Na DW
O Brasil na imprensa alemã (14/02)
“Frankfurter Allgemeine Zeitung” elege a Paraíso do Tuiuti como vencedora do Carnaval carioca, e esta semana é a vez de o “Süddeutsche Zeitung” dedicar espaço ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro.
Karneval in Rio de Janeiro 2018 (Getty Images/AFP/M. Pimentel)
Vampiro: fantasia ironiza o presidente Michel Temer durante desfile
Frankfurter Allgemeine Zeitung – Dança do vampiro, 14/02/2018
Alusões políticas e críticas sociais podem ser encontradas aos montes nas ruas. Já no Sambódromo, a liberdade dos foliões deu lugar a uma lógica marqueteira. Os desfiles são imbatíveis em beleza e fantasia – mas, em tempos de transmissão ao vivo e patrocínio, quase nenhuma escola corre o risco de chocar e incomodar os espectadores na arena e na telinha. Apesar de não haver momento melhor para fazê-lo.
Por isso a escola de samba Paraíso do Tuiuti deveria receber uma láurea por tê-lo feito. Sob o slogan “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, ela apresentou a história da escravidão no Brasil. Neste ano se completam 130 anos do fim da escravidão, mas muita coisa ficou: racismo, exploração e opressão continuam sendo temas atuais no Brasil. E eles oferecem muito assunto para críticas à sociedade e às autoridades. A Tuiuti não se acanhou. Ela fez os manifestantes que pediram a destituição da presidente Dilma Rousseff desfilar como marionetes pelo Sambódromo.
No último vagão estava o atual presidente, Michel Temer, como vampiro. Sua reforma do mercado de trabalho, a gosto do mercado, foi apresentada pela escola de samba como obra do diabo. Mesmo que a Tuiuti não chegue à vitória porque outras escolas foram tecnicamente melhores, o seu desfile conseguiu mais do que todos os outros: ele incomodou.
Süddeutsche Zeitung – Jair Messias Bolsonaro, 13/02/2018
Sobre Jair Bolsonaro ouve-se e lê-se com frequência que ele é o Donald Trump do Brasil. Isso talvez seja um pouco cruel – com Trump. Além disso, é errado. Sem dúvida há paralelos entre o presidente dos Estados Unidos e o brasileiro candidato à Presidência. Ambos xingam contra minorias e jornalistas, consideram o homem branco o ápice da criação, aparentemente passam grande parte do dia tuitando besteiras e são, de qualquer forma, contemporâneos desagradáveis. Mas se isso bastasse para ser um novo Trump haveria milhões de Trumps por aí.
Sobretudo porque Bolsonaro, de 62 anos, diferencia-se radicalmente do principiante da política em Washington: ele não é um iniciante, um antipolítico. (…) Durante quase três décadas quase ninguém levou a sério o deputado Bolsonaro, afora sua clientela radical. A novidade agora é que ele tenha encontrado ouvidos para as suas tiradas.
Bolsonaro nasceu em 1955 numa pequena cidade de São Paulo. Seu pai lhe deu o segundo nome de Messias. Isso combina com a sua autoencenação: cristão, próximo do povo, duro, honesto, incorruptível. Tirando o seu fervor ultracatólico, o resto é tudo mentira.
Bolsonaro é dono de vários imóveis de luxo, que ele jamais poderia ter comprado com seu salário de deputado. Apesar disso, ele incita ao ódio contra a elite corrupta. De forma bizarra, ele atinge com esse discurso justamente os brasileiros mais ricos e instruídos: a elite. Esses têm até outubro para entender que cada voto para esse messias de direita é um voto contra a democracia.
AS/ots