(Toda a finesse de Doria em Veneza. Foto: @Jdoriajr)
Por Pedro Breier
O episódio do decreto assinado por João Doria que estendeu a ex-prefeitos os serviços de segurança pessoal prestados pela PM – os quais hoje abrangem somente o atual prefeito – demonstra algo a mais do que a conhecida hipocrisia dos liberais brasileiros.
Sobre esta, recomendo a leitura da boa reportagem da Folha sobre o recuo de Doria em relação ao decreto.
Como um bom liberal tupiniquim, ficam só no discurso as críticas ao Estado e as louvações ao setor privado. Na prática, Doria pega dinheiro emprestado do BNDES para comprar o seu jatinho – afinal, quem não gosta de juros baixinhos financiados pelos pagadores de impostos, não é? – e usa seu poder de prefeito para auferir algumas benesses pessoais.
Além da hipocrisia, o decreto evidencia toda a arrogância de Doria, a qual é corriqueira em seu campo político e em seu partido.
Explico.
Doria só arriscou se queimar por algo tão pequeno – ou o businessman não teria dinheiro para contratar alguns seguranças particulares para fazer sua campanha? – porque sabe que o conservadorismo de São Paulo engole qualquer coisa vinda dos tucanos.
Ele muito provavelmente concorrerá ao governo do estado e tem, apesar de fazer um governo medíocre na prefeitura, altíssimas chances de se eleger. Afinal, o estado de São Paulo é muito mais conservador do que a capital. Se Doria ganhou no primeiro turno na eleição municipal, façamos as contas.
O PSDB governa os paulistas há mais de 20 anos. Alckmin, o atual governador, deixou faltar água em uma das maiores metrópoles do mundo e mesmo assim foi reeleito no primeiro turno.
Ou seja, não importa o que os tucanos façam no governo e nem mesmo se eles usam seus cargos em benefício próprio, contrariando espetacularmente todo o seu discurso. O voto do paulistano é decidido com o fígado: desde que não sejam os malditos vermelhos, comunistas, petistas, ciclistas, etc., engolem qualquer coisa.
Os tucanos sabem disso e acabam deixando a certeza da vitória subir à cabeça e transformar-se em arrogância.
Entretanto, apesar do feudo paulista estar sempre sob controle, tal postura vem garantindo ao PSDB estupendas derrotas a nível nacional.
O discurso mequetrefe de Estado mínimo e o antipetismo pueril não enganam tanta gente fora de São Paulo e de mais alguns estados da metade sul do país.
Ainda bem.