Informe político mensal do Centro de Inteligência Leonel Brizola. Número 1, fevereiro de 2018.
Análise de números de filiação e preferência partidária do Ibope e Datafolha
O Ibope Inteligência realizou uma pesquisa, em novembro do ano passado, sobre “filiação partidária”, que não recebeu praticamente nenhuma atenção da mídia.
A razão do desinteresse pode ser explicada pelos resultados da pesquisa, que mostram a persistente hegemonia do Partido dos Trabalhadores no conjunto dos brasileiros filiados ou com preferência a alguma legenda.
O próprio Ibope não fez alarde da sondagem, embora tenha entrevistado mais de duas mil pessoas em 142 municípios. O texto que abre a pesquisa traz apenas duas frases e o título parece querer diminuir o resultado e a repercussão do trabalho:
“Apenas 3% dos brasileiros são filiados a algum partido”
Ora, são apenas 3% porque a pesquisa optou por uma pergunta extremamente restritiva. Pouca gente, efetivamente, filia-se a um partido. Uma quantidade muito maior, porém, tem uma vida política ativa, partidária ou não.
A pergunta principal a fazer seria sobre “orientação” partidária, dentro da qual se poderia inserir uma outra pergunta sobre filiação.
De qualquer forma, percentuais enganam muito. Considerando o tamanho do eleitorado nacional hoje, de 144 milhões de pessoas, segundo os últimos números do TSE, esses 3% dos entrevistados que se declararam filiados a algum partido correspondem a 4,3 milhões de cidadãos com título de eleitor.
Outros 5% dos entrevistados informaram que já foram filiados a um partido político. Estes 5% correspondem, por sua vez, a 7,7 milhões de eleitores.
No total, portanto, entre filiados e ex-filiados a partidos políticos, temos 12 milhões de eleitores.
Deste total de brasileiros filiados ou que já foram filiados a algum partido, 30% disseram que a legenda ao qual são ou foram ligados era o Partido dos Trabalhadores, o que corresponde a 3,6 milhões de brasileiros. Deste total, 1,3 milhão disseram que estão filiados, no presente, e 2,4 milhões disseram que já foram filiados, no passado.
(Atenção, pode haver pequenas divergências entre os totais, porque eu estou convertendo percentuais para número aproximado de eleitores).
Não vou falar do PMDB, porque é um partido muito fisiológico, com tendência, portanto, a uma filiação muito inconsistente.
Falemos do PSDB. O partido que governou o país de 1995 a 2002 tem, segundo o Ibope, aproximadamente 1 milhão de filiados ou ex-filiados, sendo 302 mil com filiação no presente e 777 mil com um passado de filiação.
É interessante observar que o PT é forte inclusive em categorias sociais marcadas pela hegemonia conservadora, como entre as classes mais altas e mais escolarizadas.
Entre filiados mais ricos, ou seja, com renda mensal superior a 5 salários mínimos, o PT tem uma presença de 25%, contra apenas 10% do PSDB. Em número aproximado de eleitores, o PT tem 390 mil filiados na faixa mais rica da pesquisa, contra 156 mil do PSDB.
Entre eleitores com filiação partidária que detêm ensino superior, o PT tem 33% de filiação, contra apenas 7% do PSDB. Em números absolutos, isso quer dizer que o PT tem aproximadamente 712 mil filiados com ensino superior, enquanto o PSDB tem apenas 151 mil.
Esses números desmentem cabalmente as interpretações, superficiais, de que o eleitor de Lula e do PT são apenas pessoas de baixa renda e escolaridade. O PT tem filiação maior do que qualquer outro partido entre setores da classe média e com ensino superior.
O Datafolha também apura, em todas as suas pesquisas de intenção de voto, a preferência partidária dos entrevistados, embora raramente dê atenção a esse dado: é como se fosse um número burocrático sem importância, ao invés de ser uma informação essencial numa democracia inteiramente regida por um sistema partidário, como a nossa.
A última pesquisa do instituto, feita nos dias 30 e 31 de janeiro deste ano, traz dados atualizados de preferência partidária, que o Centro de Inteligência Leonel Brizola compilou e organizou na tabela abaixo.
Aproveitamos e incluímos em nossas tabelas (uma com percentuais, outra com estimativas de número de eleitores) algumas colunas com a intenção de voto dos três principais candidatos.
Aliás, é interessante sempre converter os percentuais das pesquisas de intenção de voto para quantidade aproximada de eleitores, de maneira a quebrar um pouco a frieza dos números. Se fizermos isso, descobriremos que os 37% de Lula, segundo o último Datafolha, correspondem a 53 milhões de eleitores dispostos a votarem no petista. Bolsonaro, por sua vez, tem 23 milhões de eleitores.
Os 53 milhões de eleitores de Lula é um número tão próximo dos 54 milhões de votos obtidos por Dilma que não se pode fugir à suspeita de que são os mesmos eleitores.
Voltando a coluna de preferência partidária, o Datafolha apresenta o seguinte quadro: 64% dos entrevistados disseram que não tem nenhuma preferência partidária. É um percentual alto para padrões internacionais.
Segundo uma sondagem recente do Pew Center, principal instituto de pesquisa nos EUA, o percentual de eleitores que não se identifica com nenhum partido é de 44%, sendo que virtualmente todos admitem uma tendência em concordar com posições republicanas ou democratas, ainda conforme a mesma pesquisa.
(Em outra oportunidade, gostaríamos de fazer análises comparadas de pesquisas políticas no Brasil, EUA e outros países. Quase fizemos isso hoje com os EUA, mas o estudo ficaria muito longo.)
De qualquer forma, se considerarmos o tamanho do eleitorado brasileiro, estimado em 144 milhões de eleitores, temos 52 milhões de brasileiros que efetivamente tem uma preferência partidária, segundo o Datafolha.
No topo do ranking, isolado, está o PT, com 19% de preferência nacional; este percentual corresponde a cerca de 27 milhões de brasileiros, segundo uma pesquisa (é bom enfatizar isso) feita há apenas algumas semanas.
Os segundo e terceiro lugar ficam o PMDB e PSDB, que tem 5% e 3% da preferência nacional, respectivamente.
Apenas 4 milhões de eleitores declararam preferência pelo PSDB.
Agora vamos analisar os dados estratificados, para checar a preferência partidária nas diferentes regiões e categorias sociais.
Assim como vimos na pesquisa Ibope sobre filiação partidária, também aqui notamos que o PT lidera mesmo em categorias e regiões mais conservadoras.
Entre eleitores pertencentes a famílias de alta renda (mais de 10 salários), por exemplo, o PT tem uma preferência de 13%, o que corresponde, mais ou menos, a 750 mil cidadãos. O PSDB, por sua vez, goza da preferência, nesta mesma categoria, de 10%, ou 576 mil pessoas. Ainda na mesma categoria (e só a título de curiosidade), o PMDB tem apenas 2% de preferência.
Quando olhamos para a intenção de voto em Lula, porém, a força petista se expande sobremaneira. Entre os mesmos eleitores de alta renda, pertencentes a famílias com renda acima de 10 salários, Lula tem surpreendentes 21% de intenção de voto, contra 20% de Bolsonaro e 7% de Alckmin.
Esses 21% de Lula entre o eleitorado mais rico corresponde, aproximadamente, a 1,2 milhão de eleitores, num universo total de 5,7 milhões de pessoas.
Outros números interessantes, por quebrarem alguns preconceitos, é sobre o voto lulista e a preferência partidária no Sudeste. Segundo o Datafolha, o PT tem 15% da preferência partidária no Sudeste, contra 4% do PSDB. Isso significa, em números de eleitores, que 9 milhões de brasileiros que votam no Sudeste tem preferência partidária pelo PT, contra apenas 2,5 milhões, também eleitores e residentes no Sudeste do país, que preferem o PSDB.
Quando olhamos a coluna de intenção de voto, o quadro é ainda mais interessante. Lula tem 17 milhões de eleitores no Sudeste, contra apenas 6,8 milhões para Geraldo Alckmin e 11 milhões para Bolsonaro. Ou seja, Lula sozinho tem quase a mesma quantidade de eleitores, no Sudeste, que seus dois principais adversários.
Se formos para o Nordeste, a vantagem de Lula e do PT, naturalmente, dispara. A preferència partidária do nordestino é coerente com seu voto: 28% elegem o PT como sua legenda favorita, contra apenas 2% (sic) que preferem o PSDB. Isso significa que o PT tem quase 11 milhões de militantes no nordeste, enquanto o PSDB, apenas 780 mil.
Em se tratando de intenção de voto, Lula tem 22,6 milhões de eleitores no Nordeste. Bolsonaro e Alckmin, somados, tem menos de 4 milhões de votos na região.