O ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, publicou ontem um artigo – reproduzido ao final do post – em que fez uma dura advertência aos editores do Duplo Expresso, site que publicou calúnias extremamente graves contra parlamentares e blogueiros.
É importante que as coisas fiquem bem claras. Ninguém está “perseguindo” o Duplo Expresso, ou pretendendo que algum deputado esteja acima de críticas. Ao contrário, é preciso criticar e pressionar, e muito, os parlamentares, especialmente se eles pertencem ao campo democrático (em oposição ao campo golpista).
Blogueiros, da mesma forma, não estão imunes a críticas. Nós, blogueiros, erramos muito, e os próprios leitores, atentos, não perdoam nossos erros. Como blogueiro há mais de dez anos, afirmo de cadeira: o público da blogosfera é implacável. Não há estrelas. Não há relação hierárquica entre blogueiro e leitor. Os internautas nos ajudam o tempo inteiro. Aliás, o desmonte do golpe do “documento bombástico” só foi possível com ajuda de vários internautas, que foram atrás de despachos antigos e recentes de Sergio Moro.
Entretanto, o que vimos no Duplo Expresso não foram críticas. Não foram cobranças. Foram calúnias! Que se estenderam à blogosfera de esquerda como um todo. Diante da reação atônita, e logo indignada, a esse estranho cavalo de pau ético, os editores do site passaram se vitimizar, a se dizer perseguidos, com auxílio um tanto de estranho de comentaristas com opiniões padronizadas, que nos xingavam e os tratavam com herois.
As calúnias publicadas no Duplo Expresso contra os deputados continuam lá, publicadas e acessíveis via sistema de buscas. Mesmo alertados por muita gente, os editores não se retrataram. Ao contrário, desceram ainda mais o nível das calúnias, agregando memes e montagens fotográficas toscas, de mau gosto, com o intuito puro de manchar a imagem de blogueiros. Não vou reproduzi-las, nem dar links. Só digo que são graves, embora escritas numa linguagem grotesca, vulgar, quase incompreensível. O internauta que tiver curiosidade poderá encontrá-las (infelizmente) com facilidade.
“A calúnia deve ser repudiada, nas cidades que vivem sob o império da liberdade – e como é importante criar instituições capazes de reprimi-la”, dizia Maquiavel.
Um blogueiro ético não deve caluniar nem o seu pior adversário. O que os editores do Duplo Expresso fizeram, portanto, com Wadih Damous, Paulo Pimenta e blogueiros, é algo que eu, ou qualquer blogueiro sério, não faria com Sergio Moro, Bolsonaro ou Aécio Neves.
Não temos armas. Não temos grande mídia. Não temos governo. Não temos polícia. Não temos instituições judiciais. Todos os poderosos parecem ter se unido para espoliar o povo brasileiro, que segue encurralado, esmagado e humilhado por um golpe sórdido. A única arma que nós temos é a informação, que precisa de um emissor ético e um conteúdo com credibilidade. Globo calunia, Veja calunia, a Lava Jato calunia. Nós não podemos repetir esse comportamento, nem ser complacentes com quem o faz, sob o risco de inocularmos o vírus da desconfiança, da suspeita, entre nós, destruindo a única coisa que nos restou, que é a liberdade de denunciarmos as manipulações, as mentiras, os golpes.
Aragão oferece uma brecha para o Duplo Expresso sair do buraco em que se meteu. Retratem-se. Removam todos os posts caluniosos. Peçam desculpas pelas calúnias. Expliquem o caso, estranhíssimo, do “documento bombástico”, que não era nada do que vocês alardeavam. Foi uma armadilha? Uma barrigada grotesca, movida a doses cavalares de megalomania e vaidade? Uma alucinação? Vocês foram manipulados, inocentemente, pela fonte que lhes entregou o documento, ou toda a história foi urdida por vocês mesmos?
Nós, da esquerda, somos solidários e compreensivos. Somos capazes de perdoar, sempre. Mas sabemos também tratar implacavelmente nossos inimigos, sobretudo os que tentam nos enganar, fingindo ser uma coisa que não são.
O texto do ex-ministro da Justiça é carregado de indignação, porque o seu nome foi usado com desonestidade: numa triangulação maluca, inventou-se a história de que o tal “documento bombástico” teria sido “corroborado” por ele, e daí, usando esse capital, atacaram – e caluniaram – os deputados por não obedecerem às diretrizes do Duplo Expresso e não irem correndo entregá-lo à Procuradoria Geral da República
Em seu artigo, Aragão se pergunta se os editores do site “ainda estão no mesmo barco ou se o abandonaram por delírio ou por razões outras que não estão muito claras.”
O que nos causa apreensão, porque aparentemente ainda há gente do nosso campo disposta a dar entrevista ao site (e eles usam o nome dos entrevistados para “capitalizar” os ataques que fazem), são justamente essas “razões outras que não estão muito claras”.
O ex-ministro da Justiça joga duro com os responsáveis pelo site. Ou páram com essa postura dúbia, de fingir defender Lula e ao mesmo tempo jogar sujo, caluniando deputados e blogueiros, ou serão “vistos, os protagonistas do Duplo-Expresso, não como jornalistas, mas como uma dupla de inconsequentes pistoleiros políticos a fazerem o jogo da direita fascista.”
Abaixo, o artigo de Aragão.
***
No DCM
Os delírios de uma esquerda em convulsão febril
Por Eugênio Aragão
Por Diario do Centro do Mundo – 7 de março de 2018
O golpe e o longo processo de deterioração da institucionalidade que o acompanha vem tocando a todos nós de forma intensa. Todos estamos em sofrimento. Quem tem consciência, discernimento e sobretudo conhecimento dos pormenores da sordidez das ações criminosas contra o país protagonizadas por um bando de oportunistas ambiciosos e gananciosos sofre muito. Conhecer nos faz sangrar.
Cada um reage a seu modo. Alguns precisam espernear, outros se recolhem e choram sozinhos. Muitos estão perdidos e buscam o sentido das coisas pelo exemplo da conduta e da opinião de atores de esquerda com maior visibilidade. Outro tanto vê chifre em cabeça de cavalo: pretende ver urdiduras e conspirações por todo lado, acabando, não raro, por disparar, no auge da paranoia, fogo amigo nas próprias hostes.
É parte da missão do golpe deixar a esquerda em polvorosa, que nem barata tonta, perdida no tiroteio interno. Quando a esquerda briga, a direita faz a festa e, como se não bastasse o desgaste naturalmente sofrido pelas porradas midiáticas diuturnas, ainda se dá motivos para os golpistas festejarem a incapacidade das forças antigolpe de se aglutinarem e mobilizarem.
Muito de nossa derrota na arena política se deve a isso: nossa incrível inépcia para distinguir entre a unidade essencial e a divergência por questões periféricas. Vimos em pleno golpe atores sedizentes de esquerda atacarem Lula e Dilma, como se seus inimigos não fossem a direita usurpadora do espaço democrático, mas, sim, a esquerda governista.
Agora continuamos nisso: o Duplo-Expresso a promover ataques pessoais aos deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous, como se fossem piores que Bolsonaro, Janot e o MBL! Pior: atacam outros blogs de esquerda, comprometendo a qualidade de nossa comunicação.
Passaram a distribuir sarrafos também em Fernando Haddad, numa fúria inexplicável. É legítimo indagar, por isso, se ainda estão no mesmo barco ou se o abandonaram por delírio ou por razões outras que não estão muito claras. O fogo tem que cessar já, sob pena de serem vistos, os protagonistas do Duplo-Expresso, não como jornalistas, mas como uma dupla de inconsequentes pistoleiros políticos a fazerem o jogo da direita fascista.
E não adianta quererem se escorar em meu depoimento, este não foi dado a seu programa para desqualificar o trabalho parlamentar fundamental de Wadih Damous e Paulo Pimenta.
Vou avisando: estou fora dessa briga de Romulus e Wellington e vejo com enorme tristeza os tiros contra companheiros neste momento crucial da vida nacional, quando nosso objetivo comum deveria ser derrubar o golpe e garantir a candidatura de Lula à presidência da república. Estamos desperdiçando energia e fazendo papel de idiotas perante os fascistas.
Há vida após o golpe e temos que nos preparar para vivê-la, com esforço redobrado de organizar futuras gerações para um embate que não acaba amanhã, mas perdurará por anos e anos a fio, mesmo que eventualmente consigamos manter Lula candidato e fazê-lo vencer as eleições.
Há trabalho por fazer. Vamos nos disciplinar. Paulo Pimenta e Wadih Damous são guerreiros indispensáveis à luta dos que querem um Brasil melhor. Somos poucos e precisamos de todos. Dispersar por conta de brigas de ego é prestar um desserviço ao país.
Convenhamos: tanto faz qual documento trai as intenções da turba da Lava-Jato. Eles estão pouco se lixando. O golpe é escancarado e ninguém pode ter dúvidas sobre a má fé na metodologia adotada para a coleta de “elementos de convicção” contra Lula e o PT.
Eles não sairão abalados com isso. Somos nós que estamos a nos abalar. Não há bala de prata contra a Lava-Jato. Sua derrota dependerá de nossa capacidade de mobilizar e isso não se torna mais fácil com brigas intestinais.
Caiamos na real. Estamos perdendo e perdendo feio. Dissemos que o golpe não passaria e passou. Dissemos que a condenação de Lula não ocorreria e ocorreu. Dissemos que o TRF da 4ª Região não ousaria confrontar as massas coonestando a condenação partidária de Moro e ousou.
Pensávamos que o STJ daria um freio de arrumação e não deu. Estamos torcendo para que o STF cumpra seu papel e garanta a presunção de inocência de Lula e… E estamos brigando entre nós!!!!
Conclamo, por isso, os companheiros do Duplo-Expresso a baixarem as armas nessa arenga fratricida e a se concentrarem no que importa: resistir e mobilizar, pois de outro modo nada disso que fizemos desde 2016 terá valido para algo. Não joguemos fora nossa luta. Temos responsabilidade com o Brasil, com nossxs filhxs e nossxs netxs! Nunca um cachimbo da paz foi tão necessário!