Ontem, o blog do Fausto Macedo, que se tornou, há tempos, um dos órgãos oficiais da Lava Jato, divulgou que a operação está investigando o filme “Lula, o filho do Brasil”.
Pela matéria, pode-se concluir que, como sempre, não há provas de nada. Em especial, não há relação com o ex-presidente. O máximo que poderiam encontrar é que o produtor do filme, como qualquer produtor, andou correndo atrás de dinheiro para financiá-lo.
Mas isso é um prato cheio para os métodos da Lava Jato, que já andou condenando gente por muito menos.
Na falta de provas, a Lava Jato lança mão de sua velha tática: vazamento de emails que fazem referência ao filme e combinação de títulos com a imprensa amiga.
Não interessa se não há qualquer ilegalidade nos emails vazados. A divulgação, em si, os criminaliza.
Agora já são vários posts no Fausto Macedo com o mesmo tema, que provavelmente já chegou em outros órgãos da mídia lavajateira.
Imaginem se fossem investigar o filme queridinho da Lava Jato, o chapa-branquíssimo A Lei é para Todos, onde prédios da Polícia Federal foram cedidos ilegalmente à produção, e presos foram exibidos aos atores como se fossem animais de circo…
A tática do “lawfare” nunca se caracterizou pela discrição. Ela segue um calendário, como sempre. Tem julgamento de Lula no próximo dia 24? Então é necessário que o nome de Lula se mantenha “quente” no noticiário, ao lado de “reportagens” que lancem algum tipo de suspeita.
A “investigação” é feita na rua, na mídia, através do vazamento sistemático de informações que possam comprometer o alvo.
Com a quebra de sigilo das maiores empresas do país, a Lava Jato ganhou um banco de dados gigantesco que pode usar para brincar de polícia-ladrão com qualquer indivíduo ou empresa que, em algum momento, foi citado num email, num telefonema, que recebeu ou fez um pagamento bancário.
Como ninguém tem coragem de conter a Lava Jato, ela avança.
Gilmar Mendes, que se tornou o mais poderoso ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), após deixar claro que é um tucano neoliberal, que defende o PSDB e que é capaz de tudo para tirar o PT e Lula do jogo, quando resolveu enfrentar alguns excessos judiciais da Lava Jato, virou imediatamente alvo de sua fúria.
A Lava Jato tem métodos já conhecidos: plantar reportagens em alguns de seus braços na imprensa: solta um email privado no blog do Fausto Macedo, manda um áudio para a Veja, guarda alguma coisa para o Fantástico de domingo…
Os próprios procuradores usam as redes sociais para reforçar o serviço. Carlos Fernando dos Santos Lima ataca de Facebook. DD ataca de Facebook e Twitter.
No final de semana, a mulher de Moro vem a público pedir aos brasileiros que “confiem nas instituições” e não votem em réus, ignorando solenemente não apenas a presunção de inocência mas agredindo, sobretudo, a máxima de que a principal instituição é o voto.
Eu posso votar num candidato que é perseguido pelas “instituições”, por exemplo, porque eu acho que as ideias que ele representa são muito mais importantes que elas, e inclusive quero que ele seja meu representante político na luta contra os vícios autoritários dessas “instituições”.
O importante é atacar. Pruridos democráticos? Presunção de inocência? Respeito à dignidade? Isso é para os fracos. A Lava Jato tornou-se uma espécie de Cersei, a rainha má do Game of Thrones. Vale tudo em nome do interesse da “família”, até mesmo sacrificar alguns de seus membros, se for necessário.
Enquanto isso, no Rio, Sergio Cabral é denunciado pela 20ª vez.
A situação dramática do estado do Rio, destruído pela Lava Jato, produz muitos constrangimentos de “narrativa” para a turma de Sergio Moro, Bretas e família Marinho.
E se a população perceber que a culpa não é de Cabral, mas sim da Lava Jato, que destruiu, virtualmente, todos os setores industriais importantes do estado?
Isso seria muito perigoso para o lavajatismo.
O que fazer?
Não se pode culpar o Lula, porque o ex-presidente só fez ajudar o Rio ao longo de seu governo, durante o qual o estado nunca recebeu tanto investimento.
Ora, então que se jogue a culpa em Sergio Cabral!
Mas… Sergio Cabral já foi condenado!
Não tem problema, condene-se de novo!
Mas ele já foi condenado a 100 anos!
Então se condene por 200 anos!
Já o foi?
300 anos então!
Já tem 19ª denúncias contra ele?
Que se abra mais uma!
A atmosfera fascista, aos poucos, tomou conta de toda a sociedade brasileira, mesmo do campo dito progressista. Os epítetos de “citado”, “delatado”, “investigado”, são usados como sinônimo de condenação. Ah, no governo Temer todos são “investigados”. Tal maneira de pensar condiz com o atual regime de exceção, que empoderou a meganhagem. O simples fato de abrir uma investigação contra alguém, um ato puramente discricionário de uma autoridade, torna-se uma poderosa arma de assassinato de reputação.
Outra arma muito popular entre a meganhagem, e que já ganhou a opinião pública, é a “delação”, onde o alvo pode simplesmente ser “citado”, o que é a acusação mais idiota e pueril que se pode fazer a alguém.
Entretanto, a pior consequência do lavajatismo sem vergonha vigente no país é a desmoralização da própria condenação judicial. A partir do momento em que o ministério público denuncia e o judiciário condena, sem base em provas, então a gente, se quiser se manter realmente leal ao princípio de presunção de inocência, tem que radicalizá-lo: ninguém é culpado até que EU estude a fundo o seu processo, leia, com MEUS próprios olhos, os seus autos, ouça a opinião de especialistas de confiança, e tire MINHAS próprias conclusões.
Ironicamente, esse neoliberalismo fascistóide que tomou conta do país nos força a uma espécie de “individualismo institucional” radical: as únicas instituições em que podemos confiar é a nossa própria inteligência e bom senso.
Editoriais furibundos, denúncias jornalísticas devastadoras, condenações judiciais com 400 páginas? Isso não vale nada se não passar pelo crivo da inteligência antigolpista.
Em se tratando da classe política, o brasileiro tem de prestar atenção, em primeiro lugar, no compromisso do representante com a população, com o interesse nacional e com a resistência ao golpe.
Mas tem algumas coisas mudando. Hoje, por exemplo, li que um deputado do PSB de Pernambuco, um tal de Danilo Cabral, deve ingressar, em nome de seu partido, com ação popular contra a Medida Provisória 814, que autoriza a privatização do sistema Eletrobras.
O governo Temer, como todos sabem, quer vender todo o patrimônio público nacional, no mais curto tempo possível, porque foi para isso que ele foi colocado lá, e para isso convergem todas as energias do golpe. Todas as ações da Lava Jato e da Globo convergem para esse objetivo.
O interessante, neste caso, é que o deputado Danilo Cabral votou em favor do impeachment. Nem vou dizer, para não parecer ingênuo, que ele agora entende que cometeu um terrível erro. Não sei se é isso. O que me parece inquestionável, porém, é que algumas forças que apoiaram o golpe hoje estão em silêncio ou começam a se voltar contra ele.
Uma reflexão que vemos todos os dias nas redes, por exemplo, é a seguinte: onde estão as panelas? Onde está a indignação contra a corrupção? Cadê toda aquela histeria que vimos em 2015?
Este é um silêncio que nos ensina muita coisa: 1) que aquelas manifestações foram orquestradas e manipuladas pela mídia; 2) que a mídia hoje está satisfeita com o atual estado de coisas; 3) que Jesse Souza tem razão: o brasileiro foi feito de otário e o seu silêncio, hoje, também é de constrangimento.
As novas manchetes da Lava Jato, de hoje e sempre, servem para que a população não dê bola para a nomeação da filha de Roberto Jefferson, a deputada Cristiane Brasil, uma pessoa que nunca teve nenhuma relação com a causa trabalhista, para o ministério do Trabalho.
Para que se importar como o ministério do trabalho, se a Lava Jato segue “mudando o Brasil”, como vem apregoando Marcelo Bretas, o aprendiz de Moro no Rio, não é?
Tal nomeação, aliás, é um autêntico ato de justiça poética golpista: afinal, não foi Jefferson quem, com suas mentiras à Folha de São Paulo, deu início à toda uma sequência de conspirações midiatico-judiciais, das quais resultaram o nosso pujante e vitorioso regime de exceção?
O internauta poderá acusar o blogueiro de estar sendo paranoico.
Sim, pode ser.
Como sói dizer, porém, o embaixador Celso Amorim, o fato de eu ser paranoico, não quer dizer que não esteja sendo perseguido.
Por fim, temos que respirar aliviados. A Globo nos informa que devemos ficar muito satisfeitos com os 10 bilhões que a Petrobrás vai pagar aos americanos, a título de “indenização”, por causa dos efeitos negativos da Lava Jato sobre as finanças da empresa.
Poderia ser muito mais! O “mercado” esperava R$ 20, R$ 30, R$ 50 bilhões!
Os quase R$ 400 milhões que a Petrobras pagou para americana Cleary, Gottlibeb, Steen & Hamilton, escritório encarregado da defesa da estatal, no processo que agora se encerra com o pagamento de R$ 10 bilhões aos pobres americanos, foram muito bem gastos! A Cleary ganhou seu dinheiro, os advogados da Pomerantz vão embolsar, só eles, uns R$ 2 bilhões, e o justo e bravo povo americano poderá dormir tranquilo!
Segundo o UOL, 1 milhão de aposentados serão beneficiados com a multa da Petrobrás!
Aposentados deste país tão pobre e tão sofrido, os Estados Unidos da América, vítima de golpes e maquinações da classe política brasileira, merecem isso e muito mais!
O fato de que a distribuição desses recursos provavelmente não será igualitária, com 99% recebendo alguns centavos e 1% ficando com quase tudo, não vem ao caso: são 1 milhão de aposentados! Viva Sergio Moro!
A Lava Jato poderá ganhar mais um importante prêmio nos Estados Unidos, e o Wilson Center poderá organizar outra série de seminários, com a presença dos nossos viajantes ministros do STF, em que voltará a tratar a democracia e o judiciário do Brasil como “modelos” para o mundo!