Alô liberais brasileiros: sindicato forte consegue redução de jornada de trabalho na Alemanha!

(Só a luta muda a vida)

Por Pedro Breier

A direita brasileira possui algumas peculiaridades.

Uma das mais notáveis é o fato de virtualmente não haver, por aqui, liberais tanto na economia quanto nos costumes. Os nossos liberais só são a favor da liberdade no que lhes convém: a liberdade de explorar trabalhadores sem que o governo atrapalhe.

Como a sociedade brasileira ainda é majoritariamente conservadora nos costumes, os nossos liberais, espertamente, travestem-se de guardiões dos bons costumes para angariar apoio, vide MBL e sua comovente cruzada contra museus e exposições de arte.

Outra singularidade dos liberais brasileiros é a sua capacidade ímpar de mentir como se não houvesse amanhã.

Enchem os pulmões para tecer loas à política econômica recomendada – empurrada, melhor dizendo – por EUA e Europa ao resto do mundo e atribuem todos os nossos males à esquerda e aos perversos sindicatos.

Inclusive lançamos aqui no Cafezinho a campanha “Ajude um amigo de direita“, com o objetivo de alertar os desavisados de que o liberalismo econômico simplesmente NÃO é adotado pelos países desenvolvidos. O Miguel do Rosário até brinca que quando perguntarem sobre algum país socialista que deu certo podemos responder EUA, Inglaterra ou França e seus altos impostos, só para ficar em um exemplo.

A abertura dos mercados é entusiasticamente recomendada aos países periféricos justamente porque a economia dos países centrais já está bem mais desenvolvida – por meio de pesada atuação estatal – e leva, portanto, uma vantagem abissal sobre as demais.

Pois uma notícia vinda da Alemanha joga ainda mais água no chope dos liberais tupiniquins.

O IG Mettal, o mais forte sindicato alemão e que representa 3,9 milhões de trabalhadores nos setores metalúrgico e automotivo, conquistou uma vitória importantíssima para as lutas dos trabalhadores no mundo todo (aqui a matéria da RBA).

Depois de uma bela queda de braço com os empresários e paralisações de advertência de 24 horas que provocaram prejuízo de € 200 milhões à economia de empresas como Porsche, BMW, Airbus e Daimler – reparem no poder da greve! – o sindicato conquistou aumento de 4,3% nos salários e redução de jornada de 35 para 28 horas semanais.

“Novas tecnologias significam que a produtividade continua a subir. O direito a trabalhar menos horas, enquanto se mantém o mesmo salário, é uma resposta essencial. A produtividade conquistada com a indústria 4.0 precisa ser partilhada com a sociedade e os trabalhadores”, disse o secretário-geral da IndustriALL, entidade mundial dos trabalhadores do ramo industrial, o metalúrgico brasileiro Valter Sanches. “Reduzir a jornada é um caminho para evitar a concentração de renda no bolso de poucos. O aumento salarial vai ajudar a estimular a economia alemã.”

Malditos sindicatos!

Enquanto isso, no Brasil, a jornada é de 44 horas semanais e a direita diz que trabalhador tem muito direito por aqui. Não há limites para a cara de pau da elite mais mesquinha do mundo.

Portanto, mais uma empulhação dos liberais brasileiros cai por terra. O primeiro mundo nos ensina que o que melhora a vida dos trabalhadores é Estado e sindicatos fortes.

O resto é balela, empulhação, história pra boi dormir, mentira deslavada dos Kins e quejandos.

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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