(Foto: Wanezza Soares/Carta Capital)
Por Pedro Breier
Acompanhei in loco a entrevista exclusiva que Guilherme Boulos concedeu ao Cafezinho, ontem (assista aqui).
Quando cheguei no quarto do hotel no qual estavam Boulos e alguns assessores, o pré-candidato do PSOL à presidência estava prestes a dar uma entrevista a uma rádio baiana.
Logo após a entrevista, Boulos ligou para Paulo Frateschi, dirigente do PT que perdeu parte de uma orelha ao ser atingido por uma pedra em Chapecó, em um dos ataques fascistas à caravana de Lula.
Boulos ligou para prestar-lhe solidariedade, o que é emblemático da consciência cada vez mais sedimentada na esquerda de que é necessário unidade para enfrentar a ofensiva autoritária do conservadorismo.
Logo no início da entrevista ao Cafezinho, Boulos ressaltou a necessidade dessa unidade democrática no campo progressista
para enfrentar o fascismo, para enfrentar os retrocessos democráticos, as retiradas de direitos sociais e a ofensiva golpista que segue acontecendo no país. Independentemente de diferenças nos projetos políticos, que são legítimas e importantes na esquerda, são saudáveis. Nós não temos que semear pensamento único no nosso meio.
Boulos é preciso. As diferenças de projetos na esquerda não podem ser empecilho para a unidade nas lutas contra o atraso, assim como não podem ser jogadas para baixo do tapete na hora da discussão programática. É perfeitamente possível conciliar esses dois pontos.
Outro momento interessante da entrevista é quando Boulos fala da tentativa de pintar a sua candidatura como “radical”, a velha estratégia da mídia conservadora para detonar candidatos de esquerda:
Nós não podemos cair nessa pecha de dizer que as nossas reivindicações são radicais. Radical não é defender reforma tributária, radical é que 6 pessoas no Brasil tenham mais do que 100 milhões de pessoas. Isso é extremismo. Extremismo não é lutar por moradia junto com os sem-teto. Extremismo é no Brasil ter 6 milhões e 200 mil famílias sem casa e 7 milhões de imóveis abandonados. Tem mais casa sem gente do que gente sem casa. A razoabilidade está do nosso lado. O que eles fazem é uma barbárie, uma espoliação. Se nós colocamos o debate nesses termos ganhamos parte importante da sociedade.
Os dois principais eixos de sua candidatura são a democratização do Estado brasileiro e o combate à desigualdade.
Quanto ao aprofundamento da democracia, Boulos defende, por exemplo, controle social do judiciário, com mandatos eletivos para juízes, como ocorre em outros países, e também consultas frequentes à população por meio de plebiscitos.
Quanto ao combate à desigualdade, Boulos ressaltou a necessidade de uma reforma tributária para que os pobres e a classe média deixem de ser os grandes sustentadores do Estado brasileiro e classe alta comece a contribuir de acordo com suas riquezas – quanto radicalismo, não?
No final da conversa, ele alerta para a missão da esquerda de discutir projetos de país nessas eleições. A direita, como sempre, tentará levar o debate para temas diversionistas, como a velha história da corrupção, já que não pode admitir que seu projeto é manter a vergonhosa desigualdade social no nosso país, a grande tragédia brasileira.
A cada entrevista, Boulos demonstra que conjuga sua liderança incontestável na luta das ruas, como dirigente do MTST, com um profundo conhecimento das causas e possíveis soluções para a catástrofe social imposta ao Brasil por sua elite econômica vendida.
A candidatura Boulos e Guajajara deve esquentar a já fervente eleição de 2018.