Por muitos motivos a eleição presidencial de 2018 será um ponto fora da curva em comparação aos demais pleitos da Nova República.
Em primeiro lugar, pela quantidade de nomes. Março ainda não terminou, mas já foram lançados como pré-candidatos presidenciais pelo menos 20 nomes. Esse número é o dobro da média das últimas eleições: em 2014 foram 11 candidatos, em 2010 foram 9, em 2006 foram 8, em 2002 foram 6, em 1998 foram 12, e em 1994 foram 8. A única eleição que se aproxima da atual parece ser a de 1989 quando 22 candidatos disputaram.
Muito se fala sobre a divisão da esquerda com as candidaturas de Lula, Manuela, Ciro e Boulos. Mas uma análise mais objetiva nos indica que a fragmentação maior está justamente no polo oposto, no campo da direita, que tem hoje pelo menos 14 nomes apresentados.
Pré-candidatos no espetro político ideológico em 2018:
Extrema direita – Jair Bolsonaro (PSL) e Levy Fidelix (PRTB)
Direita – Geraldo Alckmin (PSDB), Rodrigo Maia (DEM), Michel Temer (MDB), Paulo Rabello de Castro (PSC), João Amoedo (NOVO), Alvaro Dias (PODEMOS), Flavio Rocha (PRB), Fernando Collor (PTC), Dr. Rey (PRONA), Eymael (PSDC)
Centro direita – Marina Silva (REDE) e Valeria Monteiro (PMN)
Centro esquerda – Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) e João Vicente Goulart (PPL)
Esquerda – Manuela d´Avila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL)
Extrema-esquerda – Vera (PSTU)
Outra razão que torna única a eleição de 2018 é a indefinição sobre a candidatura do PT. Entre 1989 e 2006 o PT teve Lula como candidato em todas as eleições. Em 2010, o partido precisou apontar um novo nome: Dilma Rousseff foi a escolhida, venceu e se reelegeu em 2014. Agora, em 2018, o partido indica novamente o nome de Lula. Mas as incertezas são grandes já que a justiça poderia impedir sua candidatura baseada na Lei da Ficha-Limpa. Caso o STF decida pela inelegibilidade, será a primeira eleição sem um candidato competitivo do PT. Nesse cenário, o partido pode, inclusive, apoiar um nome de outra legenda, algo inédito em sua história.
O pleito de 2018 tem ainda um outro fator que simboliza mudanças na sociedade brasileira. Será a primeira eleição em que um candidato conservador, abertamente defensor da volta do regime militar, disputará com grandes chances de chegar ao segundo tuno da eleição. Jair Bolsonaro saiu do PP, passou pelo PSC, namorou o Patriota, até finalmente se filiar ao PSL, partido que adotou sua candidatura. Nas mais recentes pesquisas de opinião, o candidato figura em segundo lugar, atrás apenas de Lula. Em cenários sem Lula, passa para a primeira posição.
Essa forte competitividade de Bolsonaro é a ponta do iceberg da forte intolerância política que cresceu na sociedade brasileira nos últimos anos. O recente ataque com tiros contra a caravana de Lula mostra que uma parcela da sociedade brasileira não está aberta para o diálogo democrático e para a construção de ideias. Essa parcela da sociedade quer simplesmente exterminar seus inimigos. Nesse registro, foi lamentável a declaração do governador Geraldo Alckmin sobre o ocorrido. De acordo com o candidato tucano, “Lula colheu o que plantou”. Ou seja, em vez de condenar o criminoso ataque, Alckmin preferiu justifica-lo. Espero que isso não ocorra, mas devemos estar preparados para assistir a um processo eleitoral com altas doses de violência nas redes e nas ruas.
Mas as novidades de 2018 não param por aí. Essa também será a primeira vez em que a social-democracia e o movimento comunista estarão separados no primeiro turno da disputa. Desde 1989, o PCdoB apoiou todas as candidaturas presidenciais do PT. No entanto, neste ano os comunistas terão como candidata a jovem deputada gaúcha Manuela D´Ávila. O objetivo do partido não é apenas demarcar na sociedade as diferenças programáticas entre os comunistas e os social-democratas, mas também oferecer uma alternativa de esquerda que possa reencantar a sociedade com a política. A narrativa que Manuela vem construindo busca aliar uma agenda desenvolvimentista na economia, participativa na política e inclusiva na sociedade com políticas de reconhecimento para mulheres, jovens, LGBT, negros etc.
Alguns desses 20 nomes certamente abandonarão a corrida até agosto. Seja por dificuldades de registro, seja por formação de coalizões entre os partidos. Há também a possibilidade de novos interessados surgirem: o PSB, por exemplo, ainda espera por um sinal de Joaquim Barbosa. Seja como for, a certeza que temos é a de que a eleição de 2018 será, para o bem ou para o mal, bem diferente das demais que ocorreram até aqui.