O aumento exagerado do lucro da Caixa, de mais de 200% em relação ao ano passado, reflete a política federal de usar o banco público não para contribuir com políticas anticíclicas, mas para produzir divisas e entregá-las aos rentistas.
O aspecto positivo, todavia, é que o banco segue firme e forte.
A matéria abaixo traz dados para se avaliar a importância estratégica da Caixa para o desenvolvimento nacional. O banco é responsável por quase 70% do crédito imobiliário no país e mais de 20% do crédito total.
Os principais programas sociais do país, como o Bolsa Família, são geridos pela Caixa.
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Caixa tem lucro líquido recorde de R$ 12,5 bilhões em 2017
Os números reforçam a importância do banco para país e a necessidade de enfrentamento contra a política do governo que visa o enfraquecimento da Caixa. Ainda não foi informado quando será creditada a segunda parcela da PLR, mas pagamento está assegurado no ACT 2016/2018
A Caixa Econômica Federal anunciou nesta terça-feira (27) um lucro líquido em 2017 de R$ 12,5 bilhões, o maior da história. Em relação ao ano anterior, houve acréscimo de 202,6%. Em dezembro, o banco possuía R$ 2,2 trilhões em ativos administrados, avanço de 1,9% em 12 meses, com destaque para os ativos próprios, que totalizaram R$ 1,3 trilhão.
A carteira de crédito alcançou saldo de R$ 706,3 bilhões em dezembro, com participação de mercado de 22,4%. Já a carteira imobiliária chegou a R$ 431,7 bilhões, aumento de 6,3% em 12 meses, o que manteve o banco na liderança do setor, com 69% de participação. Em saneamento e infraestrutura, as operações totalizaram R$ 82,7 bilhões.
Em 2017, foram pagos na Caixa cerca de 158,4 milhões de benefícios sociais, correspondendo a R$ 28,7 bilhões. Somente o Bolsa Família pagou R$ 27,8 bilhões. Em relação aos programas voltados ao trabalhador, o banco foi responsável por realizar 292,3 milhões de pagamentos, que totalizaram R$ 313,7 bilhões, como o Seguro-Desemprego, Abono Salarial e PIS. Também foram realizados 71,7 milhões de pagamentos de aposentadorias e pensões do INSS, que totalizaram R$ 94,7 bilhões.
Para o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, os dados reforçam o que as entidades representativas dos empregados têm defendido: a Caixa tem que continuar forte e fundamental para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. “O lucro é importante, sobretudo neste momento de ataques às empresas públicas. O resultado positivo aliado ao papel social rebatem o discurso da ineficiência que tentam colar”, afirma.
“O governo Temer ataca a Caixa e os empregados por todos os lados, todos os dias. Aproxima o banco cada vez mais de uma lógica exclusivamente de mercado, prejudicando a sociedade e os trabalhadores. Tanto que em sua estratégia só fala em governança, eficiência e rentabilidade, não falando nada de função social. Barramos a transformação da Caixa em S/A no ano passado, mas precisamos intensificar a luta”, acrescenta Jair Ferreira.
Saúde Caixa
O lucro recorrente da Caixa em 2017 foi de R$ 8,6 bilhões. A diferença de quase R$ 4 bilhões para o lucro líquido, segundo o balanço divulgado pelo banco, veio em grande parte de uma reversão de provisões atuariais. Apesar da instituição ainda não ter explicado do que se trata, os acontecimentos mais recentes indicam que o recurso decorre da imposição do teto de gastos com o Saúde Caixa.
“No início do ano, a direção da Caixa fez uma alteração no estatuto que incluiu, sem qualquer negociação com os representantes dos trabalhadores, um limite no custeio do plano de saúde de 6,5% das folhas de pagamento e proventos. O modelo até então vigente do Saúde Caixa, no qual o banco era responsável por 70% do custo assistencial, foi resultado de muita luta dos empregados. Nossa mobilização será essencial para reverter as mudanças”, diz Jair Ferreira.
Redução do quadro de pessoal
O ano de 2017 foi mais um em que a Caixa apresentou redução no quadro de pessoal. Em dezembro, eram 87.654 empregados, redução de mais de 7 mil em relação a 2016 e de cerca de 14 mil nos últimos três anos, sobretudo em razão de planos de aposentadoria e demissão voluntária. E a queda não para: o total de trabalhadores diminuiu mais um pouco no início deste ano, em razão do Plano de Desligamento de Empregados (PDE).
“A Caixa tem condições de contratar mais trabalhadores e se manter como banco 100% público, cada vez mais forte, voltado para o desenvolvimento do nosso país. Apesar disso, a direção da empresa se mantém intransigente em retomar as contratações, o que tem piorado as condições de trabalho em todas as unidades”, avalia Dionísio Reis, coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa) e diretor da Fenae.
Pagamento da PLR
Até o momento, o banco não divulgou quando vai creditar a segunda parcela da Participação nos Lucros e Resultados dos empregados. “O pagamento da PLR está garantido no ACT 2016/2018, devendo ocorrer até 31 de março. Por isso, mais uma vez, reforçamos a importância de teremos assinado esse acordo de dois anos. Se não fosse ele, a tentativa de retirar nossos direitos seria muito mais intensa”, observa Jair Ferreira.
Na Caixa, a PLR é composta pela regra básica Fenaban, prevista na Convenção Coletiva de Trabalho 2016/2018 dos bancários, correspondente a 90% do salário mais R$ 2.183,53, limitado a R$ 11.713,59; parcela adicional, que representa 2,2% do lucro líquido dividido pelo número total de empregados em partes iguais, até o limite individual de R$ 4.367,07; e a PLR Social, equivalente a 4% do lucro líquido, distribuídos linearmente para todos os trabalhadores. A primeira parcela, correspondente a 60% do total a ser recebido, foi creditada no dia 20 de novembro do ano passado.
PauloDAndrad
27/03/2018 - 18h32
“Por isso, mais uma vez, reforçamos a importância de teremos assinado esse acordo de dois anos. Se não fosse ele, a tentativa de retirar nossos direitos seria muito mais intensa”, observa Jair Ferreira.
Não é bem assim.
O acordo coletivo válidos por dois anos que foi assinado por essa categoria em 2016 (ano do impeachment) mostra a falta de visão estratégica dos dirigentes sindicais. Já se falava em tentativas de reformas trabalhista (concretizada) e previdenciária (em suspenso) para o ano seguinte, 2017.
Era a possibilidade de uma greve geral – ou de verdade, já que a que fazem é fachada – e de resistência ao golpe e retirada de direitos. Mas não, das categorias mais organizadas, os bancários não tiveram convenção coletiva pela primeira vez em anos.
Veio 2017. Pelo que se tem notícia,a Caixa alterou em agosto último seu regulamento de pessoal para permitir a terceirização de sua atividade fim.
https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2017/08/epoca-negocios-caixa-economica-abre-caminho-para-contratar-bancarios-terceirizados.html Não me ocorre que tenha sido revogado.
Os bancos públicos são importantes para o fomento da atividade econômica e como pagadores de programas sociais. Têm função social. Mas a busca por resultado mais próximo ao dos privados leva ao desvirtuamento desse “espírito público”.
Muito dinheiro público (crédito rural, habitação) acaba virando capitalização, previdência ou seguro – gerando riqueza para alguns funcionários (PLR, comissionamentos) e acionistas.
Caixa e BB devem continuar sob controle estatal e ir além, sem seguir a lógica dos privados.