Desmontando o golpe do “documento bombástico”, parte final

Agora ficou mais claro que o golpe do “documento bombástico” era uma armadilha montada para prejudicar a credibilidade da blogosfera e da luta política contra os arbítrios da Lava Jato.

Eles se aproveitaram de um erro cometido pela blogosfera, um hoax em que todos caíram, inclusive o Cafezinho: o de que Sergio Moro havia negado o depoimento de Tacla Duran alegando desconhecer seu endereço.

Conforme explicamos em post anterior, isso não aconteceu. A resposta de Sergio Moro, em seu despacho, não foi: “não sei o endereço”, e sim: “É obrigação da defesa indicar o endereço”.

As declarações irritadas de Tacla Duran, dizendo que Sergio Moro sabia seu endereço, ajudaram a provocar essa confusão.

A irritação de Tacla e de todo mundo era explicável. Depois de negar a oitiva com a alegação de sempre, de que não era necessária, Moro acrescenta duas pequenas firulas técnicas: diz que o ônus de informar o endereço caberia a defesa, assim como demonstrar a viabilidade de uma entrevista por video-conferência.

Mas jamais disse que não sabia.

A tese do documento bombástico, portanto, é baseada numa falsa premissa, e num erro da blogosfera, que o tal site, manipulado por alguém que lhe enviou esse documento (do ministério da justiça, dizem eles), ou por intenções próprias, tentou explorar para fazê-la cair numa armadilha.

É importante observar que o governo Temer e os operadores da Lava Jato tem muitos documentos inéditos. Se eles encontrarem um site que se disponha a fazer ataques à blogosfera e às lideranças do PT, a este site não faltarão documentos.

A consequência para a blogosfera e para os deputados do PT, se embarcassem na onda do “documento bombástico”, seria a desmoralização da luta contra os arbítrios da Lava Jato.

Talvez isto explique a estranha e agressiva pressão dos editores do site para que a blogosfera e os deputados  repercutissem o tal documento e engolissem a narrativa deles.

É estranho que o tal site pressionasse, em particular, justamente os dois parlamentares mais combativos na luta contra a Lava Jato. Aliás, não é de hoje que o site tenta envolver esses parlamentares em suas armadilhas.

É estranho que agora o tal site, desmascarado, aumente a carga de calúnias e acusações contra a blogosfera que luta, há mais de dez anos, contra as artimanhas midiático-judiciais.

É estranho que não respondam aos questionamentos simples: por que atacaram exatamente esses dois importantes líderes do combate à Lava Jato, Wadih e Pimenta (foram os dois que contataram Tacla Duran, e conseguiram documentos que põem em cheque a Lava Jato), ao invés de contatar outros parlamentares?

Por que não provam as calúnias criminosas contra os deputados e contra a blogosfera?

Por que não protocolaram o tal documento, como denúncia, na corregedoria do CNJ e no Ministério Público Federal?

Por que não explicam os questionamentos sobre o valor do documento vendido falsamente como uma bomba atômica que destruiria a Lava Jato?

Por que não explicam a falsa premissa sobre a qual se fundamentou toda a história do documento, a de que ele provaria que Sergio Moro “sabia o endereço”, quando agora está provado que isso foi um hoax, uma confusão? Eles já sabiam dessa confusão e tentaram explorá-la?

Por que esses ataques e calúnias partem justamente de quem vive em outro país, longe de qualquer risco de ser contestado judicialmente?

Se a lógica do documento bombástico é que ele prova que Sergio Moro sabia o endereço de Tacla Duran, então há (como eu já expliquei no primeiro post sobre o tema) um documento muito mais interessante: um despacho do dia 18 de setembro, assinado pelo próprio Sergio Moro (o tal documento bombástico não é assinado por Moro), em que ele descreve o endereço de Tacla Duran.

Em tempo: o site questiona um vídeo do Cafezinho que teria “sumido”: está aqui. Eu havia deixado o vídeo privado porque tinha achado-o agressivo. Mas já que a retirada do vídeo serviu para gerar teorias caluniosas de baixo nível, então ele fica no ar por mais alguns dias, antes d’eu removê-lo novamente.

Em tempo 2: ao invés de cobrar os deputados, de maneira agressiva, que pedissem junto a PGR informações sobre diárias e passagens dos procuradores em dezembro de 2017, bastaria que consultassem o site do MPF e checassem por si próprios, como eu fiz. Não há viagem de procuradores a Espanha em dezembro.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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