(Foto: Domingos Peixoto/O Globo)
Por Pedro Breier
As fotos de soldados do exército revistando mochilas de crianças negras, no Rio de Janeiro, são o retrato escarrado do nosso país.
Especialmente se fizermos um paralelo com o helicóptero da família dos Perrella, tradicionais políticos da direita mineira, aliados históricos de Aécio Neves e tucanos em geral, apreendido em 2013 carregando 445kg de pasta base de cocaína – o que pode render em torno de 2.225kg de cocaína refinada.
Seriam necessárias 445 mochilas abarrotadas com 5kg de cocaína cada uma para chegar à quantidade encontrada no helicóptero. Os números, assim como as grotescas imagens, evidenciam o ridículo de um exército revistando crianças.
O que aconteceu com os donos do helicóptero? Absolutamente nada.
O delegado responsável pelo caso disse que “o fato de (o helicóptero) pertencer a quem quer que seja não significa que essa pessoa esteja envolvida com o crime praticado”. O piloto, assessor de Gustavo Perrella, ficou preso por um tempo, depois foi solto e… mais nada. Devolveram o helicóptero para os Perrella. Case closed.
Conclusão óbvia: o objetivo da patacoada militar de Temer não é combater o tráfico ou a criminalidade ou o que quer que seja.
Além dos objetivos políticos e eleitorais do vampirão, trata-se de uma demonstração prática dos vários benefícios que a proibição das drogas gera para alguns poucos poderosos sem escrúpulos.
O mercado das drogas é um dos mais lucrativos do mundo, justamente porque é ilegal e, portanto, não incide sobre o comércio de entorpecentes imposto algum.
Obviamente, não é o dono da boca quem leva a grande fatia desse enorme lucro. A favela é o varejo. O grande comerciante, que vende no atacado, não tem ponto em vielas no morro; faz a entrega do produto de helicóptero mesmo.
Como o aparato repressor do Estado – Justiça, polícia, exército – funciona muito bem contra os pobres mas protege desavergonhadamente os poderosos, a proibição das drogas é um bálsamo para os grandes tubarões do tráfico.
A proibição gera dividendos aos representantes do status quo em duas frentes, portanto.
De um lado, altíssimos rendimentos para quem tem cacife para transportar altas quantidades de droga em, por exemplo, helicópteros.
De outro, é a desculpa perfeita para fingir que se está combatendo a insegurança enquanto, na verdade, busca-se manter o patamar obsceno de desigualdade social do Brasil por meio da prisão indiscriminada de jovens – negros e pobres em sua maioria.
Uma brutalidade racista e criminosa que conta com o aval da classe média/alta, embrutecida e emburrecida pela mídia hegemônica.
A legalização e regulamentação das drogas, por esses e muitos outros motivos, é urgente.