Por Pedro Breier
O que Jesus, Buda, a física quântica e a teoria da evolução proposta por Darwin têm em comum?
Todos chegaram, por mais estranho que possa parecer, à mesma conclusão: o amor é a resposta.
Comecemos do princípio.
A teoria mais aceita para o início do universo em que habitamos é a do Big Bang, segundo a qual toda a matéria e energia que existe estava, no começo dos tempos, super-hiper-mega-ultra concentrada em um minúsculo ponto.
Após uma espécie de explosão, o universo começou a expandir-se, o que continua fazendo até hoje, cerca de 13,8 bilhões de anos depois do fatídico momento.
Pois bem.
Podemos dizer que o grande ensinamento de Jesus Cristo é o bastante conhecido (mas nem tanto colocado em prática) “Amai ao próximo como a si mesmo”. Para além de fazer todo o sentido se o objetivo é vivermos em paz e harmonia uns com os outros, a dica de Jesus se coaduna, de forma incrível, com as descobertas da ciência ocidental.
Se o universo inteiro esteve todo grudadinho em algum momento, isso significa que ele, o universo, é, na verdade, uma coisa só. Não por acaso, os mestres espirituais ensinam que a percepção de que os outros seres e objetos estão separados de nós e também uns dos outros é uma mera ilusão oriunda da nossa mente.
Se todo o universo é uma coisa só, amar ao próximo como a si mesmo não é apenas um ato altruísta, mas também um gesto inteligente de amor próprio: o próximo somos nós mesmos.
Sidarta Gautama, o Buda mais famoso, disse em um de seus sutras (ensinamento resumido em poucas palavras): “Neste mundo o ódio jamais dissipou o ódio. Somente o amor dissipa o ódio. Essa é a lei, ancestral e inexaurível.”
Pois Charles Darwin e sua teoria da evolução dialogam com o ensinamento amoroso do Buda, vejam vocês.
Na dura competição das espécies pela sobrevivência, aparentemente a cooperação é uma vantagem evolutiva em relação ao egoísmo. E cooperação está tão próxima do amor quanto o egoísmo está próximo do ódio.
Cardumes. Manadas. Colmeias. Formigueiros. A civilização humana. Muitas espécies garantem sua sobrevivência cooperando entre si para formar sociedades extremamente complexas.
Dois pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, criaram, inclusive, um modelo matemático para mostrar como a cooperação surge e acaba prevalecendo sobre o egoísmo durante a evolução (aqui). A cooperação dissipa o egoísmo. O amor dissipa o ódio.
Se a cooperação – e, portanto, o amor – é uma vantagem evolutiva, há algo muito errado em vivermos sob as regras de um sistema chamado capitalismo. Aliás, faz algum sentido o capital, que deveria ser apenas um facilitador de trocas entre os seres humanos, ser o centro do sistema a ponto de nomeá-lo?
Apesar de termos, como espécie, dominado o mundo, o nosso nível de cooperação é ínfimo perto do potencial para cooperar que temos. Os valores martelados na cabeça das pessoas pelo sistema de mídia global são os inerentes ao sistema capitalista: individualismo e competição. O sucesso é para os fortes. O resto que se dane.
O resultado é trágico: milhões de miseráveis, um punhado de nababos e a destruição do planeta a passos largos.
Imaginem a bela sociedade que teríamos caso os valores da cooperação, da fraternidade e do amor fossem ensinados às crianças ao invés daqueles decorrentes do egoísmo.
Olhemos o longo prazo, contudo, e tenhamos esperança.
O círculo dos seres abrangidos pela consideração humana vem aumentando ao longo da história. Começou com os familiares mais próximos, na pré-história, expandiu-se para pequenas comunidades, depois para tribos, para cidades, estados, países.
Em 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos expandiu – apenas na teoria até o momento – os direitos humanos para todos os seres humanos. E não parou por aí. Cada vez mais alastra-se a percepção de que também os animais e a natureza têm o direito de existir em paz.
Parece inexorável, portanto, que acordemos, em algum momento, para a verdade fundamental do amor.
Para que isso se concretize, será necessária muita luta, por paradoxal que possa parecer.
Que em 2018 e em todos os anos daqui para a frente possamos ter força e garra para enfrentar as duras batalhas que virão.
Mas sem jamais perder de vista o que une a espiritualidade e a ciência. O que nos move. O amor.