Por Theófilo Rodrigues
Apesar da criminalização permanente da atividade partidária desferida por parcelas do judiciário, do ministério público e dos principais meios de comunicação, os partidos políticos sobrevivem.
Presidentes, tesoureiros e demais dirigentes de legendas diversas estão presos. O MPF chegou até mesmo a entrar com uma ação de improbidade administrativa contra um partido político, o PP, o que poderia significar o seu fechamento.
Em meio ao tiroteio, alguns optaram por mudar de nome para fugir do desgaste de imagem: o PMDB agora é MDB, o PTN virou Podemos, o PEN transformou-se em Patriota e o PTdoB passou a se chamar Avante. Todos temerosos com o nome “partido”.
A situação é tão absurda que os próprios partidos aceitaram a censura ao aprovar uma antidemocrática lei em 2016 que impede dirigentes partidários de assumirem cargos em empresas estatais. Submetidos a um tempo prolongado de intimidação, os partidos passaram a ter simpatia perante seus agressores, o que simboliza uma espécie de síndrome de Estocolmo.
Não que os partidos não mereçam algumas das críticas que recebem. Com efeito, algumas figuras nefastas e alguns casos recorrentes contribuem para a imagem negativa. Mas são frutos podres que podem e devem ser retirados do cesto. O que não é recomendável fazer, como diziam os mais antigos, é jogar a água suja da bacia fora junto com o bebê.
Felizmente, malgrado esse quadro de adversidades, há também sinais de vitalidade que permanentemente animam essas organizações. Essa fonte de vida rejuvenescedora é oriunda dos novos quadros da sociedade civil que, por motivos diversos, assumem a responsabilidade da filiação partidária.
Candidata presidencial com forte apoio na sociedade civil e nos movimentos sociais, Manuela D´Ávila aponta esse caminho: “Temos de utilizar instrumentos inovadores de diálogo que despertem nas pessoas a paixão pelo Brasil e reacendam o interesse pela participação política e social”. Tarefa difícil, mas não impossível.
Na última semana, Guilherme Boulos, líder do MTST, filiou-se ao PSOL e anunciou que será candidato às eleições presidenciais pelo partido. Já o juiz federal Wilson Witzel abandonou o judiciário para ser o candidato do PSC ao governo do estado do Rio de Janeiro. Ainda no Rio, o advogado e escritor Edu Goldenberg filiou-se ao PCdoB, enquanto o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, foi para a Rede. Ambos pretendem disputar uma vaga na ALERJ. O empresário Junior Macagnam, presidente da União dos Lojistas de Shoppings Centers e dirigente do Vem pra Rua será a aposta do Partido Novo no Mato Grosso. Sem pretensões eleitorais, a escritora e filósofa Marcia Tiburi registrou filiação ao PT.
A despeito de tanto descrédito na política, quadros da sociedade civil buscam partidos da esquerda à direita do espectro ideológico como meios privilegiados de acesso ao debate na esfera pública. Trata-se de uma boa notícia. Afinal de contas, numa democracia de partidos fracos, quem fala sozinho com a burocracia e determina a agenda do Estado é o mercado. E esse não tem o voto de ninguém.
Theófilo Rodrigues é professor do Departamento de Ciência Política da UFRJ.