(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
É interessante lembrar que, se dependesse das mulheres, e se as eleições fossem hoje, Lula estaria eleito com folga no 1º turno.
Uma pesquisa feita recentemente (29 a 30 de janeiro) pelo Datafolha mostra que, entre as mulheres, a maioria acha que, à luz do que foi revelado até aqui pela Lava Jato, Lula não deveria ser preso e sua condenação foi injusta.
Segundo esta pesquisa, 44% das mulheres acham que a condenação de Lula foi injusta, contra 40% que a consideraram justa; ao passo que 47% acham que ele NÃO deveria ser preso, contra 41% que acham que sim, que deveria ser preso.
Outra pesquisa, também recente (29 a 30 de janeiro), revela que Lula lidera de maneira muito mais absoluta entre o eleitorado feminino do que entre homens.
Entre mulheres, Lula tem 38% X 10% Jair Bolsonaro (segundo colocado) na pesquisa para eleições 2018.
É claro que essas estatísticas não deveriam significar anda no que toca à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas já que alguns juízes, como Marcelo Bretas, acham que a justiça deveria ouvir a opinião pública, então é sempre bom lembrar que esta não é, e mais foi, unânime a favor do golpe e contra Lula. Entre mulheres, negros, classes sociais mais pobres, a maioria quer votar em Lula e se considerará traída pelos tribunais, caso sua prisão seja decretada dessa maneira, num processo sem provas, e através de um casuísmo totalmente ilegal por parte do Supremo Tribunal Federal.
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Carta das mulheres ao presidente Lula
Por Ana de Hollanda, em seu Facebook
Hoje, dia 2 às 18 horas no Circo Voador, haverá um ato em solidariedade a Lula, cujo título inicial seria “Democracia Vive, Lula Livre!” Na quarta feira passada, dia 28, fui convidada pelo Comitê de Organização do Ato para integrar um grupo de dez mulheres que faria uma saudação ao Presidente. Como não havia possibilidade de todas falarem, pediram-me que escrevesse um texto que seria submetido à aprovação das outras. Aceitei, ciente da enorme responsabilidade de dizer o que as mulheres, especialmente as progressistas, sentem em relação aos avanços dos governos de Lula e Dilma, nossa revolta com golpe, e o temor de que ele seja ratificado com uma absurda condenação de Lula. Enviei o texto à organização no sábado à tarde, mas à noite fui informada de que, com a entrada de outros partidos apoiadores, houve uma mudança de foco e conceito, o título mudou para ”Ato em defesa da Democracia” e não haveria mais espaço para a leitura da carta das mulheres.
Entendendo que ela reflete o sentimento de grande parte das brasileiras, reproduzo aqui o texto que seria lido no ato:
Caríssimo Presidente Lula,
Estamos todas aqui como mulheres, estudantes, trabalhadoras, mães, filhas, companheiras, irmãs, colegas e cidadãs a defender nosso Brasil e seu povo trabalhador, alegre e sofrido, para que ele recupere o papel de protagonista da história.
Depois de cinco séculos em que o país foi controlado e explorado por uma oligarquia que predou descontroladamente suas riquezas e a força de trabalho da população de origem pobre, principalmente aquela filha de índios espoliados de suas terras e de africanos que para cá foram trazidos para trabalhar como escravos, o país conheceu uma experiência inédita. Na décima sexta eleição direta da história da nossa centenária república, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva – ex-líder metalúrgico, criador do Partido dos Trabalhadores – foi eleito pelo voto direto. Só que, na realidade, foi a terceira eleição presidencial na qual, em condições de igualdade de gênero, contou com o voto feminino, assim como com os das analfabetas e dos analfabetos. Sintomático que a presença maciça feminina, que hoje representa 52,5% do eleitorado nacional, se reflita na escolha de um candidato que priorize as políticas sociais, isto é, emprego, renda, moradia, saúde, educação, estabilidade e oportunidades para suas famílias.
Sim, Presidente, o senhor está colhendo o que plantou. Está colhendo a preferência popular em todas as pesquisas porque honrou seus compromissos. Compromissos assumidos com o povo mais necessitado ao lançar, logo no início do mandato, o Bolsa Família, reconhecido no mundo todo como um dos mais bem sucedidos programas de combate à pobreza e incentivo à educação, de que se tem notícia.
Entendendo também o papel central das mulheres no núcleo familiar, logo ao tomar posse, em 2003, o senhor criou a Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, na perspectiva da construção da igualdade e de sua maior autonomia. E, três anos depois, indignado com os índices de violência doméstica contra mulheres, ainda tão comum em lares brasileiros, instituiu a Lei Maria da Penha que levou para a esfera penal uma covardia até então ignorada, ou simplesmente tratada como assunto familiar.
Mas lembro, Presidente, que nós, mulheres, ocupamos 44% do mercado formal de trabalho, embora, como complemento ou única opção, partimos invariavelmente para a informalidade, onde exercemos as mais diversas funções que garantam algum rendimento extra, assegurando o sustento das despesas da casa, além da pesada jornada doméstica que nos recai, prioritariamente. E apesar da maior escolaridade das mulheres, em todas as funções de trabalho formal que exercemos, nossos salários são, inexplicavelmente, inferiores aos dos homens.
Mas reconhecemos, Presidente, que esses desequilíbrios e falta de oportunidades em função do gênero, e de outras discriminações, foram objetos de políticas específicas dos governos populares do PT. Através de ações afirmativas e com a Lei de Cotas, sancionada pela sua sucessora, Presidenta Dilma Rousseff, nós, nossos filhos e filhas, irmãos e irmãs negros e indígenas fomos recompensados pela situação de desvantagem, enfrentada durante séculos neste país.
Presidente, nós o elegemos duas vezes, assim como também, por duas vezes, elegemos a Presidenta Dilma, que deu prosseguimento a suas políticas sociais, de crescimento do país com geração de empregos e de defesa dos interesses da Nação. Por um traiçoeiro golpe parlamentar apoiado pelas elites econômicas e grandes redes midiáticas, nossa presidenta foi impedida, sem que fosse configurado – como manda a Constituição – crime de responsabilidade.
Agora que a maioria do eleitorado já manifestou apoio à sua candidatura para a presidência, um grupo de juízes, que não corresponde à responsabilidade que lhe foi outorgada, se alia politicamente aos mesmos grupos traiçoeiros que promoveram o golpe e, também sem qualquer prova, pretendem condená-lo e impedir que o senhor se candidate nas eleições de outubro.
Como brasileiras, sabemos que a maioria dos juízes e juízas, ministros e ministras comprometidos com a justiça imparcial, repudia uma condenação política. Por isso, Presidente, confiamos que na instância superior não haverá espaço para que se burle a Constituição e se manche a imagem da Justiça. Os destinos políticos da Nação deverão ser decididos pelo eleitorado, cabendo à justiça zelar pelo cumprimento da Carta Magna.