(Charges: Latuff e Quinho)
Por Pedro Breier
A sequência de fatos retratada na charge do Latuff e as características típicas de uma execução que envolvem a morte da vereadora do PSOL/RJ Marielle Franco indicam fortemente que a motivação do crime é política.
A política forneceu, além da motivação, o ambiente propício para o assassinato de uma mulher, negra, lésbica, defensora dos direitos humanos, militante de esquerda, oriunda da favela.
Marielle personificava quase todos os grupos historicamente perseguidos e oprimidos pelo sistema.
O ódio a esses grupos foi insuflado enormemente pela mídia hegemônica e seus associados a partir do processo que desencadeou o golpe de 2016.
A quantidade de comentários odientos publicados na rede sobre a morte de Marielle demonstram que o aplauso de uma parcela da sociedade à repressão contra os grupos que a vereadora personificava deixa os repressores – neste caso, os assassinos – muito mais à vontade para perpetrarem o horror.
No mesmo dia do bárbaro crime, o prefeito de Porto Alegre/RS, do PSDB, sancionou uma lei que impõe pesadas multas para manifestações que tranquem ruas. Em São Paulo, a Guarda Municipal subordinada a João Doria batia em professores que protestavam contra o ataque aos seus salários, como é costume especialmente em governos tucanos.
Esses fatos estão interligados.
O clima de autoritarismo que se instaurou no país após o golpe deixou muito filhote da ditadura assanhado.
A ideia é silenciar, seja na base da canetada, da porrada ou da morte, as vozes que se insurgem contra a nova ordem.
Dando nome aos bois: a direita golpista e antipovo brasileira, em todas as suas expressões, é responsável pelo assassinato de Marielle, na mesma medida em que é responsável pelo ressurgimento do fascismo em nosso país.
Seu projeto elitista só pode ser colocado em prática na marra. A paz dos cemitérios é ideal para que a exploração da população excluída possa continuar tranquilamente.
Não terão, contudo, sucesso em sua empreitada insana.
A comoção e a revolta diante do absurdo atingiu o país inteiro e expandiu-se para o mundo.
Os atos de protesto, ontem, foram gigantescos. Em São Paulo, a quantidade de jovens com tristeza – mas também muita gana de lutar – no olhar era impressionante.
O endurecimemto do regime levará, inexoravelmente, ao endurecimento da resistência.
A morte de Marielle não será em vão.