Por Bajonas Teixeira,
A degradação institucional é inseparável do golpe, especialmente a transformação do judiciário em tropa de choque e executores passivos. A Globo manda. Os ministros do STF obedecem. O custo disso é que, perdendo o autorespeito, dão shows deploráveis como o bate-boca de Barroso e Gilmar Mendes que assistimos estarrecidos ontem. A ordem da Globo no inicio da semana era para Cármen Lúcia resistir, ou seja, bloquear qualquer chance de discutir no plenário do STF a prisão em segunda instância. Hoje, a ordem, é para Rosa Weber fazer o papel de jagunço togado. Cabe-lhe decapitar Lula.
A Globo, em editorial disfarçado de “artigo”, pede que Rosa Weber vote contra o habeas corpus pedido por Lula garantindo assim a maioria de votos negativos e, com isso, assegure a prisão na próxima semana. Não é pouco o que a Globo solicita, já que a partir daí Rosa Weber passará à história como o carrasco de Lula, ou, falando em termos mais gerais, o algoz da democracia no Brasil.
Misturando adulações explícitas – o voto “decisivo será de Rosa Weber: ela tem sido o equilíbrio institucional do STF” – com pressões escancaradas – “o Supremo vai respeitar ou não os caminhos que o Legislativo, a Constituição, o Código de Processo e o regulamento, que ele próprio estabeleceu para si, determinam?” -, a Globo indica que Rosa Weber deve votar contra o habeas corpus. E mais nada.
Ordem é ordem. E essa ordem, que mais uma vez mostra a audácia da Globo em influir diretamente, desrespeitando a autonomia das instâncias do estado e do poder público, só pode resultar em aniquilamento das instituições brasileiras. Aliás, a Globo está ciente disso, e aposta nesse caminho deletério, tanto que não esqueceu de aplaudir o inominável barraco supremo de ontem – “A propósito: o ministro Luís Roberto Barroso teve que agir nesta quarta-feira em legítima defesa da honra do Supremo.”
Ao aplaudir a degradação, a Globo faz a apologia do assassinato institucional, o tiro dado na cara do recato e da dignidade exigidos de um juiz e, com isso, inaugura-se uma nova época do STF, em que a quebra do decoro será aplaudida pelo público do mesmo modo que as massas de zumbis aplaudem os brothes do BBB.
E não podia ser diferente. Não se pode destruir a democracia sem implodir todas as regras, especialmente a do decoro, que sustentam as instituições do estado democrático de direito.