(…) o livro se divide em duas partes. Na primeira parte, são discutidos dez trechos da sentença condenatória, onde o autor encontra, e analisa com propriedade, falácias de vários tipos: Apelo à Crença Comum; Circularidade; Argumentum ad Hominem; Non Sequitur; Apelo à Presciência, ou Falácia dos Mundos Possíveis; Apelo à Possibilidade; Equivocação; Inversão do Ônus da Prova.
Na segunda parte, o filósofo aprofunda sua análise sobre as implicações das falácias discutidas e sobre como elas se articulam na argumentação do juiz para justificar a condenação.
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No Jornal GGN
Falácias de Moro: entre paralogismos e sofismas
QUA, 17/01/2018 – 16:00
Está para ser lançado o livro “Falácias de Moro: Análise Lógica da Sentença Condenatória de Luiz Inácio Lula da Silva”, de autoria de Euclides Mance, filósofo, professor de Filosofia do Método Científico e de Lógica, ex-docente da Universidade Federal do Paraná e atualmente integrante da coordenação geral do Instituto de Filosofia da Libertação.
O livro, com 276 páginas, será lançado nos próximos dias pela Editora IFIBE, e já está disponível para acesso aqui.
A Lógica é a ciência que estuda a relação de consequência entre proposiçòes, respondendo, assim também, por teorias da argumentação correta nos domínios da linguagem comum e científica. Ciências particulares terão seus conceitos próprios e regras para seus empregos adequados; mas, assim como seus cálculos têm de ser feitos com as regras da aritmética, seus argumentos precisam espelhar relações de consequência válidas, caso contrário serão apenas instrumentos de uma retórica carente de racionalidade. Uma sentença jurídica, que pretenda ser justa, não pode ignorar, assim, os requisitos da inferência válida e correta, seja ela de natureza abdutiva, indutiva ou dedutiva.
Em seu livro, o Prof. Mance apresenta uma análise lógica, bem feita, sobre raciocínios e argumentos utilizados pelo juiz Sérgio Moro no corpo da sentença por ele emitida, relativa ao processo em que o ex-Presidente Lula figura como réu, no caso do apartamento triplex do Guarujá. O filósofo estuda, detalhadamente, a longa sentença – que pretende provar a culpa do réu e justificar sua condenação – mostrando que o emprego de diversas inferências falaciosas desqualifica as conclusões obtidas.
Nas Considerações Iniciais, o autor, de forma didática, apresenta a definição do conceito de falácia – erro de raciocínio, argumento sem garantia formal de que a conclusão decorre das premissas; e apresenta algumas noções lógicas básicas, como a de condicional e bicondicional, discutindo quando uma condição é necessária, quando é suficiente, e quando é necessária e suficiente. O domínio do significado destas noções, entre outras, é fundamental, para quem pretende derivar corretamente conclusões a partir de hipóteses ou de premissas verdadeiras.
Mance lembra ainda que, quando cometida de forma involuntária, a falácia se classifica como ‘paralogismo’, mas quando implantada de forma proposital em um raciocínio, visando confundir o interlocutor, é dita um ‘sofisma’. Os sofistas eram professores e intelectuais itinerantes que frequentavam Atenas e outras cidades gregas na segunda metade do quinto século a.C., ensinando a arte de influenciar pessoas através da persuasão retórica. A partir daí, há 25 séculos, sofismar tem sido entendido como procurar influenciar cidadãos, na política e em outras áreas, através de persuasão enganosa.
Na sequência, o livro se divide em duas partes. Na primeira parte, são discutidos dez trechos da sentença condenatória, onde o autor encontra, e analisa com propriedade, falácias de vários tipos: Apelo à Crença Comum; Circularidade; Argumentum ad Hominem; Non Sequitur; Apelo à Presciência, ou Falácia dos Mundos Possíveis; Apelo à Possibilidade; Equivocação; Inversão do Ônus da Prova.
Na segunda parte, o filósofo aprofunda sua análise sobre as implicações das falácias discutidas e sobre como elas se articulam na argumentação do juiz para justificar a condenação.
Professores universitários e pesquisadores na área de Lógica, decidimos manifestar publicamente nosso apoio e concordância com a análise e conclusões do colega Euclides Mance. Com efeito, estamos convencidos de que Mance demonstra, com perspicácia e competência, que o juiz Sérgio Moro incorreu em inúmeros erros lógicos no conjunto de raciocínios e argumentações, cometeu equívocos em aplicações de regras de inferência lógica, além de ter várias vezes assumido hipóteses e premissas sem critério de veracidade. Em suma, a sentença do juiz nos surpreende e nos assombra, enquanto profissionais, com a série de argumentos inaceitáveis que apresenta.
É na condição de membros da comunidade de uma área do conhecimento em que o Brasil se destaca no cenário acadêmico internacional que acreditamos ser dever nosso, como cidadãos e profissionais, contribuir com a Justiça de nosso país, visando prevenir que quaisquer réus venham a sofrer condenações injustas, baseadas em conclusões de argumentos, cuja fragilidade, fartamente denunciada desde a antiguidade grega, é amplamente conhecida.
Assinam
Abílio Rodrigues Filho
Doutor em Filosofia, UFMG
Professor de Lógica, Departamento de Filosofia, UFMG
Adolfo Gustavo Serra Seca Neto
Doutor em Ciência da Computação, USP
Professor Associado, Departamento Acadêmico de Informática, UTFPR
Alexandre Costa-Leite
Doutor em Filosofia, Université de Neuchâtel, Suíça
Professor Adjunto de Lógica e Filosofia, UnB
Alexandre Noronha
Doutor em Filosofia, UFRGS
Professor Adjunto, Departamento de Filosofia, UFPR
André Leclerc
Doutor em Filosofia, Universidade do Quebec, Canadá
Professor Associado, Departamento de Filosofia, UnB
Andréa Maria Altino de Campos Loparic
Doutora em Lógica e Filosofia da Ciência, UNICAMP
Professora Senior, Departamento de Filosofia, FFLCH-USP
Membro fundador do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE), UNICAMP
Arley Ramos Moreno
Doutor em Logica e Filosofia da Ciência, Université Aix-en-Provence, França
Professor Titular em Filosofia da Linguagem (Colaborador), UNICAMP
Membro do Centro de Lógica, Epistemologia e História de Ciência (CLE), UNICAMP
Arthur Ronald de Vallauris Buchsbaum
Doutor em Informática – Área de Lógica, PUCRio
Professor Adjunto de Lógica e Matemática Discreta, Departamento de Informática e Estatística, CC-UFSC
Bento Prado de Almeida Ferraz Neto
Doutor em Filosofia, USP
Professor Associado do Departamento de Filosofia, UFSCar
Cezar Mortari
Doutor em Filosofia – Área de Lógica, Eberhard-Karls-Universität, Alemanha
Professor Associado, Núcleo de Epistemologia e Lógica, e Departamento de Filosofia, UFSC
Presidente da Sociedade Brasileira de Lógica (SBL)
Giovanni Queiroz
Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, UNICAMP
Professor Associado, Departamento de Filosofia, UFPB
Gisele Dalva Secco
Doutora em Filosofia, PUC-Rio
Professora Adjunta, Departamento de Filosofia, UFRGS
Hércules de Araujo Feitosa
Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, UNICAMP
Professor Adjunto, Departamento de Matemática, FC-UNESP/Bauru
Iole de Freitas Druck
PhD em Lógica, Universidade de Montreal, Canadá
Professora Senior, Departamento de Matemática, IME-USP
Itala Maria Loffredo D’Ottaviano
Doutora em Matemática, UNICAMP
Professora Titular em Lógica e Fundamentos da Matemática (Colaborador), Departamento de Filosofia, IFCH-UNICAMP
Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Lógica (SBL)
Membro fundador e ex-Diretora do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE), UNICAMP
Ex-Pró-Reitora de Pós-Graduação da UNICAMP
João Vergílio Gallerani Cuter
Doutor em Filosofia, USP
Professor Livre Docente, Departamento de Filosofia, FFLCH-USP
Juliana Bueno-Soler
Doutora em Filosofia – Área de Lógica, UNICAMP
Professora Doutora da Faculdade de Tecnologia, FT-UNICAMP
Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Lógica (SBL)
Leandro Oliva Suguitani
Doutor em Filosofia – Área de Lógica, Unicamp
Professor Adjunto, Departamento de Matemática, UFBA
Luciano Vicente
Doutor em Filosofia, USP
Professor Adjunto de Lógica e Filosofia Analítica, Departamento de Filosofia, UFJF
Luiz Carlos Pinheiro Dias Pereira
Doutor em Filosofia, Universidade de Estocolmo, Suécia
Professor Titular, Departamento de Filosofia, PUC-Rio
Professor Adjunto, Departamento de Filosofia, UERJ
Membro do Centro de Lógica, Epistemologia e História de Ciência (CLE), UNICAMP
Marcelo Esteban Coniglio
Doutor em Matemática, USP
Professor Titular em Lógica e Fundamentos da Matemática, Departamento de Filosofia, IFCH-UNICAMP
Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Lógica (SBL)
Diretor do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE), UNICAMP
Marcos Antonio Silva Filho
Doutor em Filosofia, PUCRio
Professor Adjunto, Departamento de Filosofia, UFAL
Matias Francisco Dias
Doutor em Filosofia, USP
Professor Titular (Colaborador), Departamento de Filosofia, UFPB
Raul Ferreira Landin Filho
Doutor em Filosofia, Université Catholique de Louvain
Professor Titular Aposentado, Departamento de Filosofia, UFRJ
Renato Mendes Rocha
Doutor em Filosofia, UFSC
Professor Adjunto, Departamento de Filosofia, UFS
Ricardo Pereira Tassinari
Doutor em Filosofia – Área de Lógica, UNICAMP
Professor Livre-Docente em Lógica, Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência, Departamento de Filosofia, UNESP/Marília
Samuel Gomes da Silva
Doutor em Matemática – Área de Teoria de Conjuntos, USP
Professor Associado, Departamento de Matemática, UFBA
Tiago Falkenbach
Doutor em Filosofia, UFRGS
Professor Adjunto de Lógica, Departamento de Filosofia, UFPR
Valéria de Paiva
Doutora em Matemática, Universidade de Cambridge, Inglaterra
Honorary Research Fellow, School of Computer Science, Universidade de Birmingham, Inglaterra
Wagner de Campos Sanz
Doutor em Filosofia – Área de Lógica, UNICAMP
Professor Adjunto, Faculdade de Filosofia, UFG
Walter Alexandre Carnielli
Doutor em Matemática, UNICAMP
Professor Titular em Lógica e Fundamentos da Matemática, Departamento de Filosofia, IFCH-UNICAMP
Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Lógica (SBL)
Ex-Diretor do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE), UNICAMP