/2018 - 16h04
De isenta a Globo não tem nada. O candidato deles é o Álvaro Dias.
Eduardo
17/04/2018 - 08h54
O Brasil está abarrotado de idiotices que se tornaram o carro chefe da imprensa de mau caráter e golpista brasileira sob a liderança torpe da Globo.! Não se tem um mínimo de ética ou seriedade.A imprensa golpista brasileira não informa como deveria ser seu princípio! Ao contrário,tornou-se emissária da mentira e da hipocrisiaem favor de seus interesses comerciais. Perdeu a fé pública! A bandidagem e incompetência das emissoras de TV e de rãdio, especialmente a Globo, são praticadas agredindo os poucos jornalistas sérios e a sociedade. A Imprensa, a Globo se tornaram cânceres instalados que causam terror na sociedade brasileira! Os tempos da imprensa respeitãvel e isenta se foram! A Globo vem cuidando de sepulta-lá. .
Adalberto
17/04/2018 - 03h17
Já disse que não existe um Oscar Schindler na Globo – esta mais para lobo em pele de cordeiro, como o capitão do exercito alemão que ajuda o músico judeu no filme “O Pianista”. Esse papo de “discurso progressista” de Chico Pinheiro e o suporto e-mail do Ali Kamel são mais fake que os motivos alegados para a intervenção das “potências ocidentais” na guerra da Síria. A Globo é do mal. A Globo não deve perder dois anos de verbas publicitárias governamentais. A Globo deve ser obrigada a pagar suas dívidas com o governo federal. Isto sim, vai fecha-la. Agora isso será possível? Com esse congresso e senado. tá difícil ! Nos estamos nos preocupando somente com o cargo principal do executivo: presidente. E os deputados e senadores? Militância acorda! Vamos trabalhar para eleger um congresso progressista. Quando digo “progressista” quer dizer se esforçar para eleger deputados do “time de Lula”, ou seja daqueles partidos que assinaram o manifesto contra sua prisão política.
Eduardo
17/04/2018 - 00h44
O Brasil está abarrotado de idiotices que se tornaram o carro chefe da imprensa golpista brasileira sob a liderança torpe da Globo.! Não se tem um mínimo de ética ou seriedade. A mentira, a hipocrisia e a incompetência das emissoras de TV e de rãdio, especialmente a Globo, são praticadas agredindo os os jornalistas sérios! A Imprensa, a Globo se tornaram cânceres instalados na sociedade brasileira!
Luiz Carlos P. Oliveira
16/04/2018 - 19h42
Se a esquerda ganhar as eleições, seu governo deve cortar, por 2 anos, qualquer propaganda institucional e matar esses fdp à mingua. Será uma morte lenta e dolorosa desses cafajestes. Devemos, ainda, boicotar qualquer produto que anuncie nessa mídia vagabunda. Aliás, os anunciantes já encomendaram pesquisa sobre o boicote que parte da sociedade já está impondo à algumas marcas. BOICOTE JÁ!.
Walter Pastori da Fonseca
16/04/2018 - 19h17
Antonio Sobreira seu comentario preciso perdemos uma grande oportunidade de baixar a bola da nefasta globo com excesso de republicanismo de Lula e Dilma.
Reginaldo Gomes
16/04/2018 - 18h31
Do que a globo tem mais medo , ou melhor, pânico?
Da democratização da mídia , “ley de medios” !!!!!
Resposta ERRADA! A globo tem pânico da democratização da internet!!!! Imaginem só as ondas eletromagnéticas da internet serem gratuitas como as ondas eletromagnéticas de televisão e rádio????
Ela morre de fome em 90dias.
Rita Andreata
17/04/2018 - 17h28
Morre também se sua dívida fiscal bilionária for cobrada
Paulo cesar carvalho gonçalves
16/04/2018 - 17h12
Jamais vi a globo imparcial, mas mais para parcial. ( alguns jornalista sao como capitão do mato, e ela nao se importa, mas em se tratando da eswuerda so Brizola sabe explicar, gosta de ver povo burro para ver sua novelas.
Antonio Sobreira
16/04/2018 - 16h50
é lamentável não ocorrer um contraditório. Sempre selecionando opiniões e opinadores qualificados ou não. É algo que não toca a população pobre no sentido profundo, mas no superficial esta empresa passa a mensagem de seus interesses. Não há o que fazer, salvo insistir na denúncia. Não se pode contar com a justiça, com os formadores de opinião…tem que contar com a emoção do povo que vê em Lula um heroi. Tantos achaques, mesinformações exponenciadas …triste. A globo foi derrotada em 4 eleições e será a quinta vez derrotada. Tomara que o progressista que ganhar não seja tão afável e corte severamente os recursos públicos para cultivar essa jararaca ideológica do ultra liberalismo.
Marcos Paulo
16/04/2018 - 18h49
Não se trata de ateísmo, mas a grande verdade é que as igrejas sempre foram os verdugos da sociedade brasileira. Católicos marcharam em apoio a Ditadura, agora evangélicos nutrem as mentem menos desenvolvidos com preconceitos e ideias direitistas que conseguem o paradoxo de seguir um Evangelho de paz e amor ao mesmo tempo que querem armas e comemoram a morte de pessoas em favelas.
Esse Deus não existe, mas qualquer que ouse a contentar será tachado de ateu, como se isso fosse um defeito, nos dias hoje se considere elogiado assim como no livro deles um homem sem fé fez o bem sem esperar nada em troca: nem salvação, nem favores ou ser bem visto, este homem era uma samaritano.