Campo progressista se une e se amplia em torno de Marielle

CAMPO PROGRESSISTA SE UNE. E SE AMPLIA

Por Fabio Malini, no Facebook

No Facebook, até, hoje, 17, às 6h, na semana, 92 mil pessoas se dedicaram a compartilhar o post mais viralizado entre os publicados pelos canais que são dedicados a postar também notícias políticas. O conteúdo (http://bit.ly/2pleSf5): um vídeo que resumia os assassinatos de Marielle e Anderson. A página: Quebrando O Tabu. A legenda: “Marielle, presente”. A mesma titulação da segunda publicação mais distribuída da semana: (http://bit.ly/2HHPdVF), partilhada por mais de 82 mil pessoas. Publicado no Mídia Ninja, o post reproduz a charge de Latuff, que foi intensamente espalhada também em outros canais, por outros perfis e em outras plataformas. Latuff não tem página oficial no Facebook. Comunica-se mais intensamente pelo Twitter. Depois, em terceiro lugar, uma notícia que retrata as novas regras para obtenção da carteira de motorista, ironicamente a profissão de Anderson Gomes. A matéria, feita pelo G1, alcançou mais de 60 mil compartilhamentos (http://bit.ly/2HH9zhu). Das dez mais compartilhadas, quatro foram sobre Marielle e Anderson; três sobre as novas regras da prova da CNH; duas sobre a morte de Stephen Hawking e uma mostrando um disparo de jato de água direcionada a um homem que vive nas ruas de São Paulo.

A forte repercussão vitaminou curtidas e compartilhamentos em todas plataformas de redes sociais. E, como é padrão em grandes fatos históricos, atraiu diferentes vertentes ideológicas nas caixas de replies ou comentários. A trolagem é um bomba de efeito moral na internet. Serve para espalhar quem está unido por um fluxo de conversação generosa, criando cortinas de fumaças e provocando polêmicas. Quanto mais o alvo da trolagem se irritar e reagir, melhor resultados serão colhidos por essas gangues virtuais, que acabam assistindo da arquibancada a instabilidade emocional do seu alvo. Apesar da presença desses trolls, os usuários pareciam vacinados. Correu a notícia de printar as trolagens aberrantes e divulgá-las no ambiente de trabalho do ofensor. Ou mesmo ignorá-las. Ou publicizá-la quando a mensagem se caracterizar como racista, misógina ou homofóbico. Sem rabo preso com ninguém, foi fácil para os internautas encontrar links de notícias mostrando a atuação de Marielle na defesa da vida dos favelados e também das famílias de policiais mortos em combate numa guerra que ela sempre denunciou. A verdade de Marielle foi (e vai continuar) bloqueando um a um os boatos, mau-caratismos e proselitismos de todo tipo.

No Twitter, a rede que disseminou o ódio a Marielli representou 7.15% dos conteúdos postados, ou seja, estes foram se auto-fagocitando. Na imagem, são os perfis de cor rosa e representam 26 dos quase 400 mil perfis totais. Todo restante da rede, com pequenas variações contextuais, se aglutinou em torno de um eixo mobilizador: #MariellePresente / #AndersonPresente. Em geral, é comum que ações de rua com alto impacto no Twitter sejam simplificadas em uma hashtag. Foi assim com o #VemPraRua, o #ForaDilma e o #NaoVaiTerGolpe.

O curioso desse grafo é a polissemia das grupos de opinião. Mais uma visualizaçao onde a força da polarização política é fragmentada. Outra coisa, um sinal que já vem se repetindo: o campo progressista tem arrastado os principais veículos de imprensa para dentro de suas conversações. Pelo viés do “ataque à democracia”, os veículos tradicionais emularam o atentado político liberando colunistas e blogueiros para ampliar o coro da indignação popular. Contudo, o ponto de divergência foi rapidamente aberto pelo contaponto midiativista, ecoando a desconfiança acerca das intenções de certos veículos, que, para muitos, estariam, sob o pretexto de apoiar a indignação, reforçando a necessidade de mais intervenção das Forças Armadas no Rio de Janeiro. Lá na frente, a continuar assim, me parece, que a lua de mel vai acabar. Apesar disso, é inegável que o campo progressista está se ampliando ali no Twitter, com muitos novos atores diversificados, predominantemente nas machas lilás e azul claro. Tudo indica que teremos as eleições de maior participação políticas de celebridades artísticas. Esse campo tem crescido ali no Twitter, onde é mais seguro para esse grupo calibrar seus posts e controlar suas audiências. Incrível é que nesse campo há uma forte diversidade do “usuário comum”, sem muitos seguidores, mas com publicações bombadas de modo orgânico (sem NENHUM uso de bots). Efeito colateral dessa teia: passado o momento mais intenso do velório e enterro, o luto virou caça a quem detrata ou detratou Marielle e Anderson. A irradiação nas redes do que já acontece com a desembargadora carioca já é sintoma da forte operação de escracho público levado à cabo pelo grupo.

As manchas verde-escura e laranja já dão uma ideia do impacto internacional do acontecimento, especialmente no idiomas inglês e espanhol. Há de jornalistas e imprensa a movimentos sociais (Black Lives Matter) a (ex)presidentes. E ainda é apenas a fotografia do início da repercussão gringa, uma vez que a coleta foi feita até às 15h, do dia 16, sexta. Ao total, foram 93.587 usuários dessa rede de fora do Brasil, em torno de 25% da base dos perfis.

Muito importante é identificar também os silêncios: Bolsonaro e toda a sua trupe familiar preferiram fazer cara de paisagem (Será por quê?). E os generais tuiteiros, idem.

Sobre bots no Twitter, irrelevantes na história. Mais sistematicamente presentes na rede rosa (mais militaresca) e verde clara (mais petista). Agora é preciso atenção na identificação dos bots. Há muitas metodologias que primam pela ideia de que Bots são usuários que tuitam ou retuitam muito. Devagar com o andor. Neste caso, os dois usuários que mais (re)tuitaram são humanos. E isso tem explicação simples na literatura científica. Em contextos de ativismo e mobilização, é comum que perfis mais mobilizadores funcionem como hubs, ampliando a velocidade de seus retweets para mostrar o apoio de vários grupos e lideranças da sociedade ativos numa conversação.

De qualquer modo, a atuação dessa classe de perfis foi irrelevante comparado ao todo.

Confira as imagens na página de Malini.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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