Tanto a Lava Jato quanto o governo Temer, ambos com apoio da Globo e seus tentáculos (Folha, Estadão, Veja, etc), aguardaram o fim do recesso judiciário e a passagem do Carnaval, para lançarem uma grande ofensiva contra as forças que tentam resistir ao avanço das forças obscurantistas que estão por trás do golpe, do regime de exceção, do desmonte do Estado e dos ataques à soberania nacional.
As tarefas foram distribuídas. À Lava jato cabe pautar a agenda política, com operações sensacionais, que distraiam e intimidem a opinião pública.
Volta do Brasil ao mapa da fome? Destruição de empregos com carteira assinada? Disparada da violência? Entrega do controle da Embraer, à Boeing? Tudo isso é abafado com uma nova prisão espetacular, de um lado, e com a entrada triunfal das forças armadas no Rio de Janeiro, de outro.
Importante notarmos que a entrega da Embraer à Boeing significa jogar no lixo o projeto de desenvolvermos, no Brasil, com ajuda da Saab e da Força Aérea Sueca, em parceria com a nossa própria Aeronáutica, uma tecnologia nacional de ponta para construção da jatos civis e militares, o que é uma necessidade estratégica para um país com nosso tamanho.
São empregos de qualidade que não serão criados no Brasil, porque os engenheiros serão norte-americanos. Não nos surpreende, portanto, que a Câmara de Comércio Brasil X EUA tenha dado prêmio a Sergio Moro, e que o Departamento de Justiça se orgulhe tanto da parceria estabelecida com nossos procuradores.
A esquerda não pode se deixar iludir. Ao invés de procurar “tirar sarro” das vítimas da Lava Jato quando essas não são petistas e participaram de manifestações anticorrupção, olhem com desconfiança.
Qualquer ação judicial espetacular, que tenha o dedo da Lava Jato, é politizada e seu interesse maior é consolidar o golpe. Foi assim no Rio. A prisão dos diretores da Fecomércio, com acusações esdrúxulas, baseadas puramente em “depoimentos”, de que despesas advocatícias serviram para lavagem de dinheiro, tem como único objetivo criminalizar a defesa do presidente Lula, cujos advogados prestaram serviços para a Fecomércio durante a batalha jurídica travada entre a entidade e seu ente nacional, a Confederação Nacional do Comércio (CNC), presidida por Antonio José Domingues de Oliveira Santos desde a ditadura militar (Santos foi posto lá pelo sinistro Golbery, um dos mentores do regime instalado em 1964).
É claro que a Lava Jato, com seus métodos, consegue achar crime em qualquer lugar. A partir do momento que o inquérito não tem um foco definido, ou seja, pode ir se ajustando, e alargando-se, na medida em que a investigação avança, ao ponto de se estender a familiares, a amigos, a empresas com as quais os réus tiveram algum tipo de ligação, a Lava Jato sempre achará alguma coisa para oferecer à mídia.
Hoje a imprensa lavajateira amanheceu com ataques ao ex-ministro Jaques Wagner, com direito a busca e apreensão em seu apartamento. A Folha de São Paulo, ao noticiar o caso, tentou ridicularizar a reação petista, como vem fazendo desde que o PT começou a esboçar uma contra-narrativa.
Até onde apuramos, a nova frente de ataque da Lava Jato (a operação, com outro nome, é um dos intermináveis desdobramentos da Lava Jato) a Jaques Wagner, por conta da reconstrução do Fonte Nova, faz uso de uma manipulação grosseira de números relativos ao custo da obra. Confunde-se deliberadamente o custo estimado do projeto inicial, com os gastos efetivos finais, referentes a um outro projeto, inteiramente modificado, até mesmo pelas questões de segurança levantadas com tragédia da queda de arquibancada, em novembro de 2007, que matou 7 pessoas.
Em Curitiba, os ataques também se intensificaram. A narrativa não precisa mais se ater à realidade. Dados e notícias fantasiosas se retroalimentam. Por exemplo, a Lava Jato encontra, em bancos de dados ou sistemas de mensagens comprovadamente fraudados (os sistemas Drousy e Mywebday), valores parecidos àqueles usados na compra de um terreno em São Paulo, e a mídia diz que Lava Jato encontra elo entre “departamento de propinas” da Odebrecht e compra de terreno do Instituto Lula, num interminável jogo de mentiras. O Instituto Lula funciona no mesmo terreno desde 1991. O tal terreno de que fala a Lava Jato, e que a mídia, surrealmente, já chama de “terreno do Instituto Lula”, nunca foi usado e nunca pertenceu ao Instituto Lula ou a ninguém a ele ligado. A história – apenas uma história, forjada nos porões imundos da Lava Jato – é de que a Odebrecht queria comprar o terreno para, no futuro, dar ao Instituto Lula. O fato é que o Instituto Lula nunca recebeu tal terreno, assim como Lula nunca recebeu nenhum triplex, tampouco um “sítio em Atibaia”.
Enquanto a Lava Jato vende seus delírios à mídia e, incrivelmente, consegue chancelá-los em tribunais superiores, sob a monstruosa pressão das forças obscurantistas do golpe, o ministério público da suíça encontra conta bancária – real, concreta, objetiva – no país, com mais de R$ 110 milhões, pertencente a um conhecido operador tucano, o Paulo Preto, e não acontece nada. A notícia vai para o pé de página dos jornalões. Como não é uma informação forjada nos porões da Lava Jato, não é uma notícia, portanto, que sirva ao golpe.
João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, está preso há quase dois anos, sem que a justiça tenha encontrado um centavo em suas contas, enquanto contas tucanas são encontradas na Suíça e em outros paraísos fiscais, com milhões de dólares, sem que isso implique na prisão de ninguém. Ao contrário, a Lava Jato, numa de suas piruetas lógicas, condena Vaccari e Lula por lavagem de dinheiro porque não encontraram nenhuma prova, nem de dinheiro nem de triplex. A ausência de prova é transformada em prova, porque se o dinheiro não está na conta de Vaccari e o apartamento não está em nome de Lula, então isso seria “prova” de que foi lavado…
Ainda hoje, ficamos sabendo que o governo Temer pretende entregar mais pedaços do pré-sal ao controle estrangeiro. A imprensa lavajateira informa que o governo quer arrecadar R$ 58 bilhões com a venda de uma área imensa do pré-sal, não para fazer investimentos, mas apenas para “cumprir a regra de ouro”, ou seja, para esterilizar o dinheiro na dívida pública.
A reportagem é deliberadamente confusa, como que para dificultar que a população entenda o que realmente está em jogo: a alienação, para sempre, de recursos naturais que pertencem ao povo, e que poderiam ser usados para financiar a educação de milhões de crianças e jovens brasileiros, além dos investimentos em infra-estrutura e pesquisa tecnológica, como havia sido proposto e vinha sendo realizado pelo governo eleito, antes deste ser derrubado por um golpe.
Diariamente, governo e mídia falam da privatização da Eletrobras, o que poderia produzir mais um impacto terrível na economia nacional e no futuro dos brasileiros, com enorme transferência de empregos de qualidade para o exterior, além da queda nos investimentos necessários à expansão ou mesmo manutenção de nosso sistema elétrico. Num país como o Brasil, que não tributa lucros e dividendos, e num mundo onde o dinheiro consegue se esconder em paraísos fiscais com imensa facilidade, a desestatização de um gigantesco conjunto de empresas estatais, que pagam bilhões em impostos, teria como consequência uma queda brutal na arrecadação fiscal. Uma estatal, por seu dever de transparência, não pode jamais deixar de pagar impostos. Não é o caso de uma empresa privada, que fará de tudo para não pagá-los, de um lado, e para aumentar ao máximo o seu lucro, de outro, mesmo que ao custo da redução da qualidade do serviço oferecido ao consumidor (sobretudo num setor que não tem concorrência, como o elétrico).
Lava Jato, Globo e Temer jogam no mesmo time, apesar de eventuais (e raros) conflitos e contradições entre os atores. Tais conflitos costumam se resolver rapidamente, sempre em vista do interesse maior, que é aumentar a concentração de renda em mãos da elite financeira, mesmo que isso signifique o fim da nossa democracia, a destruição de milhões de empregos, e uma pauperização monstruosa do país.