(O outrora imperador vai perdendo a majestade. Charge: Aroeira)
Por Pedro Breier
Chegou a hora de Sérgio Moro.
O editorial da Folha de hoje não faz a menor questão de ser sutil ou pegar leve com sua excelência. O título: “Privilégios da casta”. Não mais que de repente, Moro passou de paladino da moral a parte da casta privilegiada de juízes.
A foto que ilustra o editorial é de Moro ao lado de seu parceiro Marcelo Bretas, em preto e branco. Moro está com a mão sobre o queixo e o olhar compenetrado, o que, combinado com o título, dá um ar de vilão aos magistrados. No ataque semiótico aos alvos da vez da máfia midiática, os mínimos detalhes são cuidadosamente elaborados.
Do alto de seu deslumbramento com a fama, Moro provavelmente não esperava por isso.
Entretanto, não faltaram avisos.
Inúmeras análises da blogosfera de esquerda nos últimos anos previam que Moro seria colocado em seu lugar logo após fazer o serviço sujo.
Batata: poucos dias após a confirmação da sentença condenatória de Lula pelo TRF 4 a mídia corporativa volta suas baterias para o judiciário. O objetivo é lembrar os juízes da Lava Jato, completamente embevecidos com a fama, de que a história de super heróis do combate à corrupção acabou.
Quem manda é a mídia hegemônica e é melhor os senhores magistrados retornarem à discrição que deveria ser o padrão de suas condutas.
Não poderiam ter encontrado melhores figuras para desempenhar o cretino papel de usar seu cargo público para cumprir os desígnios políticos dos barões da imprensa.
Bretas, que antes postava fotos nas redes sociais segurando rifles, parecendo um bolsominion, retirou-se miseravelmente do Twitter após a divulgação de que ele e a esposa, também juíza, recebem auxílio-moradia duplo para morar na mesma casa – que é própria.
Moro, então, é o capataz perfeito.
Combina uma arrogância desmedida com uma alta dose de deslumbramento com os holofotes e ainda uma generosíssima pitada de dificuldade argumentativa, digamos assim.
Só alguém que não se importa de passar por cima da lógica básica (e das leis, é claro) para entregar a condenação exigida por quem manda no país poderia defender-se de forma tão patética na questão do auxílio-moradia.
Moro simplesmente confessou que o auxílio é uma fraude para “compensar a falta de reajuste dos vencimentos”. Assombroso.
De qualquer forma, Moro acabou.
Provavelmente arranjará mais algumas condenações esdrúxulas de Lula para tentar sentir o gostinho de ser paparicado novamente.
Depois disso virá o ocaso total.
Como escrevemos aqui no Cafezinho há alguns dias, o judiciário é apenas o braço armado do verdadeiro cérebro do(s) golpe(s).
Quem manda na ditadura civil a qual estamos submetidos é o oligopólio de mídia.