“As pessoas diziam que iam lá jogar futebol, visitar o presidente”, afirmou o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) nesta 5ª feira (22.fev.2018), em depoimento ao juiz Sérgio Moro.
Enquanto o Brasil segue sendo devastado pela política golpista de Michel Temer, a Lava Jato curitibana distrai a opinião pública com a sua interminável novela sobre triplexs, sítios e pedalinhos.
Com isso, a Lava Jato ajuda a sustentar, naturalmente, o governo Temer.
Lava Jato e Globo desenvolveram uma técnica muito mais eficiente em apoiar o governo do que simplesmente falar bem dele: basta caçar e paralisar aqueles que poderiam oferecer alguma ameaça política, ou que poderiam organizar ações políticas desagradáveis; ou seja, basta destruir a oposição.
A Lava Jato continua bebendo sua força dos grandes meios de comunicação, dos “prêmios” e jantares de organizações vinculadas ao imperialismo, e do corporativismo do próprio sistema de justiça: é assim que operações que não tem nada a ver com a Petrobras, no Rio ou em qualquer outro estado, são apresentadas como um “desdobramento” da Lava Jato, ou mesmo como operações da própria, de maneira que a Lava Jato parece ter se tornado um poder à parte do sistema tradicional de justiça.
Um exemplo é a prisão de hoje do presidente da Fecomércio-RJ e eterno diretor do Senac-RJ, Orlando Diniz, e de outros diretores do Senac, por agentes da PF e do Ministério Público Federal, nesta sexta-feira. A manchete do Globo é: Lava Jato prende presidente da Fecomércio.
Os outros três funcionários ligados às entidades são Marcelo Salles, diretor-geral do Senac-RJ e Sesc-RJ; Plínio José Freitas, do corpo técnico do Senac-RJ, e Marcelo Fernando Novaes Moreira.
Há um detalhe picante, no entanto, na história: os presos eram os diretores do Senac-RJ quando Merval Pereira, o principal porta-voz político da Globo, foi contratado a peso de ouro para dar palestras sobre o… impeachment de Dilma Rousseff.
Segundo reportagem recente do Intercept, o Senac-RJ torrou cerca de R$ 9 milhões em contratos de patrocínio, em 2016, que envolviam empresas como a InfoGlobo e a Fundação Roberto Marinho.
(A imagem acima é do blog do Marcelo Auler).
O colunista e membro do conselho político do Globo, Merval Pereira, arrebatou, sozinho, R$ 375 mil com palestras cujo tema não poderia ser mais irônico: “Perspectivas para o Brasil, uma análise prospectiva sobre o que o Governo Dilma pode fazer para evitar o impeachment no Congresso e avaliação do que seria um novo governo de união nacional com a derrubada da presidente e a chegada de Michel Temer”.
Não creio, porém, que a Globo, ou qualquer outro órgão de imprensa membro do cartel, irá lembrar dos vínculos financeiros entre Senac, Globo e seus jornalistas. Nem a Globo nem a… Lava Jato, aliás.
Diniz está à frente da Fecomércio há muito tempo. E há tempos, igualmente, é investigado pela polícia por conta dos valores milionários envolvendo “despesas advocatícias”, as quais incluem, Tiago Cedraz, filho do presidente do mesmo TCU que mergulhou de cabeça no golpe e, assim que Temer assumiu, mudou totalmente suas posições e passou a chancelar todas as “pedaladas” de Michel Temer.
Como de praxe, a agenda política do Brasil, de forma geral, e do Rio, em particular, volta a ser monopolizada pela Lava Jato. Ao invés de reportagens e entrevistas sobre a crise econômica e social que devasta o estado, ao invés de debates democráticos sobre forma de superá-la, a agenda midiática é tomada, mais uma vez, por prisões espetaculares de corruptos e inocentes.
Direita e esquerda, então, se unem num só grito de ódio e, também unidos, esquecem que a principal ameaça à soberania popular vem do empoderamento excessivo do sistema de justiça, o qual já está sob controle das forças do grande capital (que por sua vez controlam a mídia).
Assim, ao invés de ter acesso a denúncias contra as centenas de bilhões de reais roubados dos contribuintes no pagamento de juros, ou contra o assalto constitucional em que consiste o processo de derrubada de leis e direitos sem que tenha havido um necessário debate público, ou ainda o crime da entrega de indústrias nacionais, estatais estratégicas e recursos naturais, quase de graça, ao capital estrangeiro, a opinião pública é hipnotizada pela prisão dos diretores do Senac…
No Brasil pós-golpe, continuamos vivendo a era Eduardo Cunha, onde os próprios corruptos que apoiaram o impeachment, vão sendo presos e substituídos por outros corruptos, num circo midiático astutamente montado para que tudo continue o mesmo. Ou, melhor dizendo, para que tudo piore, visto que à corrupção se soma agora uma crise social e econômica e um processo de desmonte do Estado sem paralelo na história do país.